Candidatos querem abrir um ciclo de crescimento sustentado, sem o liga-desliga da SelicDo governo não virá grande coisa: com orçamento de R$ 700 bi, só investiu R$ 17 bi este ano até agostoA grande arte para a administração da economia nos meses à frente será um continuo esforço de paciência e dosagem. Mais que isso, em meio às balas perdidas do processo eleitoral e Lula distraído pela campanha da ministra Dilma Rousseff, só em caso de emergência.
Fora o que está em tramitação terminal no Congresso, como o novo regime de exploração de petróleo e a lei orçamentária de 2010, não há espaço para grandes mudanças na economia, cuja trajetória está contratada. Ela vai bombar, que é o que Lula e aliados desejam.
Os problemas virão como consequência da qualidade do crescimento, movido mais pelo consumo, sem nenhuma chance de ser frustrado mais para frente, que pelo investimento em recuperação, criando-se, por consequência, uma poderosa tração para a demanda agregada.
É esse o risco, conforme já exposto nas colunas de sexta-feira e sábado: uma indigestão de demanda, sem adequação da oferta, o que aumentará a dependência do investimento estrangeiro para fechar os déficits em contas externas. E... É, outro arrocho dos juros pelo Banco Central, que ninguém mais agüenta, mas acabará engolindo – como Lula engole desde 2003 -, se não se cogitar algo diferente.
A discussão nos bastidores, pelas áreas técnicas das campanhas presidenciais, está focada nestes temas: o financiamento de longo prazo dos investimentos privados e públicos, a redução do custo do dinheiro, o envolvimento da banca privada e do mercado de capitais no processo de desenvolvimento, coisas assim, complexas.
Já surge o entendimento de que tais assuntos permeiam a execução fiscal do orçamento federal, a gestão da dívida pública, a relação entre o BC e a banca no circuito das operações compromissadas. É a maneira de o Tesouro enfiar mais papéis no sistema financeiro sem formalmente validar prazos menores, e o BC apertar o torniquete do crédito, retendo no overnight parte da liquidez da banca.
A questão tributária percorre horizontalmente todas as discussões - assim como a resolução dos déficits previdenciários.
Esses temas seriam ótimos para a campanha eleitoral, mas cadê a coragem? Nada é traduzível em linguagem simples. No mais das vezes fica a sugestão, ainda que equivocada, de que se quer é tungar a sociedade.
Provável é que os candidatos se acusem, mutuamente, de pensarem em fazer tais coisas - e depois, eleito, faça exatamente o que condenou no outro. Não foi diferente com Lula, FHC, Collor.
Aflito? Não deveriaPreocupados? Não deveriam. Essa discussão tem rumo e remete para a maneira de o país ingressar num ciclo de crescimento sustentado, sem o anda-para do eletrocardiograma da Selic, alternando consumo turbinada com desaceleração da economia. Isso para depois de 2010.
Ao dar preferência por um ou outro candidato o eleitor estará, na prática, elegendo o projeto de cada um para que isso aconteça. Não se sabe o que será. Nenhum tem muita clareza sobre o que fazer.
Mas o enunciado da “nova política econômica” parece consensual: o crescimento econômico liderado pelos investimentos, com o consumo correndo pouco atrás, não à frente, como agora, maior disciplina e eficiência das operações do Estado, emprego para a multidão sob o teto dos bolsa isso, bolsa aquilo, e forte atuação internacional.
Mercadismo em baixaA hipertrofia da financeirização da economia, que nada mais é que a resultante dos excessos fiscais do Estado não sustentados apenas pela rotina de uma economia saudável, com produção, emprego, renda e impostos que custeiem a máquina, as políticas compensatórias aos mais pobres e a expansão da infraestrutura, não está nos planos de ninguém.
Mas isso não depende de “vontade política”, como dizia o PT quando era estilingue, e sim de um plano convincente ao capital privado, às forças sociais e ao quadro partidário no Congresso.
Campanha sem crisePor agora, apesar das apostas semanais do boletim Focus, que traz a média das impressões dos analistas do mercado financeiro, não se espera nada impressionista até passar as eleições, em outubro.
Nem muitos juros, de preferência nenhum aumento pelo BC até onde der. Nem muita expansão do consumo, que o governo não deve conter pelo lado fiscal, mas pode esfriar o crédito bancário. Nem grandes oscilações cambiais, e por isso voltou o IOF sobre os capitais de fora, e mais virá se for preciso. Será o caminho do meio.
Pelo jeito da inflação, da balança comercial, da indústria e seus investimentos e do financiamento fiscal, não há mau tempo adiante. Melhor assim: a campanha eleitoral sem crise econômica.
Cartola sem coelhoA disposição e o apoio às mudanças deverão surgir à medida que a economia evolua em 2010 e franqueie as suas sequelas. O economista Fernando Montero simulou um cenário. O governo projeta crescimento de 5% para o PIB e 10% da taxa de investimentos.
Isso só dará para elevar os investimentos sobre o PIB de estimados 16,5%, este ano, para 17,3% em 2010, o que é pouco. Para voltar ao nível de 19% de 2008 - contendo inflação, déficits externos, e criando empregos -, precisariam crescer mais de 20%.
Do governo não se espera grande coisa: com orçamento acima de R$ 700 bilhões, só investiu R$ 17 bilhões este ano até agosto. O problema por si insinua a solução.
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