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Em 1960 o falecido neurocientista Paul Bach-y-Rita formulou a hipótese de que "vemos com o cérebro, não com os olhos". Agora, um dispositivo não invasivo segue essa linha de pensamento e permite restaurar parcialmente a visão de deficientes visuais utilizando nervos da superfície da língua para enviar sinais ao cérebro. O aparelho, demonstrado pela primeira vez em 2003 pelos neurocientistas da empresa Wicab, cofundada por Bach-y-Ritae sediada em Middleton, Wisconsin, finalmente chegará ao mercado no fim do ano. Chamado BrainPort,tenta substituir os2 milhões de nervos ópticos que transmitem sinais visuais da retina para o córtex visual primário do cérebro. Dados visuais são captados por uma pequena câmera de vídeo digital montada no centro de óculos escuros usados pelo paciente; dela seguem para um dispositivo manual no qual está localizado um controle de zoom, brilho e contraste, e uma unidade central de processamento (CPU) que converte os sinais digitais em pulsos elétricos. Da CPU os sinais são enviados para a língua através de um DIO (dispositivo intraoral) semelhante a um pirulito - uma série de eletrodos alinhados em cerca de 9 cm2 - colocado diretamente na língua, órgão aparentemente ideal para perceber corrente elétrica.Além de a saliva ser um bom condutor elétrico, as fibras nervosas da língua são mais numerosas e estão mais próximas da superfície que de outros órgãos do tato. A superfície dos dedos, por exemplo, são recobertas por uma camada de células mortas chamadas stratum corneum.Cada conjunto de pixels corresponde a um eletrodo no DIO. Pixels brancos produzem um pulso elétrico forte, e pixels pretos não emitem sinal. Os nervos da superfície da língua recebem os sinais elétricos, cuja sensação para o usuário é semelhante às bolhas do champanhe ou aos doces de estalo. Depois de usar o aparelho por 15 minutos, em geral pessoas cegas começam a interpretar informações espaciais por meio do BrainPort, informa William Seiple, diretor de pesquisa da organização sem fins lucrativos Lighthouse International para pesquisa e saúde da visão. Os eletrodos se relacionam espacialmente com os pixels, de forma que, se a câmera detectar luminárias no meio de um corredor escuro, ocorrerão estímulos elétricos ao longo do centro da língua. "Passa a ser uma questão de aprendizado, não muito diferente de aprender a andar de bicicleta", observa a neurocientista da Wicab, Aimee Arnoldussen. Segundo ela, o processo é semelhante ao de um bebê aprendendo a enxergar. "De início as coisas parecem estranhas, mas com o tempo tornam- se familiares. "Seiple está fazendo testes com o BrainPort em quatro pacientes, uma vez por semana. Ele observa como aprenderam rapidamente a encontrar entradas e botões de elevado!; ler letras e números e pegar copos e garfos na mesa de jantar sem tatear. "No começo fiquei impressionado com o que o aparelho podia fazer", comenta. "Um paciente começou a chorar quando enxergou a primeira letra." Os pesquisadores ainda precisam descobrir se a informação elétrica é transferida para o córtex visual do cérebro, para onde a informação visual é enviada normalmente, ou para o córtex somatossensorial, onde as informações do paladar são processadas. Para poder monitorar o progresso da visão artificial, a oftalmologista Amy Nau, do Núcleo de Olhos do Centro Médico da University of Pittsburgh, fará mais testes com o Brain-Port e outros dispositivos como crups implantados na retina e no córtex. "Como não podemos simplesmente apresentar uma escala optométrica, devemos dar um passo atrás e descrever as instruções rudimentares que essas pessoas estão recebendo" , esclarece. "Muitas pessoas que ficaram cegas estão desesperadas para recuperar a visão" , ela observa. De acordo com o Instituto Nacional de. Saúde dos Estados Unidos, pelo menos 1 milhão de americanos com mais de 40 anos são oficialmente cegos,com visão 20/200 ou pior, ou têm um campo de visão inferior a 20°. Aperda de visão em adultos custa ao país cerca de US$ 51,4 bilhões por ano. Embora técnicas de substituição sensorial não possam restaurar completamente a visão, fornecem informação suficiente para a orientação espacial. A Wicab pretende submeter o BrainPort para aprovação pela Agência de Controle de Alimentos e Medicamentos e lançá-lo no fim do ano por cerca de U$10 mil a unidade.MANDY KENDRICK - SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL – Novembro 2009