http://www.youtube.com/v/mmZLlMo4qQw&hl=pt_BR&fs=1&rel=0&border=1Cena da novela causa indignaçãoFonteA cena da novela Viver a Vida em que o personagem de Lília Cabral, Tereza, humilha Helena, vivida por Taís Araújo, indignou várias pessoas . Via e-mail ou em sites especializados, lideranças do movimento negro estão expondo seu repúdio às imagens exatamente na semana em que se comemora o Dia Nacional da Consciência negra.
Não poderia ser diferente, afinal Helena, negra, se ajoelha, chorosa, diante de uma enfurecida Tereza, branca, que lhe aplica um tapa no rosto. A moça recebe o tapa e não reage. Um assunto espinhoso e uma cena forte. O assunto, com certeza, vai render.
Violência racista e sexista na novela “Viver a Vida” afronta Direitos HumanosFonteNão é novidade que a mídia televisiva brasileira dedica pouco ou nenhum espaço às reivindicações de negros/as e mulheres. Seus problemas não são retratados nos telejornais – a menos que seja de forma distorcida – e os estereótipos usados em programas humorísticos e novelas contribuem para degradar sua imagem. Ainda assim, alguns episódios não deixam de ser revoltantes e causar indignação pelo desrespeito aos Direitos Humanos destes grupos.
A novela “Viver a Vida” fere a dignidade humana de negros/as e mulheres. Em sua lógica patriarcal, machista e racista, Helena, a primeira protagonista negra das novelas brasileiras, de origem humilde e que teve a ousadia de decidir livremente os rumos de sua vida, é transformada em criminosa porque não se calou diante das ofensas de sua colega branca, rica, que, desacostumada a ter seus desejos negados, sente-se no direito de insultá-la publicamente. Helena é retratada como responsável por todo o sofrimento existente ao seu redor, ainda que ele não seja causado por algo que ela possa controlar.
Por ter interrompido uma gestação para se manter no mercado de trabalho no passado, Helena sente-se “naturalmente” culpada e arrependida, e é humilhada e demonizada por personagens que sequer estiveram envolvidos com o fato. E, ao pedir perdão de joelhos por um acidente que não provocou, é agredida física e verbalmente pela mulher branca e rica, uma senhora escravocrata. Como nas agressões contra a aluna da UNIBAN Geisy, a violência é a ferramenta usada para lembrá-la do lugar de submissão e inferioridade que as estruturas de poder vigentes relegam a ela.
O reforço de preconceitos contra as mulheres e negros/as nas novelas da Rede Globo, infelizmente, não causa mais surpresa. A imagem de mulher maternal, consumista, passiva e objetificada, bem como a do/a negro/a criminoso/a, lascivo/a e incapaz, arquitetada de forma a fazer opressões sociais parecerem “inclinações naturais”, permeiam toda a sua grade de programas. Violência é o castigo de quem ousa transgredi-las.
Novembro reúne algumas datas de mobilização de extrema importância para grupos oprimidos em nossa sociedade. No Brasil, o dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro e o dia 25 é o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher. A veiculação da cena em que Helena é agredida poucos dias antes destas datas e a intensidade da violência projetada mostram o conservadorismo e o descaso da mídia televisiva para com o sofrimento de milhares de brasileiros/as, que concentram nestes dias seu grito coletivo contra as injustiças sociais a que estão submetidos/as.
Helena – personagem da novela Viver a Vida e a cultura da submissão(
Wander Veroni)
FontePolêmico, o autor Manoel Carlos inovou ao escalar atriz Taís Araújo para protagonizar uma Helena negra, modelo, famosa e rica que vive no mundo da moda, na novela Viver a Vida, da TV Globo.
Mas, a crítica à trama feita pela mídia especializada é pontual: a novela conseguiu a façanha de criar uma “barriga” nos primeiros dois meses de estréia, enrolando na apresentação dos personagens e, principalmente, da história.
A Helena criada por Maneco não levanta a bandeira da cultura negra e, por isso, foi criticada por interpretar “uma branca”. Esse tipo de afirmação me dá "nó na garganta" e só reforça o preconceito velado que existe em nossa sociedade.
Afinal, os negros vivem, estudam, trabalham, namoram e se relacionamento da mesma forma que um branco, índio, amarelo, etc. Todos são seres humanos que vivem em sociedade.
Inicialmente, circulou na mídia que a Helena seria médica. Mas, logo depois foi confirmado que ela seria uma modelo. Assim que a trama começou a personagem não agradou.
Não pelo fato de ser uma protagonista negra, mas sim por ela ser chata, certinha, dá lição de moral em todo mundo, não ter conflito e, aparentemente, viver um "mar de rosa" no relacionamento amoroso e na vida profissional. Um bom personagem precisa ter altivez e, principalmente, de um conflito próprio para resolver. Helena só se envolve no conflito dos outros.
Confesso que era fã de Manoel Carlos por ser um dos poucos autores que consegue escrever bem sobre os acontecimentos do cotidiano e que possui sensibilidade única na construção dos diálogos dos personagens. Estou com nojo da cena de humilhação que vi no capítulo de ontem (17/11) na novela e peguei birra! Pode ser que volte a assisti-la, quem sabe.
Assim como outros tantos telespectadores, esperava uma Helena forte, determinada e que venceu tabus e preconceitos por conseguir fama e sucesso profissional sendo negra. Não se trata de defender a bandeira da negritude e do racismo velado na sociedade, mas de interagir com os outros personagens da trama com personalidade.
Ser negro não é só uma questão de levantar a bandeira do racismo, mas de mostrar orgulho de uma etnia que ajudou a construir esse país (e porque não dizer o mundo) com a sua cultura, culinária, religião e música que influenciou toda a humanidade. Infelizmente, a raça negra vive a sombra da escravidão e a submissão de um povo que esteve à margem da sociedade durante séculos.
Aos poucos, o negro consegue se ver na mídia brasileira – o que já é uma grande vitória. Por exemplo, produtos cosméticos já são feitos para esse grupo (do qual me incluo) que também querem se sentir parte da sociedade. Não se trata de discriminação ou de presunção, mas o mundo é diverso e existem vários padrões de beleza.
No capítulo da última terça-feira (17/11) da novela Viver a Vida, exibida na TV Globo, foi marcada por uma profunda humilhação, submissão e desvalorização do negro, afetando diretamente o orgulho desta etnia. Boa parte dos veículos de comunicação noticiou esse capítulo como a "Tereza vinga o sofrimento da filha", passando justamente essa ideia de culpa - o que é rídiculo.
Durante uma determinada cena, a personagem Helena (Taís Araújo) pede perdão à Tereza (Lilian Cabral) por causa do acidente de Luciana (Aline Moraes). Apesar do contexto “emocional” que uma novela normalmente costuma explorar, Helena assumiu uma culpa que não era sua. Querendo ou não, acidentes acontecem. Não há como fugir disso: faz parte da vida.
Claro, é normal ter compaixão por uma pessoa que acabou de ficar tetraplégica, mesmo que ela seja mimada e arrogante, mas culpa: isso não. Quando alguém assume uma culpa é porque ele se responsabiliza por algo – e não foi isso que aconteceu.
Qual é a culpa de Helena? Ela sabotou o carro? Armou um plano para deixar a filha do marido acidentada? Helena colocou Luciana no ônibus de propósito sabendo que iria acontecer o acidente? Não. Fico me perguntando se o contexto fosse outro: se a vítima fosse a personagem de Taís Araujo, será que a Luciana teria tanto remorso?
É normal que os pais fiquem ao lado de um filho, ainda mais quando ele sofre um acidente. Mas o que está acontecendo com a Helena é vergonhoso e, no mínimo, humilhante. Humilhação não só à personagem, mas a etnia negra que se vê mais uma vez submissa na TV.
Esse artigo não tem a presunção de discutir se houve ou não racismo em Viver a Vida. Não é isso. É apenas questionar essa submissão e sentimento de culpa que caiu sobre a personagem de Taís Araújo.
Seria a hora ideal para o Maneco colocar uma Helena firme, dona de si e determinada, assim como as Helenas que foram interpretadas por Vera Ficher e e Christiane Torloni. A Helena virou a "Geni" de Viver a Vida, assim como a música de Chico Buarque. Todo mundo agora quer jogar uma pedra. Assim não dá!
Apesar do tom de humor, o Casseta e Planeta foi sábio ao parodiar a novela e retratar de forma bem humorada que a Helena não é culpada por tudo de ruim que acontece no mundo. Todos somos. Afinal, somos responsáveis por nossas escolhas.