Autor Tópico: Brasil, Uma Nação À Procura De Um Destino  (Lida 559 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

  • Nível 37
  • *
  • Mensagens: 3.502
  • Sexo: Masculino
    • Lattes
Brasil, Uma Nação À Procura De Um Destino
« Online: 16 de Dezembro de 2009, 23:08:57 »
Brasil, Uma Nação À Procura De Um Destino
December 12th, 2009


O Brasil na capa da Convenience Store News!

Estava eu fazendo uma visita à loja de conveniência na esquina da minha casa quando notei entre as revistas à venda uma com o Cristo Redentor e uma bandeira do Brasil na capa. Bem, eu tive que ir verificar do que se tratava, e era uma inesperada revista chamada “Convenience Store News” com um artigo de capa sobre… o Brasil!

A manchete era sobre como a economia brasileira está com todas as cartas na mão para passar por um período de grande crescimento e finalmente transicionar de economia emergente a economia de verdade no cenário mundial. Porém, logo complementa que isso pode ser impedido por uma situação de corrupção, socialismo, impostos e políticas ambientais fora de controle. Eu perguntei ao gerente da loja se a revista estava à venda (afinal nem sequer havia preço na capa) e ele disse que a revista na verdade era dele e estava junto com as outras por engano, mas que ele já havia lido e que eu podia ficar com ela se quisesse. Eu fiquei. Examinar o artigo, de autoria do editor da revista, que aproveitou uma visita ao Brasil para escrever sobre a situação do mercado nacional para lojas de conveniência e brevemente sobre o país em geral, acabou me levando a certas reflexões. Uma versão pode ser encontrada aqui.

Vejam o que o editor da revista encontrou para gostar sobre o Brasil:



Pois então, o mais importante sobre o Brasil, quinta maior área do mundo, quinta maior população do mundo, localização de seis entre as cem maiores metrópoles do mundo é… praia, guaraná, e caipirinha. Sério. Brasil, eterno país do futuro, impávido colosso deitado eternamente em berço esplêndido, é a hora de mostrar tua cara. Ou será que essa *é* a nossa cara? A noção que o americano médio tem do Brasil é um montão de bundas cercadas de bandidos por todos os lados. Não é surpreendente. Aqui em New Jersey, metade dos alunos de pós-gradução do departamento de ciência da computação de todas as melhores universidades de pesquisa é… indiano ou chinês. Mesmo os chineses que não são suficientemente, digamos, sofisticados para ingressar num programa de pós-graduação vêm pros EUA e aqui abrem seus próprios negócios, como as estereotípicas lavanderias. Mas e os brasileiros? Cadê? Bem, majoritariamente servindo de… peões. Ou empregadas domésticas. Ou nos casos mais bem sucedidos garotas de programa. Ou meia dúzia de modelos famosas. Como isso foi acontecer?

O Brasil está muito timidamente representado nos programas de pós-graduação americanos, ao contrário das outras nações emergentes, que estão maciçamente, abundantemente, ostensivamente presentes. Em parte isso é por causa das políticas alucinadas e xenofóbicas do governo federal brasileiro que tomado de nacionalismo ufanista delirante crescentemente reza pela cartilha de que estudar numa universidade americana é uma frescura desnecessária dada a existência de cursos “equivalentes” em território nacional. Encaram educação superior como uma “commodity” comparável a minério de ferro ou soja; tudo igual e intercambiável. E quem mesmo assim teimosa e antipatrioticamente insiste em consumir o produto estrangeiro deve ser miopicamente forçado a todo custo a depois voltar para unir-se aos doutores que fazem concurso para gari. Agora me diga : quais países conseguiram formar uma elite intelectual e podem agora exibir universidades de pesquisa reconhecidas entre as melhores do mundo… e qual país continua patinando na irrelevância acadêmica?

O que nos leva à questão de que muito mais relevante que a política do ministério da educação é o fato de que o intelectual sério brasileiro, do qual desesperadamente precisamos, não tem fora de posições criadas artificialmente lugar em nossa sociedade, e muitas vezes encontra no exílio a única forma de obter reconhecimento do seu valor. Não que exista qualquer risco de um brasileiro ser estereotipicamente identificado como intelectual. Não, não. Carnaval, futebol, jiu-jitsu, capoeira, são essas as produções culturais brasileiras reconhecidas no exterior. Ah, claro, e bossa-nova, mas dessa é preciso explicar aos americanos que os próprios brasileiros há muito não gostam mais. Infelizmente não é uma caricatura; é uma percepção perfeitamente legítima do que de fato gera interesse. Pensar não está entre as atividades mais prestigiadas na terra em que se plantando tudo dá. A noção mais ou menos dominante é de que pensar não serve para nada. É para isso que se quer que alguém pensante volte? Agora, como é que isso foi acontecer?

A questão é que num ambiente em que as regras mudam o tempo todo de forma imprevisível e ininteligível, em que estratégias de longo prazo são impossíveis, em que recompensas e punições artificias importam infinitamente mais do que produtividade, eficiência ou organização, em que a atividade empresarial é tratada pela lei como excentricidade de rico, em que um diploma de engenheiro serve para passar em concursos e não para entender como a realidade funciona… bem, num contexto como esse então realmente pensar não serve para nada. Não adianta entender qual a forma mais segura, barata, rápida e eficiente de construir uma ponte se o governo for dizer que daquele jeito não pode e de qualquer forma quem vai construir é o meu sobrinho.

Os burocratas olham para as deficiências da produção acadêmica brasileira e após décadas continuam apegados a estratégias que a essa altura já sabemos empiricamente que não funcionam. Um dos erros mais essenciais é tentar consertar a situação olhando apenas para o próprio sistema acadêmico. Então se acha que tudo será resolvido dando mais bolsas, construindo mais universidades, buscando maximizar o número de publicações, aumentando o número de pessoas com diplomas de pós-graduação. Só que tudo isso só vai criar doutores varrendo a rua e dirigindo táxis se não houver quem os empregue fora da academia.

Agora, é claro que precisamos de doutores para ter universidades de pesquisa. Mas se o único emprego possível para doutores for dar aula numa universidade, uma parte substancial das pessoas qualificadas para serem doutores – precisamente as mais empreendedoras – não vão querer enterrar sua vida nisso. E além disso todo esse “conhecimento” acadêmico não estará sendo usado para nada – o que só tornará ainda mais frustrante a carreira acadêmica para aqueles que realmente têm vocação para isso. É preciso ver que as melhores univesidades de pesquisa do mundo existem num contexto, e não à margem da sociedade em que se inserem. Elas estão cercadas de empresas de alta tecnologia que empregam engenheiros – e mestres, e doutores  – não para ficarem dando aulas mas para de fato usarem seus conhecimentos. É esse o ambiente que atrai as melhores mentes do mundo, aquelas que querem de fato desvendar os mistérios do universo e não apenas produzirem artigos para impressionar uma agência de financiamento do governo. O próprio título de mestre nos EUA é em geral considerado profissionalizante – você o obtém para voltar ao mercado, não para ficar na academia. É no Brasil que existe a noção de que a única função de obter um título de mestre é basicamente seguir carreira acadêmica. Quem quer isso nos EUA vai fazer logo um doutorado. As ultra-melhores universidade de pesquisa nos EUA muitas vezes sequer oferecem programas de mestrado. Agora, que mercado de trabalho existe no Brasil para pessoas com mestrado em física, ou química, ou matemática? Por que alguém faria isso no Brasil senão para passar o resto da vida… repetindo para outros o que aprendeu, ao invés de USAR este conhecimento?

Ao prosseguirmos achando que vamos resolver tudo formando ainda mais e mais doutores sem eles terem qualquer perspectiva profissional real, conseguimos não só não ter mais empresas de alta tecnologia, como no processo ajudamos a escangalhar também o sistema acadêmico. Mas o que fazer então? Bem, como em geral, a primeira e mais importante providência que o governo pode tomar é a de NÃO ATRAPALHAR, e não se meter. Infelizmente esta é uma noção quase alienígena ao governo brasileiro.

O governo brasileiro precisa deixar as pessoas em paz para se associarem livremente para fundar empresas. Precisa parar de regular tudo e de criar encargos que incidem desde o primeiro momento quer haja lucro ou não. Quantas pessoas teriam um blog se fosse preciso ter uma licença do governo, se fosse preciso seguir um manual de regras bizantino sobre o conteúdo, e fosse preciso fazer relatórios mensais e ter um diploma de blogueiro? Aliás, o governo brasileiro precisa também se libertar do ranço corporativista suicida de querer exigir diplomas para o exercício das mais absurdas profissões. E precisa tornar claras e simples as obrigações fiscais das empresas. Etc, etc, etc…

O que nos leva de volta ao artigo original que encontrei na revista na loja de conveniência. Vejamos o que o editor da revista encontrou para *não* gostar sobre o Brasil:



Realmente, tem coisas que a gente só percebe  plenamente o quão opressivas e absurdas são quando elas são removidas. Os outros pontos listados são muito relevantes e até haveria o que dizer sobre eles, mas  o que me bateu mais forte foi a situação de segurança no Brasil. Eu me lembro quando me mudei do Rio para Nova York e meu primeiro e mais intenso sentimento ao andar nas ruas foi de respirar aliviado e diria eu, até mesmo surpreso pelo grau em que não era mais necessário ficar o tempo todo olhando por cima do ombro para ver se tinha alguém vindo me roubar. Pessoas usam laptop sentadas no parque, prédios não são cercados de grades, é possível andar na rua às 3 da manhã. A situação de criminalidade e de generalizada exceção à normalidade institucional que prevalece no Rio de Janeiro e em várias outras grandes cidades brasileiras é completamente anômala. Mais uma vez, que incentivo existe para pensar e arriscar empreender se servir de avião para distribuir cocaína é muito mais simples, lucrativo e seguro? Que possibilidade existe de planejar se não existem regras?

Enfim, o artigo que motivou este texto é tão interessante pelo é quanto pelo que ele não é. O próprio fato de ele existir é interessante. Alguém escreveria um artigo como esse sobre a Coréia do Sul, por exemplo? Dizendo que ela está “à beira de um grande salto” e que há incerteza se ela o dará? Não, ela já o fez! Agora vejam, no ranking mundial, a Coréia do Sul é por volta da décima quinta em tamanho, enquanto o Brasil é por volta da décima. Só que a área do Brasil é de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, enquanto que a da Coréia do Sul é de… er, cem mil. Como isso é possivel? E note-se, a Coréia evoluiu rapidamente para essa posição, basicamente entre os anos 60 e 80, transmutando-se de um país fundamentalmente inexpressivo, repetidamente ocupado por potências estrangeiras, e dividido por guerras, para uma das maiores economias do mundo.

Agora, enquanto a Coréia se ocupava em saltar do terceiro para o primeiro mundo, o Brasil estava sendo governado pelo governo militar que com o motivo / desculpa / explicação de nos salvar dos comunistas tomou o poder na marra (aliás, com considerável mesmo que não unânime apoio popular, diga-se de passagem) e… pôs-se enigmaticamente a estatizar tudo e a implementar um plano de “crescimento” 110% keynesiano com o pé fundo no acelerador dos gastos.

A política econômica consistia em pegar dinheiro emprestado de outros países, e quando a farra de crédito internacional acabou, ela transformou-se em, er, basicamente imprimir dinheiro, honrando-nos com uma inclusão nos livros-texto de economia como exemplo clássico de hiperinflação e do que não se deve fazer. Note-se que o gravíssimo fenômeno de hiperinflacão é comumente associado a guerras e outros acontecimentos similarmente drásticos que forçam ou são apresentados como justificativa para o governo passar a gastar muito, muito, muito, mas muuuito mais do que dispõe. Nós podemos nos orgulhar de termos conseguido produzir isso sem que estivéssemos gastando o dinheiro para salvar o país de nenhuma catástrofe iminente.

Paralelamente, a xenofóbica política de comércio exterior incluía por exemplo substituir e minimizar importações a qualquer custo. Isso foi culminar em grotesquidões como a maravilhosa lei de reserva de mercado de informática de 1984, que teve como um de seus principais resultados absolutamente destruir qualquer possibilidade do Brasil ser internacionalmente competitivo nesta área. Outro resultado foi atrasar e encarecer a informatização da economia brasileira. Quanto às empresas “fomentadas” por essa política absurda e desastrosa? Consistiam em comprar peças no exterior e montar nacionalmente cópias toscas de projetos estrangeiros por preços inacreditáveis. Implodiram todas assim que a reserva de mercado acabou.

Enfim, veio a Nova República e coisa e tal, algumas heterodoxias bizarras foram tentadas, e surrealmente uma boa parte da reversão dessas alucinações para seguir em direções mais ortodoxas somente se deu sob figuras esquerdófilas.  Aliás, sublinhemos este ponto. Isso é realmente muito surreal. O governo militar, supostamente de “direita”, foi extremamente estatizante e obstruiu inacreditavelmente o livre comércio. Levaram o país à falência, cansaram de brincar e passaram a batata fervente da inflação fora de controle adiante. Então Sarney, previamente líder do partido pró-governo militar, resolveu que a solução para a inflação era… proibir os preços de aumentarem (!). E incentivou a população a chamar a polícia se visse algum preço aumentar. Seria engraçado se não tivesse de fato acontecido. Mas eis que então surge Collor, e tendo majoritário apoio popular no papel de oposição ao socialismo lulático, resolveu literalmente… confiscar a maior parte do dinheiro da economia, num dos planos econômicos mais inconstitucionalissimamente absurdos de todos os tempos. Incompreensivelmente, foram Itamar Franco, então Fernando Henrique, e finalmente o Lula que retornaram a políticas fiscais e financeiras minimamente ortodoxas, as quais foram infinitamente mais bem sucedidas que os 30 prévios anos de pseudo-direita.

O que nos leva à questão : se é razoável associar a “direita” com neoliberalismo adorador do deus mercado e coisa e tal como querem as esquerdas, onde é que se esconde essa tal temível e assustadora direita no Brasil? Esteja onde estiver, certamente não pode ser reconhecida nessa sucessão surreal de estatólatras que precederam os atuais estatólatras. O único politico que consigo identificar como remotamente liberal no sentido clássico da palavra é Roberto Campos, que apesar de ter sido deputado e senador, estava em tal minoria que nunca conseguiu aprovar nenhuma de suas propostas liberalizantes.

Estaremos hoje em situação melhor? Onde estão os políticos de expressão que lutarão pelas reformas necessárias para permitir que um cidadão qualquer abrir uma empresa seja, do ponto de vista institucional, simples, rápido, barato e seguro? Onde estão os intelectuais que defenderão que isso é mais importante do que qualquer plano estatal para “incentivar” o crescimento ou “proteger” certas indústrias? Onde estão os brasileiros que dirão “chega” para essa concepção de estado que nos mantêm aprisionados eternamente em berço esplêndido?

http://www.oindividuo.org/2009/12/12/brasil-uma-nacao-a-procura-de-um-destino/

Offline FxF

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 5.720
  • Sexo: Masculino
  • Yohohoho!
Re: Brasil, Uma Nação À Procura De Um Destino
« Resposta #1 Online: 16 de Dezembro de 2009, 23:14:57 »
Engraçado que, segundo ele, 2 das 3 melhores coisas do Brasil são "Capirinha" e "Guaraná Antártica".

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!