"The Long Term Evolution Experiment (LTEE) é uma experiência que começou em 1988, e seu objetivo é estudar como mutações relacionadas podem acumular para formar uma nova função.Eles usaram a Escherichia Coli porque ela consegue metabolizar citrato internamente em ambiente anaeróbico.A única barreira para metabolização de citrato em ambiente aeróbico é sua incapacidade de transportar o citrato para dentro da célula na presença de oxigênio.Assim, a habilidade de metabolizar citrato depende apenas de duas mutações em sequência na enzima transportadora de citrato.
Eles começaram com 12 clones de E.Coli formando 12 colônias.Eles alimentaram elas com glucose e citrato, e deram a elas 12.2 vezes mais citrato do que glucose.A expectativa era que se a E.Coli evoluisse para uma forma que pudesse metabolizar citraro, essa nova variedade iria se multiplicar no ambiente rico em citrato e levar a variante anterior a extinção.
Assim, levou mais de 30.000 gerações para que uma habiliade que estava praticamente pronta, precisando de apenas 2 mutações se desenvolvesse, e aconteceu em apenas uma das 12 colônias.
Em têrmos humanos 30.000 gerações são 600.000 anos.Assim, nós temos o acúmulo de 2 mutações relacionadas em 600.000 anos. A diferença entre o genoma humano e o genoma do Chimpanzé é de 4%, ou 120 milhões de mutações. O Número de gerações necessárias para acumular 120 milhões de mutações é : ( ( 120 * 10^6 ) / 2 ) * 30 * 10^3 = 18 * 10^11 gerações.Em anos seria : 18 * 10^11 * 20 = 36 * 10^12 anos.
Assim, apesar dos evolucionistas não admitirem essa é mais uma evidência empírica que comprova a impossibilidade probabilística da evolução."
Foi reducionista ou não ao afirmar isso aí? O que acham?
Não sei se vou conseguir listar claramente todos os pontos em que isso está errado.
Primeiramente, esse experimento é sobre algo bem mais específico, e não um modelo representativo do que evolução em geral. Reprodução sexuada, por exemplo, faz muita diferença. Com ela, uma mutação pode se tornar mais comum ao longo das gerações de forma mais rápida do que se daria em espécies com reprodução assexuada.
Você pode ter uma população onde todos carregam uma dada mutação, e que é descendente tanto do mutante original quanto de vários não-mutantes contemporâneos ao mutante original, enquanto que na reprodução assexuada, excluindo eventos de transmissão horizontal de genes, a única forma de uma população toda ter uma dada mutação é sendo todos exclusivamente descendentes de um mutante original. Isso não só leva mais tempo para ocorrer, como restringe mais a variabilidade genética na população de modo geral. Se há dois ou mais mutantes ou herdeiros de mutações numa população assexuada, elas não podem todas se tornarem mais freqüentes de forma "não-concorrente", não há a reprodução sexual para fazer com que eventualmente existam no mesmo organismo, o que seria a tendência natural numa espécie de reprodução sexuada. Assim, mesmo que essas N mutações fossem vantajosas, a espécie toda só terá as três é se elas ocorrerem repetidas vezes em indivíduos que já tenham outra(s), ou caso ocorram instâncias suficientes de transmissão horizontal de genes, que não é algo tão corriqueiro quanto reprodução sexuada em espécies com reprodução sexuada.
Mas não é só isso. Um exemplo parecido sobre como é impróprio tentar se generalizar toda a evolução a partir de um experimento como esse. Vamos supor que quisessem fazer uma raça de cachorros com pelagem cinza, demorassem um tempo imenso para conseguir. Daí simplesmente não é possível se generalizar e concluir que todo o desenvolvimento de raças de cães se dá no mesmo ritmo, sendo em última instância impossível, sem um novo mecanismo ainda totalmente desconhecido, ou sem assistência de seres mágicos.
Está implícito nessa conclusão que toda diferença entre raças de cães só veio a existir depois que algum criador a imaginou, enfiou na cabeça que a queria, e ficou esperando que aparecesse para então isolá-la numa linhagem que difere apenas nessa característica de todos os demais cães, até então uma população homogênea, clonal. Mas não é assim que ocorre, não com raças de cães, nem com espécies.
Diga-se de passagem, talvez fosse possível "refutar" a evolução das raças caninas com o mesmíssimo estudo. Não encontrei números para tentar fazer as contas com a mesma lógica, mas encontrei isso:
[...] “The first major finding was that the different breeds are quite genetically distinct,” said Kruglyak. “The dogs of a particular breed are much more similar to one another than they are to dogs of different breeds. These differences are so distinct that we could just feed a dog's genetic pattern into the database, and the computer could match it to a breed.
“This finding was a bit surprising because most of the breeds are quite recent and were formally genetically isolated only in the nineteenth century, with the advent of breed clubs and breed standards,” said Kruglyak. “It's a much more striking difference than is seen among human populations that evolved on different continents,” he said. [...]
http://www.hhmi.org/news/kruglyak2.html
Por último, além das estimativas estarem se baseando numa lógica com variadas falhas, a divergência que tenho conhecimento seria de 53 milhões de mutações, sendo que estima-se (ao menos um estudo) apenas umas 150 delas terem sido discernivelmente alvo de seleção natural na linhagem humana, e 250 na linhagem dos chimpanzés. Isso é possível porque, como disse inicialmente, as mutações não surgem para satisfazer as necessidades do ambiente (como no lamarckismo), induzidas pela seleção natural, são apenas filtradas por ela, mas ocorrem o tempo todo.
Nem imagino bem como fazer contas mais apropriadas levando em consideração uma perspectiva mais realista da coisa, mas apenas lembrando que: 1) populações não divergem apenas por seleção natural operando dessa forma linear e caricata; 2) que nós e os chimpanzés realizamos reprodução sexuada; 3) que gerações de 20 anos parece um valor um pouco forçado para minimizar o número de gerações; 4) que são muito menos numerosas as mutações mais cruciais (aquelas promovidas por seleção natural, independentemente da estimativa que mencionei anteriormente ser precisa ou não); e, 5) que estima-se que cada pessoa carregue de 150 a 300 mutações, as coisas intuitivamente já parecem um tanto menos problemáticas do que o texto postado tenta fazer parecer.