Tipo, eu não escolhi um título tão grande para o tópico para ter que explicá-lo de novo aqui, mas a ideia é essa
Pegue uma música inocente e use toda a maldade em seu coraçãozinho para lhe dar uma interpretação terrível e perturbadora. Funciona melhor se você estiver com tempo livre e entediado
E a minha escolhida é...
ROMARIA:
O primeiríssimo verso é "É de sonho e de pó", e qualquer pessoa com maldade no coração sabe que "pó-de-sonho" não é exatamente açúcar, essa suspeita é confirmada alguns versos depois com "feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo", sendo que um dos efeitos da cocaína é a superexcitação mental. E não é só cocaína que nosso eu-lírico usa: "É de laço é de nó, de gibeira o jiló" O que você faz no laço para dar um nó? Aperta, de onde se conclui que o sujeito gosta de apertar algo amargo como jiló que tira da algibeira. Sério, quem é que vai carregar jiló no bolso da calça? Claro que o cara está tirando aquela maconhinha de lá de dentro.
É claro que o eu-lírico recorre às drogas para suportar "essa vida cumprida a só", pelo o fato de ter vindo de uma família desestruturada, com um pai ausente, mãe com problemas emocionais e irmãos que perderam-se na vida. As drogas não são o único vício desse coitado, que declara explicitamente que tem problemas com o jogo. Será que isso contribuiu para o fracasso em seu casamento e nos negócios? Se esses negócios em que ele investiu eram lícitos também é altamente questionável, mas se ele investiu e desistiu sem ter conhecido a sorte é porque perdeu tudo o que tinha.
Atribuindo à má sorte e à sua origem humilde como "caipira" seus fracassos, vai buscar amparo na religião, a notória primeira opção de qualquer viciado quando finalmente resolve pedir ajuda. E ele pede ajuda porque chegou realmente ao fundo do poço, ou melhor, de uma mina escura e funda. Lhe disseram para ir à romaria pedir a paz que ele não tem e incapaz até mesmo de rezar, pede à Virgem Santa que olhe nos seus olhos e sinta pena do espectro de ser humano que resta ali.