Bispo aguarda revisão do plano de direitos humanos
ALINE VILALVA
O bispo da diocese de Assis, D. José Benedito Simão, responsável pelo Comitê de Defesa da Vida da Regional Sul-1 da CNBB, disse ontem que seria "falta de inteligência" o presidente Luís Inácio Lula da Silva não se manifestar imediatamente sobre o texto do Plano Nacional de Direitos Humanos, que prevê a descriminalização do aborto, apóia a união civil entre pessoas do mesmo sexo; assegura o direito de adoção por casais homossexuais; impede a exposição de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos, entre outras providências que desagradam a Igreja Católica.
O religioso também reiteriou que pretende organizar os demais bispos para uma manifestação coletiva contra a forma original do plano e insistir em um posicionamento e insistir em um posicionamento formal da CNBB sobre a questão.
Desde que o decreto foi publicado em 22 de dezembro, D. Simão recebe telefonemas de veículos de comunicação de várias cidades do Estado, buscando mais informações sobre seu posicionamento.
"É um assunto abrangente, que envolve vários setores da sociedade e justamente por isso não deve ser isolado", defende. "O plano está sendo antidemocrático e tedencioso. O Lula, que está no fim de seu mandato, não tem que deixar essa bomba para o próximo governo, deve resolvê-la", sugere.
Em sua opinião, o texto precisa ser revisto para que de fato contemple os direitos de todos. "Seria burrice levar avante o plano como está, pois se esta proposta está causando transtornos dentro do próprio governo, é porque algo está errado. Tem que ouvir melhor a sociedade, representantes de todos os segmentos, sem interesse politiqueiro porque diz respeito a ela (sociedade)", considera.
Sobre a proposta que descriminaliza o aborto, D. Simão insiste que a Igreja é favorável à vida em todas as suas circunstâncias. "Justamente por defendermos tanto a vida plena e abundante, é que somos contrários a este plano", reitera.
Ele também critica as propostas de união civil entre pessoas do mesmo sexo e garantia do direito de adoção por casais homoafetivos e repreende a falta de preocupação, incentivo e participação na vida das famílias por parte do governo "que deveria se preocupar sobre tudo, com as mais pobres, que sofrem com o desemprego, alcoolismo e falta de estrutura". "A família é a célula do tecido social e, portanto, família sã significa sociedade sã, enquanto família enferma é sinal de social enferma", acentua.
"O que os símbolos (religiosos) trazem de prejudicial?, questiona o bispo, para quem em meio à diversidade de opções religiosas que desenvolvem ações em favor da paz, os símbolos são instrumentos que auxiliam nesta proposta. "Eles [os símbolos] falam muito na sociedade formal; são uma força de educação entre os jovens para a vivência e prática da paz que tem sido substituída pela violência e narcotráfico nas escolas públicas nas grandes capitais, por exemplo", defende. "Não são os símbolos que vão atrapalhar a educação, mas a ausência de políticas públicas que beneficiem os mais pobres", setencia.
Para ele, a liderança do país está "se metendo" num campo que não é o principal, prioritário, parecendo fugir dos grandes problemas. Falta presença efetiva do governo em questões mais importantes", reclama.
D. Simão prefere não se manifestar sobre a criação da comissão da vertdade, responsável por apurar desaparecimentos e torturas durante o regime militar (1964-85), pois a maioria dos torturadores já está morta e os que restam têm idade avançada.
Sobre alterações a serem aplicadas na mediação entre sem-terra e proprietários, o religioso defende a criação de incentivos públicos por meio de uma política agrária, "coisa que nunca houve no país". "Não penso que o governo tenha de sair distribuindo terras, mas pode melhorar esta situação, propondo, por exemplo, condicionamentos ao uso destes espaços e ter controle da situação. Na questão agrária, no entanto, o governo está irresponsável e descomprometido", avalia.
"Não estamos contra o governo, mas contra este projeto do governo Lula. Reconhecemos que ele fez grandes coisas para o país, mas não podemos aceitar tudo; temos parcerias, mas isso não quer dizer que ficaremos calados. A igreja é profética, perita em humanidade, visto que nestes mais de dois mil anos de existência passamo por vários regimes e diferentes governos. Não ajudamos apenas silenciando, mas também nos colocando contrários às situações com que não concordamos", esclarece.
A Igreja Católica, enquanto apoiadora da democracia viável e eficaz e preocupada com a vida em todos os aspectos, chama o "povo de Deus" a pensar e se posicionar sobre este debate, num exercício de cidadania, como sugere o bispo.
A proposta de D. Simão, como responsável pelo Comitê de Defesa da Vida, é articular melhor as ações de repúdio às medidas defendidas pelo programa de direitos humanos que desagradam à Igreja Católica com o apoio da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - que ainda não se manifdestou por estar em período de recesso.
Diário de Assis, terça-feira, 12 de janeiro de 2010, pág. 8