Autor Tópico: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga  (Lida 2226 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Online: 24 de Janeiro de 2010, 19:28:27 »
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u683900.shtml


As ciências da Terra têm conseguido progredir muito nas últimas décadas, mas a sociedade ainda não sabe aproveitar o conhecimento que elas produzem, diz uma das maiores especialistas em terremotos nos EUA. Lisa Grant, da Universidade da Califórnia em Irvine, acaba de publicar na revista "Science" um trabalho estimando a magnitude do grande tremor que a Califórnia está gestando, mas diz que é difícil conseguir se fazer ouvida.

"Estou muito triste com a tragédia do Haiti, mas não estou surpresa", diz a cientista. Segundo ela, não dá para saber quando a ciência será capaz de prever a data exata de um grande terremoto. Mas já se sabe com boa precisão onde eles serão e qual sua probabilidade. Ainda assim, os dados produzidos por sismólogos são largamente ignorados na maior parte do mundo.

"No Haiti, eles não foram bem utilizados", diz. "A ciência evoluiu, mas o jeito com que a sociedade lida com ela não melhorou." Leia abaixo entrevista que a cientista concedeu à Folha.

*

FOLHA - O terremoto é o pior desastre natural? Qual a sra. escolheria enfrentar entre um furacão como o Katrina e um grande terremoto?
GRANT - O furacão. Nele você perde a infraestrutura, mas tem a chance de correr. No terremoto, não há aviso prévio. Eu não sei se um dia conseguiremos saber precisamente quando um terremoto vai acontecer. Eu estou tentando. É difícil. Hoje, o máximo que podemos fazer é dizer "este lugar é perigoso", mas com o tempo as pessoas esquecem e acabam morrendo soterradas.

FOLHA - As pessoas esquecem?
GRANT - As pessoas não gostam de pensar nisso, porque é assustador. Acham que, se não pensarem, não vai acontecer. Então não se preparam, nem sequer estocam água em casa.

FOLHA - Ainda que alguns geólogos gostem de dizer que, na Califórnia, um grande terremoto já está "no décimo mês de gestação"?
GRANT - É uma boa comparação: você não pode saber exatamente quando um bebê vai nascer, mas pode dizer quando está perto de acontecer. É o caso aqui da Califórnia, com o "big one", tremor muito maior do que o que ocorreu no Haiti. E o que determina o impacto de um terremoto é o quanto você se para se prepara para ele.

FOLHA - A sra. acha que ainda verá um grande terremoto na Califórnia?
GRANT - Há uma probabilidade grande. Por isso estou preocupada. E veja... na minha casa eu tenho 50 galões [quase 200 litros] de água estocada. Estou fazendo tudo para ajudar minha comunidade a se preparar. Falei com o reitor da minha universidade, com o diretor da escola dos meus filhos. É algo que não sai da minha cabeça.

FOLHA - Mas a senhora não está tranquila por estar preparada?
GRANT - Não, porque posso não estar em casa! E se acontecesse agora? Meus filhos estão na escola. Ninguém está em casa a não ser os cães, e eles não sabem como abrir as garrafas d'água. Ontem eu estive com algumas amigas. Estávamos conversando. Nenhuma estoca água; estão muito ocupadas para se preocupar com isso. E me ouviram falar disso por anos!

FOLHA - As pessoas não a encaram como uma "sra. apocalipse"?
GRANT - Sim, até alguns familiares... Você deve conhecer Cassandra, da mitologia grega [para quem Apolo concedeu o dom de prever acontecimentos com a condição de que ninguém acreditasse nela]. Não tenho escolha. Vi os dados, sou especialista em terremotos. Nunca me perdoaria se algo acontecesse e eu não tivesse feito de tudo para alertar as pessoas. Uma descoberta do nosso último trabalho, na revista "Science", é que se você olhar para os últimos cinco grandes terremotos da história da Califórnia, perceberá que as condições de hoje em dia são parecidas. Meu irmão é pastor em uma igreja. Ele prega o evangelho, e eu prego a preparação para o terremoto. [Risos.]

FOLHA - A geologia é uma área de pesquisa popular na Califórnia, disputada por muitos alunos?
GRANT - Não muitos, na verdade. Trabalhamos sempre dando más notícias. As pessoas não querem isso. Sempre tive alunos para ver minhas aulas, mas o interesse em fazer doutorado era bem menor. Mas, com o Haiti e com o tsunami de 2004, o mundo começa a reconhecer que o assunto é importante.

FOLHA - Por que a sra. decidiu entrar no campo das "más notícias'?
GRANT - Por acidente. Eu queria estudar poluição da água. Mas no meu primeiro dia no doutorado, tivemos um terremoto no campus. Com o tempo, vi que nenhum californiano vai morrer bebendo água poluída. Mas temos um risco enorme de terremotos. Então, eu mudei.

FOLHA - Sabemos mais hoje sobre terremotos do que naquela época?
GRANT - Sim. Um monte de lugares perigosos foram identificados, inclusive no Haiti. Mas os dados não foram bem utilizados. Estou muito triste com a tragédia naquele país, mas não estou surpresa. Muitos cientistas já conheciam o risco. Poucos minutos após o terremoto, antes de qualquer notícia aparecer na imprensa, um dos meus colegas parou no meu escritório para me contar. Ele disse: "Parte meu coração pensar nesta tragédia. Vai ser terrível". A ciência evoluiu, mas o jeito com que a sociedade lida com ela não melhorou.

FOLHA - Como assim?
GRANT - Por exemplo, construir prédios resistentes é mais caro. Então, as pessoas ignoram o risco na maior parte do mundo onde há terremotos. Mas a função básica de uma construção é ficar em pé. Não é parecer bonita! Já debati isso com arquitetos. Na Califórnia temos leis para tornar as construções seguras, mas não é assim na maior parte do mundo.

FOLHA - Mas o Haiti não é pobre demais para se importar com isso?
GRANT - Sim, muito pobre. Mas algumas das construções mais críticas deveriam ser seguras. A sede da ONU, o palácio presidencial, os hospitais! Eles vão ter de começar tudo de novo. Seria uma tragédia reconstruir tudo igual, colocar muita gente em áreas de risco, porque esse episódio [o tremor] vai se repetir, mesmo que demore mais de cem anos. É bom estar preparado. Em 1992, tivemos na Califórnia um terremoto similar ao do Haiti. Houve feridos, mas ninguém morreu, porque as construções ficaram em pé.

FOLHA - Mas o furacão Katrina não mostrou que mesmo os EUA falham em se preparar bem?
GRANT - Sim. New Orleans estava em todos os livros de desastres naturais! Eu sempre ensinei que era um lugar com um desastre esperando para acontecer. Perto do nível do mar, de um grande rio, de um lago. Acho que os EUA aprenderam com ele. Espero que, na próxima, a resposta seja mais rápida.

FOLHA - Ir embora da Califórnia já passou pela sua cabeça?
GRANT - Algumas vezes, mas aqui não vai ser tão terrível quanto no Haiti. O que me preocupa são os meus filhos, porque tomo as decisões por eles. O mais novo tem quatro anos. E se um se machucar? Como eu me sentiria? É difícil.
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Offline Geotecton

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #1 Online: 23 de Março de 2010, 10:58:14 »
Excelente questão abordada pelo 4 Ton Mantis.

Acho que a percepção do "problema do terremoto" é similar ao do "problema da violência". O grau de alerta e preparo, em geral é mais intenso logo após a ocorrência do terremoto (ou do assalto), e com o passar do tempo ele declina até que o ritmo de vida o re-enquadra como um fato de um passado distante.

Portanto, apenas confiar na organização individual não é o suficiente, cabendo ao Estado a tarefa de estudar, orientar e prover as  informações e uma infra-estrutura mínima nas chamadas 'regiões de risco'. Mas aí está o ponto-chave, pois para que o Estado faça isto é necessário um arcabouço econômico que países paupérrimos como o Haiti não possuem.

Para efeito de comparação, que por favor é simplemente ilustrativo, e não tem base científica para efeito de desdobramentos do conhecimento, observem os dados dos seguintes casos de terremotos, no qual estão relacionados o ano de ocorrência, o local, a intensidade da onda em superfície e o número de mortos (contado ou estimado):

1.989 - Loma Prieta, Califórnia, EUA - 7,1 - 63 mortos
1.995 - Kobe, Japão - 7,2 - ca. 5.000 mortos
2.010 - Porto Príncipe, Haiti - 7,0 - ca. 210.000 mortos

Apesar de uma intensidade muito próxima nos 3 casos observa-se uma desproporcionalidade gritante no número de vítimas e isto se deve basicamente aos litotipos dos substratos locais, ao tipo de ocupação do território e à qualidade das construções.

Por fim a questão de previsibilidade dos terremotos. Houve avanços significativos, mas infelizmente permanece fora de nosso alcance a capacidade de prever o local e a intensidade dos terremotos. E o porque disto?

Devido à quantidade enorme de dados e parâmetros envolvidos acrescida da nossa ignorância do exato comportamento reológico das rochas e da exata disposição geométrica e cinemática das tensões e das falhas em sub-superfície, ainda não foi possível elaborar um modelo matemático capaz de responder aos nossos anseios.

Enquanto isto o passado e a prudência nos aconselham a nos prepararmos.
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #2 Online: 24 de Março de 2010, 03:14:42 »
Será que o GRACE tem resolução para ver algum tipo de diferença antes e depois de terremotos, e, com sorte, se poder detectar um padrão de um pouco antes?


edit:

:)

parece que sim:

Citar
Medium-Term Earthquake Prediction Using Gravity Monitoring Data
Zhan, F. B.; Zhu, Y.
American Geophysical Union, Fall Meeting 2009, abstract #S21A-1703
Regional gravity monitoring data in China from 1998 to 2005 exhibited noticeable signals before the occurrence of four major earthquakes in recent years. These signals led to the successful medium-term predictions of two major earthquakes in China—the 2008 Yutian (Xinjiang) Ms=7.3 earthquake and the 2008 Wenchuan (Sichuan) Ms=8.0 earthquake. After reviewing the data and methods used for reaching these predictions, we argue that it is possible to make medium-term earthquake predictions using gravity monitoring data in combination with geological and tectonic information. Specifically, empirical evidences in China suggest that: (1) there is a good possibility that there exists a connection between regional gravity changes and the occurrence of a major (Ms≥5.0) earthquake; (2) this connection can be established by regional gravity monitoring data; (3) medium-term earthquake prediction can be made based on gravity dynamics derived from gravity monitoring data and other information such as geological and tectonic conditions in the area in question.

http://adsabs.harvard.edu/abs/2009AGUFM.S21A1703Z


Impressionante.

Offline Geotecton

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #3 Online: 24 de Março de 2010, 11:38:56 »
Será que o GRACE tem resolução para ver algum tipo de diferença antes e depois de terremotos, e, com sorte, se poder detectar um padrão de um pouco antes?


edit:

:)

parece que sim:

Citar
Medium-Term Earthquake Prediction Using Gravity Monitoring Data
Zhan, F. B.; Zhu, Y.
American Geophysical Union, Fall Meeting 2009, abstract #S21A-1703
Regional gravity monitoring data in China from 1998 to 2005 exhibited noticeable signals before the occurrence of four major earthquakes in recent years. These signals led to the successful medium-term predictions of two major earthquakes in China—the 2008 Yutian (Xinjiang) Ms=7.3 earthquake and the 2008 Wenchuan (Sichuan) Ms=8.0 earthquake. After reviewing the data and methods used for reaching these predictions, we argue that it is possible to make medium-term earthquake predictions using gravity monitoring data in combination with geological and tectonic information. Specifically, empirical evidences in China suggest that: (1) there is a good possibility that there exists a connection between regional gravity changes and the occurrence of a major (Ms≥5.0) earthquake; (2) this connection can be established by regional gravity monitoring data; (3) medium-term earthquake prediction can be made based on gravity dynamics derived from gravity monitoring data and other information such as geological and tectonic conditions in the area in question.

http://adsabs.harvard.edu/abs/2009AGUFM.S21A1703Z


Impressionante.

Considere o seguinte comunicado abaixo, com o destaque em negrito por mim inserido:

Crustal Dilatation Observed by GRACE After the 2004 Sumatra-Andaman Earthquake
Shin-Chan Han,1* C. K. Shum,1 Michael Bevis,1 Chen Ji,2 Chung-Yen Kuo1

We report the detection of an earthquake by a space-based measurement. The Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE) satellites observed a ±15-microgalileo gravity change induced by the great December 2004 Sumatra-Andaman earthquake. Coseismic deformation produces sudden changes in the gravity field by vertical displacement of Earth's layered density structure and by changing the densities of the crust and mantle. GRACE's sensitivity to the long spatial wavelength of gravity changes resulted in roughly equal contributions of vertical displacement and dilatation effects in the gravity measurements. The GRACE observations provide evidence of crustal dilatation resulting from an undersea earthquake.

1 Geodetic Science, Department of Geological Sciences, Ohio State University, 275 Mendenhall Laboratory, 125 South Oval Mall, Columbus, OH 43210–1398, USA.
2 Department of Earth Sciences, University of California at Santa Barbara, Santa Barbara, CA, USA.

* To whom correspondence should be addressed. E-mail: han.104@osu.edu

O que se depreende (não li o artigo) é que o GRACE captou a deformação crustal decorrente do terremoto mas não o acúmulo de tensão. E não é difícil de entender o porquê.

Quando ocorreu o terremoto houve um rearranjo espacial nas bordas das macroplacas da Austrália, da Eurásia e da Índia, gerando uma mudança significativa (para o tipo de processo) na distribuição das massas e, por conseguinte, de suas densidades, em relação a um dado ponto geodésico. A borda da placa Eurasiana em contato com a placa Australiana chegou a subir cerca de 30m em alguns pontos ao longo da trincheira de Java. Foi esta anomalia que o GRACE captou.

Mas o problema está no acompanhamento de acúmulo de tensão nas bordas de placas, pois ela tende a se dissipar com frequentes liberações de energia por meio de terremotos de pequena intensidade. Apenas esporadicamente a tensão gera um acúmulo de energia capaz de gerar um terremoto maior que 8.0 (o USGS estima que isto ocorre, em média, uma vez por ano na crosta).

Portanto, desconheço e ainda não vislumbro o estabelecimento de um método confiável capaz de determinar um padrão de anomalias para a previsão de terremotos.
 





Foto USGS


Offline Geotecton

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #5 Online: 27 de Março de 2010, 18:56:35 »
Tem que chamar um bando de matemáticos para descobrirem algum padrão mais inconspícuo nisso tudo.

Põe bandos nisto!! :D
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Offline Søren reeditado

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #6 Online: 21 de Abril de 2010, 20:46:01 »

Geo, é verdade que Concepcion se deslocou alguns metros para o leste, após o sismo da Nazca?  Como é possível fazer tal medição? qual o referencial?

Aliás, o comportamento da sulamericana com a Nazca é que faz surgir os Andes?  Faço esta pergunta porque fico intrigado com esta nossa placa sulamericana.  Diz-se que ela se afasta da Africana a partir da Dorsal Atlântica. Ora, afastar-se da africana somente me ocorre se for para o oeste, então temos uma sulamericana avançando para cima da Nazca?

Outra pergunta de leigo assustado :) : o afastamento que se dá na dorsal atlântica não seria capaz de gerar uma tensão (acumulos localizados) em alguns pontos, e produzir um sismo de acima 7.0, e por consequência tsunami vindo à costa do Brasil? A dorsal é estável?

Offline Søren reeditado

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #7 Online: 21 de Abril de 2010, 23:19:04 »

FOLHA - Por que a sra. decidiu entrar no campo das "más notícias'?

Além do Geotecton, quem mais aqui é formado em "más notícias"?  :)

Offline Geotecton

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #8 Online: 21 de Abril de 2010, 23:38:51 »
Geo, é verdade que Concepcion se deslocou alguns metros para o leste, após o sismo da Nazca?  Como é possível fazer tal medição? qual o referencial?

Não li ou ouvi nada a respeito. De onde você tirou esta informação, Soren reeditado?

No sismo de 2.004, a placa Indiana "saltou" cerca de 20 a 30 metros no ajuste com as placas Australiana e EuroAsiática, gerando um terremoto de 9,5 na Escala de Momento Sísmico, segundo o USGS. Neste caso, estamos falando de um "salto" de uma borda de placa com 5 a 10 Km de espessura, praticamente sem carga sólida em cima. Bem diferente da placa de Nazca, que está subductando ("indo por baixo") da placa da Sul Americana, e que apresenta sobre ela uma carga sólida de mais de 20 Km de espessura.

O mais provável é que Concepcion tenha sofrido os efeitos típicos de um terremoto, que é a passagem das ondas S, P, Love e Raleigh. Este conjunto leva um ponto material na superfície a se deslocar para frente e para trás; para cima e para baixo; para o lado esquerdo e para o direito e sofrer ondulações. Algo bem desconfortável, não?

A medição de deslocamento provocado por um terremoto é mais comum quando associado a falhas transcorrentes, e neste caso se fazem medidas com grande precisão por meio de estações fixas com sensores a laser ou por estações com GPS que ocupem os diferentes blocos que se movimentam, como é o caso do sistema de falhas de San Andreas, na Califórnia.


Aliás, o comportamento da sulamericana com a Nazca é que faz surgir os Andes?  Faço esta pergunta porque fico intrigado com esta nossa placa sulamericana.  Diz-se que ela se afasta da Africana a partir da Dorsal Atlântica. Ora, afastar-se da africana somente me ocorre se for para o oeste, então temos uma sulamericana avançando para cima da Nazca?


Sim, o efeito compressivo da placa de Nazca subductando a placa Sul Americana é que promoveu (e promove) a orogenia dos Andes.

Sim, a placa Sul Americana afastasse da sua congênere Africana por causa da acreção de assoalho oceânico na Dorsal Atlântica. Ao ser empurrada para oeste a nossa placa avança cerca de 3,5 cm por ano contra a de Nazca, que por sua vez está sendo forçada para leste por causa da Dorsal Pacífica em uma taxa de 8 cm por ano. Acontece que a placa de Nazca é constituída, grosso modo, de basalto e que apresenta uma densidade maior que a placa Sul Americana, e esta diferença para maior força a placa de Nazca para baixo da Sul Americana.


Outra pergunta de leigo assustado :) : o afastamento que se dá na dorsal atlântica não seria capaz de gerar uma tensão (acumulos localizados) em alguns pontos, e produzir um sismo de acima 7.0, e por consequência tsunami vindo à costa do Brasil? A dorsal é estável?

Quanto ao sismo e à tsunami, a resposta é: Em princípio não. Em tese toda a tensão acumulada na Dorsal é dissipada pela incorporação do assoalho oceânico e pelos sismos pouco intensos que ocorrem ao longo das falhas transformantes (são aquelas que linhas quee saem perpendiculares às dorsais). Ou seja, a Dorsal é uma área distensional com alta eficiência de alívio de esforços cisalhantes. Ao contrário da parte oeste das Américas que são regiões compressivas por excelência.

Queria, no entanto, abordar rapidamente a questão dos tsunamis, pois basicamente  existem 4 causas que os geram.

A primeira causa são os terremotos, como já foi mencionado. A segunda causa está ligada às explosões vulcânicas em superfície, como no caso do Krakatoa.

A terceira causa seria pelo impacto de um meteorito ou asteróide em um oceano, como aquele que aconteceu no final do Cretáceo, onde se estima que foi produzida a maior onda que teria varrido qualquer oceano. Eu não me recordo da fonte, mas da altura estimada, sim: 1.500 metros.

E por fim, a quarta causa são os de deslizamentos de massa da superfície para o mar ou até mesmo em subsuperfície. Há casos bem estudados deste fenômeno no Alaska e no Havaí.

Eu acho que a causa mais provável de um tsunami na costa brasileira seria a decorrente de um deslizamento de grande volume de massa na plataforma continental.

É isto.

E lembre-se: 2.012 e o Apocalipse estão chegando.
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Offline Søren reeditado

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #9 Online: 22 de Abril de 2010, 02:16:30 »

Não li ou ouvi nada a respeito. De onde você tirou esta informação, Soren reeditado?

Corrigindo, a informação foi de que a cidade, na verdade, se deslocou para o oeste:



Fontes: http://www.sciencedaily.com/releases/2010/03/100308132043.htm  e
 http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-1256597/Chile-earthquake-moved-Concepcion-city-10ft-west.html


No sismo de 2.004, a placa Indiana "saltou" cerca de 20 a 30 metros no ajuste com as placas Australiana e EuroAsiática, gerando um terremoto de 9,5 na Escala de Momento Sísmico, segundo o USGS. Neste caso, estamos falando de um "salto" de uma borda de placa com 5 a 10 Km de espessura, praticamente sem carga sólida em cima. Bem diferente da placa de Nazca, que está subductando ("indo por baixo") da placa da Sul Americana, e que apresenta sobre ela uma carga sólida de mais de 20 Km de espessura.

O mais provável é que Concepcion tenha sofrido os efeitos típicos de um terremoto, que é a passagem das ondas S, P, Love e Raleigh. Este conjunto leva um ponto material na superfície a se deslocar para frente e para trás; para cima e para baixo; para o lado esquerdo e para o direito e sofrer ondulações. Algo bem desconfortável, não?

Não tenha dúvida de que um rebolation tectônico de 8.0 é o inferno antecipado  :susto:

A medição de deslocamento provocado por um terremoto é mais comum quando associado a falhas transcorrentes, e neste caso se fazem medidas com grande precisão por meio de estações fixas com sensores a laser ou por estações com GPS que ocupem os diferentes blocos que se movimentam, como é o caso do sistema de falhas de San Andreas, na Califórnia.


Aliás, o comportamento da sulamericana com a Nazca é que faz surgir os Andes?  Faço esta pergunta porque fico intrigado com esta nossa placa sulamericana.  Diz-se que ela se afasta da Africana a partir da Dorsal Atlântica. Ora, afastar-se da africana somente me ocorre se for para o oeste, então temos uma sulamericana avançando para cima da Nazca?


Sim, o efeito compressivo da placa de Nazca subductando a placa Sul Americana é que promoveu (e promove) a orogenia dos Andes.

Sim, a placa Sul Americana afastasse da sua congênere Africana por causa da acreção de assoalho oceânico na Dorsal Atlântica. Ao ser empurrada para oeste a nossa placa avança cerca de 3,5 cm por ano contra a de Nazca, que por sua vez está sendo forçada para leste por causa da Dorsal Pacífica em uma taxa de 8 cm por ano. Acontece que a placa de Nazca é constituída, grosso modo, de basalto e que apresenta uma densidade maior que a placa Sul Americana, e esta diferença para maior força a placa de Nazca para baixo da Sul Americana.



O interessante é que se você olhar as medições feitas a partir das informações acima, verá Buenos Aires se deslocando 1 cm, ao passo que Concepción, aproximadamente 3,00m. Ou seja, se o ponto na longitude de Concepcion se desloca 3m para o oeste, e um outro ponto na longitude de Buenos Aires, apenas 1 cm, chega-se à conclusão de que a área de superfície nesse meio se deformou, uma distensão, pode-se dizer.  E assim ficamos sabendo de mais um efeito desses grandes sismos: deformação e distensão de superfícies em outros pontos da placa.

Quanto ao sismo e à tsunami, a resposta é: Em princípio não. Em tese toda a tensão acumulada na Dorsal é dissipada pela incorporação do assoalho oceânico e pelos sismos pouco intensos que ocorrem ao longo das falhas transformantes (são aquelas que linhas quee saem perpendiculares às dorsais). Ou seja, a Dorsal é uma área distensional com alta eficiência de alívio de esforços cisalhantes. Ao contrário da parte oeste das Américas que são regiões compressivas por excelência.

Queria, no entanto, abordar rapidamente a questão dos tsunamis, pois basicamente  existem 4 causas que os geram.

A primeira causa são os terremotos, como já foi mencionado. A segunda causa está ligada às explosões vulcânicas em superfície, como no caso do Krakatoa.

A terceira causa seria pelo impacto de um meteorito ou asteróide em um oceano, como aquele que aconteceu no final do Cretáceo, onde se estima que foi produzida a maior onda que teria varrido qualquer oceano. Eu não me recordo da fonte, mas da altura estimada, sim: 1.500 metros.

E por fim, a quarta causa são os de deslizamentos de massa da superfície para o mar ou até mesmo em subsuperfície. Há casos bem estudados deste fenômeno no Alaska e no Havaí.

Eu acho que a causa mais provável de um tsunami na costa brasileira seria a decorrente de um deslizamento de grande volume de massa na plataforma continental.

É isto.

E lembre-se: 2.012 e o Apocalipse estão chegando.

Quando chegarem, a gente abre um tinto seco chileno, e manda ver um tango  8-)

Offline Geotecton

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Re: Poucos ouvem as más notícias da ciência, diz geóloga
« Resposta #10 Online: 22 de Abril de 2010, 09:04:57 »
Corrigindo, a informação foi de que a cidade, na verdade, se deslocou para o oeste:



Fontes: http://www.sciencedaily.com/releases/2010/03/100308132043.htm  e
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-1256597/Chile-earthquake-moved-Concepcion-city-10ft-west.html

Obrigado pela indicação das fontes.

Vou ler e analisar os textos mais tarde.


Não tenha dúvida de que um rebolation tectônico de 8.0 é o inferno antecipado :susto:

Sim. Quando eu estive no Chile em 2.003, Santiago foi submetida a um fraco abalo de 3.8 (dos muitos que ocorrem lá anualmente com intensidade semelhante) e a sensação é análoga àquela que se tem quando se está em uma casa na frente de uma rodovia com caminhões pesados passando em frente. Pequenas trepidações gerando algum desconforto.


O interessante é que se você olhar as medições feitas a partir das informações acima, verá Buenos Aires se deslocando 1 cm, ao passo que Concepción, aproximadamente 3,00m. Ou seja, se o ponto na longitude de Concepcion se desloca 3m para o oeste, e um outro ponto na longitude de Buenos Aires, apenas 1 cm, chega-se à conclusão de que a área de superfície nesse meio se deformou, uma distensão, pode-se dizer.  E assim ficamos sabendo de mais um efeito desses grandes sismos: deformação e distensão de superfícies em outros pontos da placa.

Perfeita a sua observação.

Os efeitos distensivos deste sismo e suas respectivas medidas em termos de deslocamento em zonas continentais afastadas de regiões de subducção confirmam uma previsão feita baseada em modelagem de crosta realizada no fim dos anos 80.

Aumentou o meu interesse na leitura das suas referências.


Quando chegarem, a gente abre um tinto seco chileno, e manda ver um tango  8-)

Com duas chilenas e duas argentinas bem gostosas em uma pousada na beira de um lago no sul do Chile.  :biglol:
« Última modificação: 22 de Abril de 2010, 13:14:57 por Geotecton »
Foto USGS

 

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