Autor Tópico: Invictus  (Lida 1683 vezes)

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Invictus
« Online: 31 de Janeiro de 2010, 00:37:51 »
Citação de: [url=http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2010/01/29/clint+eastwood+une+esporte+e+vida+de+nelson+mandela+em+invictus+9381459.html]Último Segundo[/url]
Clint Eastwood une esporte e vida de Nelson Mandela em "Invictus"

Logo após o fim do apartheid, no início da década de 1990, a África do Sul continuava com todos os cacoetes de um povo dividido. Herói do movimento que acabou com preconceito criminoso entre brancos e negros, Nelson Mandela assumiu a presidência do país em 1994 disposto a derrubar barreiras e construir uma nação unida a partir dos escombros da anterior. Uma de suas armas para isso foi o esporte, faceta que Clint Eastwood resolveu explorar em "Invictus", seu trigésimo filme como diretor, que entra em cartaz nesta sexta-feira (29) no Brasil.


Morgan Freeman, como Nelson Mandela, e Matt Damon no filme de Clint Eastwood

Baseado no livro "Conquistando o Inimigo", do jornalista John Carlin, o roteiro desde o início é bastante didático (talvez até demais) ao mostrar o conflito sul-africano. Na primeira cena, brutamontes altos e loiros, devidamente equipados, praticam rúgbi, jogo truculento originário do Reino Unido, os colonizadores. No campo do outro lado da estrada, crianças negras descalças disputam uma pelada despretensiosa. O contraste ilustra bem a divisão do país: o rúgbi era o esporte preferido dos brancos, enquanto os negros nem sequer sabiam suas regras, dando bola, isso sim, para o futebol. Exemplo claro de que a divisão continuava embrenhada na sociedade.

Sem deixar de lado questões essenciais para o desenvolvimento de seu país, Mandela percebeu que o rúgbi era uma questão emblemática desse apartheid velado e teve o estalo: se a África do Sul fosse vencedora da Copa do Mundo, da qual seria país-sede no ano seguinte, a vitória seria uma vitrine importantíssima de sua unificação para o mundo e para os próprios sul-africanos, ainda machucados por décadas de segregação. Ferida, aliás, retratada em diversos núcleos dramáticos: os seguranças da presidência, a família dos jogadores, a vida nas favelas da Cidade do Cabo.


Freeman concorreu ao Globo de Ouro

Há anos Morgan Freeman lutava para levar às telas o livro "Longo Caminho para a Liberdade", autobiografia de Mandela, sendo que o ex-presidente em pessoa dizia para quem quisesse ouvir que o ator seria a opção ideal para interpretá-lo. O projeto não foi adiante, mas Freeman levou o roteiro de "Invictus" a Eastwood – seu parceiro nos premiados "Os Imperdoáveis" e "Garota de Ouro" –, que topou na hora. O pilar dessa história é o esporte, mas a ideia original de Freeman prevalece, já que a vida e conduta de Mandela são a lição maior de todo esse quadro.

A interpretação dele, aliás, é um dos trunfos do filme. Se o sotaque de Madiba – como Mandela era carinhosamente chamado por seus aliados – parece artificial ou exagerado nalguns momentos, o carisma, charme, personalidade e inteligência política do líder permanecem intocados, sem contar a semelhança de Freeman com o biografado.

Matt Damon é o coadjuvante de luxo. Ele interpreta François Pienaar, capitão do desacreditado time de rúbgi sul-africano, e para cumprir a tarefa à altura, ganhou bons quilos de massa muscular. Se Mandela já não era suficiente como exemplo de superação, mensagem nem tão subliminar de todo o filme, Pienaar trata de fechar a conta e mostrar que sim, com raça e dedicação tudo é possível. Essa "moral", digamos, é justamente o tema de "Invictus", poema de William Ernest Henley que ajudou Mandela a superar quase 30 anos de prisão e que também serviu de inspiração para o jogador. Não podia ser mais claro.

Eastwood conduz as cenas com o estilo clássico de sempre, alternando a corda-bamba de Mandela no novo governo, as críticas que a seleção sul-africana recebe por todos os lados e a vida pobre nas favelas com doses certeiras de sensibilidade e tensão. Tensão que é exacerbada nas violentas partidas de rúgbi, uma espécie de futebol americano sedento de sangue. Já se sabe o resultado, no entanto o trunfo do filme é justamente conseguir deixar o espectador na beira da poltrona, ansioso pelo desfecho. Clint pode até ser piegas, mas o astro preferido pelos norte-americanos sabe muito bem o que quer e como fazê-lo. Ele acertou mais uma vez.
Citação de: [url=http://www.omelete.com.br/cine/100024856/Critica__Invictus.aspx]Omelete[/url]
Crítica: Invictus

A história de Nelson Mandela é real, mas espelha a filosofia de vida de Clint Eastwood

O primeiro plano de Invictus já diz tudo. A câmera está sobre a grua filmando um grupo de crianças negras jogando futebol. Ergue-se e vira para a esquerda, onde treina um time adulto de rugby, esporte de brancos. Entre um campo e outro atravessa a comitiva que festeja a libertação de Nelson Mandela, depois de 26 anos de prisão.

Quatro anos depois, Mandela assumiria a presidência da África do Sul, mas naquele 1990 já estava muito evidente o drama que ele teria que encarar com o fim do apartheid: acomodar os anseios da maioria negra da população e, ao mesmo tempo, mostrar à minoria branca, dominante, que ela não seria negligenciada no novo arranjo político.

Até hoje um abismo social, cultural e linguístico ainda separa brancos e negros sul-africanos, mas a solução momentânea encontrada por Mandela - que acabou permitindo que seu governo prosperasse - foi certeira para agradar a todos: transformar o rugby, sem descaracterizá-lo, também num esporte para os negros. Esse é o foco do filme de Clint Eastwood.

Atestado de hombridade

Todo filme, mesmo o mais mecânico, espelha uma visão de mundo de seus realizadores, e no caso de Eastwood - com toda a mítica que acompanha o ator e diretor - fica mais difícil dissociar Invictus, ainda que baseado em uma história real, da filosofia de vida do cineasta. Em entrevistas o velho Dirty Harry costuma apontar a infantilização do debate político nos EUA, movido hoje pelo que ele chama de "adultos juvenis". Sob essa ótica, Invictus é a defesa de um mundo de homens, de adultos de fato.

Por um lado, temos então um presidente pragmático (interpretado por Morgan Freeman no limite do caricato) descrente da burocracia e da liturgia do cargo - repare como as cenas em escritórios e reuniões são escuras, modorrentas. Do outro, a representação viril da combatividade de Mandela, o capitão do time de rugby, Francois Pienaar (Matt Damon) - filmado em câmera lenta e planos-detalhes, enfrentando sobrehumanos guerreiros maoris, sangrando e combatendo por milímetros no scrum, o amontoado de jogadores do rugby.

A juventude briosa do ator e a velhice sábia do diretor - ou pelo menos aquilo que Eastwood acredita serem ideais de mocidade e de maturidade - representadas em cena. Mandela tem até o mesmo ponto fraco de Clint, as mulheres. Afinal, como ensinam os filmes do diretor, atestado de hombridade implica ser o mais forte entre os seus, mas inepto com os filhos e com o sexo oposto.

Dá pra ir mais longe, enxergar em Invictus similaridades com o primeiro presidente negro de outro país, os EUA, que a exemplo de Mandela escolheu um tema impopular (o sistema público de saúde) para defender junto ao corpo - "colocando seu futuro político em risco", como diz uma assessora de Mandela na tela. Mas aí as interpretações se encavalam e o filme, em si, foge do controle da análise.

Antes disso, é uma obra lacrimosa e instável - com algumas imagens potentes (o chiaroscuro no túnel do estádio; a saleta dos guarda-costas; o amontoado de crianças com os jogadores) e outras tantas cenas funcionais filmadas com desinteresse (não precisava parar toda hora para explicar o jogo; é como a cena em que Mandela interrompe uma reunião para trocar banalidades com uma secretária) - sobre como fazer política na marra e sem comprometer valores.

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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