Acabo de chegar ao serviço, na Av. Paulista, e ainda estou abalado, pois no caminho a pé presenciei o que eu chamaria de uma
tentativa de homicídio. Só posso concluir que o brasileiro é mesmo um assassino motorizado...
Eu tinha acabado de atravessar a Rua Minas Gerais, que desemboca na Av. Dr. Arnaldo, para pegar o viaduto que dá acesso à Rua da Consolação, meu caminho rotineiro. Nem bem pus os pés na calçada oposta e ouvi um carro acelerando fortemente e cantando pneus. Quando descobri de onde vinha o estranho ruído (àquela hora da manhã - 8h00 - e já tinha gente estressada?) olhei e vi um Golf todo dourado,
carro de boy, que estava saindo de uma vaga na mesma calçada que eu estava, uns cinquenta metros adiante. Até aí, tudo bem, o que não falta em São Paulo são estes
merdas destes boyzinhos estressados, com suas máquinas importadas e enfeitadas.
Foi quando, aturdido, percebi que o
imbecil arrancara para atingir um moça bem vestida que - presumi - saltara de seu carro e atravessara, para sua infelicidade, tranquilamente à frente de seu agressor. Briga de
casalzinho miolo-mole, sem dúvida.
O
covarde atingira a moça em cheio - sem intenção de matar, mas de machucar, ou de assustar, e logo arrancara uma vez mais, desta vez para fugir ao delito.
A moça certamente assustou-se, conseguiu permanecer em pé por alguns segundos mas, dois ou tres passos adiante, caiu desmaiada.
Aquela cena de extrema covardia mexeu com os meus brios. Vi que o
infeliz covarde ia passar ao meu lado e, sorte dele - ou minha - eu não tinha nada à mão para lhe estourar ao menos o para-brisa de seu brinquedinho importado. Pena.
Mas ao menos um belo grito eu lhe dei, assim que passou ao meu lado: "
ANIMAAAAL!!!" - este grito de desabafo e repreensão ele vai levar para casa e certamente irá acordar com ele.
Apressei-me em alcançar a garota, mas esta já estava sendo socorrida por um outro rapaz, provavelmente um dos muitos motoboys que ali se reúnem. Ela parecia estar bem fisicamente, apenas um pouco manca. Sua roupa clara estava ensopada e suja, pois havia alguma poça-d'água no local. Ela chorava copiosamente e desabafava: "Não era ele que estava ali, não era ele!" - provavelmente se referindo ao gênio alterado de seu namorado ou marido (depois desta eu diria "ex").
Retirei-me perplexo e com muita raiva do local do "crime". Numa destas, a garota poderia ter se dado muito mal, e mais um
criminoso estaria à solta pelas ruas, com sua arma motorizada. Olhei as pessoas em volta, muitos motoboys, e nenhum parecia muito disposto a esboçar uma reação qualquer, talvez por conhecerem bem o instinto assassino do motorista brasileiro.
Meu Deus, como somos
irresponsáveis! Como podemos atirar um automóvel em cima de quem nos magoa?!