Pessoal
E olha que a pesquisa foi feita em bairros de pessoas cultas e ricas em Bhte.
CAPA
http://www.revistaencontro.com.br/dezembro04/capa.aspENTRE O CÉU E A TERRA
Pesquisa exclusiva revela que mais da metade das pessoas que acreditam em anjos já tiveram experiências com esses seres celestiais
ANDRÉA AVELAR
Nós não estamos sós. Temos um zeloso protetor que sempre nos guarda, rege e ilumina. Se você acha que tudo isso não passa de ilusão, saiba que faz parte de uma minoria. Pesquisa realizada pelo Instituto Newton Paiva com exclusividade para a Revista Encontro mostrou que 80% dos entrevistados acreditam em anjos. Foram ouvidas pessoas de ambos os sexos durante o mês de novembro nos shoppings Cidade, Falls e Pátio Savassi, em Belo Horizonte. A pesquisa revelou mais: 51% do total das pessoas que acreditam afirmam já terem vivido alguma experiência com anjos. Os resultaram mostraram ainda que 98% acreditam em Deus e 66% em santos.
Mencionados em várias religiões c o m o mensageiros de Deus, os anjos conquistaram uma legião de admiradores que garantem ouvir sua voz, invocar seu poder de cura, trabalhar sob sua inspiração e até receber seus sinais. A psicóloga Júnia Leonardi Távora, 28 anos, é uma dessas pessoas. Apesar de não ser adepta de nenhuma religião, ela sempre acreditou em Deus. Buscando desenvolver sua espiritualidade, a psicóloga percorreu o caminho de Santiago de Compostela, em 2002.
Durante o percurso, quando passava por um momento de grande dificuldade, Júnia fez uma prece, pedindo ajuda a Deus e ao seu anjo protetor. "Nesse instante vi uma pena cair. Eu fiquei emocionada, mas não dei muita importância. Guardei a pena e quando voltei ao Brasil, o primeiro presente que ganhei foi um livro sobre anjos da guarda, e na última página do livro havia uma pena", diz.
A partir de então, em diversos momentos de sua vida, Júnia encontrou penas, que ela guarda em uma pequena caixa. "Uma delas estava sob minha cama. Por curiosidade decidi pesquisar a origem e descobri que era de um pássaro que vive no Canadá", diz. Para Junia, as penas são manifestações divinas. Um sinal de que ela não está sozinha. "Muita gente não acredita, fala que é coincidência, mas eu consigo sentir a presença do meu anjo da guarda", diz.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUCMinas) e mestre em ciência da Religião, Carlos Frederico Barboza de Souza, diz que a forte crença nos anjos se explica pelo cenário social. "Vivemos um período de muita violência, as pessoas se sentem ameaçadas, impotentes diante dos problemas políticos e sociais. E os anjos representam o desejo de pureza e de harmonia."
O apelo da figura angelical é tão forte que a cultura popular se apropriou de sua imagem. Eles estão presentes em livros, filmes, músicas e pinturas. No caso dos livros, alguns tornaram-se referência para os apreciadores do tema, como Anjos Cabalísticos, de Mônica Buonfiglio, lançado em 1992. Com 41 títulos publicados no Brasil e no exterior, a escritora ultrapassou a marca de seis milhões de livros vendidos. Outro recordista de vendas que escreveu sobre o assunto foi Paulo Coelho. Em As Valkírias, ele conta sua experiência durante 40 dias no deserto de Mojave, sudoeste dos Estados Unidos, em busca do anjo da guarda.
Apesar das ondas de modismo, a figura angelical remonta aos primórdios da história do homem. As primeiras descrições aparecem no Antigo Testamento. Em toda a Bíblia são quase 300 citações a respeito de anjos. Algumas são passagens conhecidas, como a Anunciação – momento em que o arcanjo Gabriel revelou a Maria que ela foi a escolhida para conceber o filho de Deus. Em outra passagem da Bíblia, Deus coloca um anjo para guardar a entrada do Paraíso. Foi também um anjo que deteve a mão de Abraão para que não sacrificasse seu filho Isaac.
O Corão – livro sagrado dos mulçumanos – registra diversas passagens sobre o tema. Segundo a tradição islâmica o arcanjo Gabriel recitou, durante 30 anos, o texto do Corão para o profeta Maomé. Os judeus têm forte crença nos mensageiros celestes. Seu conhecimento sobre anjos sofreu influência dos egípcios, dos babilônicos e dos persas, durante o período em que os judeus estiveram em cativeiro no Egito.
Os anjos são vistos tradicionalmente como seres alados, com faces humanas, criados por Deus. São definidos como uma "raça" diferente da humana, espírito puro, que pode se materializar para cumprir missões especiais. Um exemplo disso está no Antigo Testamento, quando o arcanjo Rafael, enviado para proteger e guiar o filho de Tobias, assumiu a forma corpórea de um mortal. Mas, segundo palavras do próprio anjo, isso era apenas ilusão: "Parecia que eu comia e bebia convosco; mas eu sustento-me de um manjar invisível, duma bebida a qual não pode ser vista pelos homens" (Livro de Tobias 5:5-12:21). Assim como o islamismo, o cristianismo e o judaísmo, a doutrina espírita considera que os anjos atuam como intermediários entre o céu e a terra. No entanto, acreditam que os anjos da guarda são espíritos humanos, sem asas. Em estágios superiores de evolução, são chamados espíritos protetores."Eles nos acompanham desde o momento em que reencarnamos. Recebem a incumbência de nos proteger, respeitando sempre nosso livre- arbítrio. Podem ter alguma ligação familiar com a pessoa que protegem", explica Valquíria Teixeira Campos, da União Espírita Mineira.
Mesmo que a tradicional forma alada não seja unanimidade entre as religiões, a maneira de invocar os anjos da guarda é bem parecida. A professora aposentada Helena Rodrigues de Castro diz que sempre reza à noite, pedindo proteção para toda a família. Se algumas pessoas se satisfazem apenas em rezar e pedir proteção aos anjos da guarda, outras asseguram que possuem habilidade de ver seres celestiais. É o que afirma a escritora Rosana Ortiz, 43 anos. Em 1991 ela viveu uma experiência que mudou os rumos de sua vida. "Eu estava com uma forte depressão que me afastou do trabalho. Ficava a maior parte do tempo na cama, me recusava a tomar os remédios que o médico prescreveu e sentia tristeza profunda. Uma tarde apareceu aos pés da minha cama um lindo anjo, com um brilho magnífico."
O anjo a orientou a sentar no computador, pois ele iria ditar um livro. Após escrevê- lo ela ficaria curada. Rosana assustou-se. "Eu pensei: poxa, pirei de vez. Além de estar com depressão, agora comecei a enxergar anjos, daqui a pouco vão me internar." Mesmo assim, levantou-se e escreveu um livro infantil. Depois da experiência saiu da depressão, começou a estudar florais de Bach, meditação, astrologia e angelologia. Desde então, muitas outras visões ocorreram. Hoje Rosana tem dois livros lançados, dá palestras sobre o assunto e coordena uma consultoria em informática.
Já a estudiosa de anjos Sandra Alves da Rocha, 48 anos, afirma possuir a habilidade de ouvir os anjos. "Isto acontece desde a minha infância, mas fui proibida de falar sobre o assunto quando era pequena", revela. Anos mais tarde, Sandra passou por um período de grande dificuldade ao contrair uma doença medular que a impediu de andar. Em estado grave, durante uma internação, Sandra afirma ter vivido uma experiência de quase morte. "Eu me vi em outro plano astral. Mas não podia ficar lá, não podia deixar meus filhos sozinhos. Por isso corri muito tempo em um corredor escuro e consegui voltar."
Depois de estar entre a vida e a morte, Sandra diz que a sensibilidade para a comunicação com os seres celestiais ficou ainda mais forte. Os anjos foram fundamentais para que ela enfrentasse as dificuldades. "Eu havia sido abandonada por meu marido e me vi paralítica, com a responsabilidade de criar três filhos", lembra.
Ainda na cadeira de rodas, Sandra começou a auxiliar pessoas com problemas de saúde, emocionais e familiares. Ela escuta os anjos e recebe mensagens deles para as pessoas que atende. Com base nestas mensagens, ela elabora o que chama de “estudo do anjo” – texto relatando os avisos dos mentores angelicais. "Eu não faço nada. Sou apenas um instrumento dos anjos para auxiliar as pessoas", diz. Ela acredita que os anjos também tiveram papel decisivo em sua recuperação. Depois de sete anos, Sandra voltou a andar. Para quem quer recorrer ao anjo da guarda, ela diz que só é preciso ter fé. "Não duvide. Você não precisa acender velas, colocar copo d´água. Basta acreditar", diz.
E fé é o que não falta à empresária Marguite Souza Matta, de 48 anos. Ela segue um ritual de acordar às 3h40 da manhã para fazer a prece ao seu anjo. Tamanha devoção se explica pelas transformações atribuídas à interferência angelical. "Estava em depressão desde 2000, devido a problemas financeiros e emocionais. Tomava remédios e emagreci muito", afirma. A busca da espiritualidade a ajudou na superação dos momentos difíceis. "Hoje me sinto feliz, em paz. Me livrei das mágoas e das tristezas. Até ganhar na loteria eu ganhei. Foi um valor simbólico, que deu apenas para comprar uma sandália. Mas para mim foi um sinal que os anjos estavam ao meu lado."
A terapeuta holística Carmem Barbosa diz que, além das orações, algumas técnicas facilitam o contato com nosso guardião. "Devemos prestar atenção à nossa intuição e cuidar da mente, com a prática de meditação." O silêncio proporcionado pela meditação ajuda a acalmar e a distinguir a delicada voz dos mentores angelicais. E o que eles querem nos dizer? A mensagem pode ser bem simples. No filme Tão Longe,Tão Perto – do diretor alemão Wim Wender – os anjos Cassiel e Raphaela dirigem aos homens uma frase: "Somos os mensageiros que aproximam os que estão distantes. Não somos a mensagem. Somos os mensageiros. A mensagem é o amor. Nada somos. Vocês são tudo para nós."
SEM ANJO
De acordo com os especialistas em anjos existem cinco dias do ano em que não há regência angelical. São eles: 5 de janeiro, 19 de março, 31 de maio, 12 de agosto e 24 de outubro. Se você nasceu em uma destas datas, não tem anjo da guarda e precisa escolher um com o qual se identifica para ser seu guardião. Cada um dos 72 anjos tem influência sobre cinco dias da semana, totalizando 360 dias. Como o calendário egípcio era constituído por 365 dias, estas cinco datas ficaram sem a regência dos seres divinos.
Mas isso não deve ser motivo de preocupação. A escritora Mônica Buonfiglio, no livro Anjos Cabalísticos, explica que as pessoas nascidas nestes dias recebem a nobre missão de guardar a humanidade. Com forte essência angelical, em decorrência de atos praticados em benefício de um grupo, eles são chamados de gênios ou anjos da humanidade.
A engenheira Márcia Souza, 36 anos, conta que descobriu há pouco tempo que fazia parte desta categoria. "Ganhei de aniversário um livro que falava sobre esse assunto. Foi aí que fiquei sabendo que não tinha anjo da guarda." Márcia diz que sempre acreditou na proteção dos anjos e não se sente especial por ter nascido dia 31 de maio. "Costumo dirigir minhas preces ao Arcanjo Miguel. Quando passo por um momento difícil, acendo uma vela para ele."