Como primeiro post meu neste fórum, gostaria de chamar atenção para um aspecto pouco (aparentemente não por aqui, no fórum) discutido nos meios acadêmicos: como a falta de militância especializada (de pesquisadores sérios) está permitindo a manutenção de um estado de explícita ignorância concernente à ciência. Como devem saber, desde 1982 o instituto Gallup dos Estados Unidos vêm perguntando sobre o conhecimento do povo americano sobre a origem e desenvolvimento do ser humano, e é daí que sabemos que cerca de 40% dos americanos são ferrenhamente contra a Evolução. Como Dawkins nos mostra em seu último livro (O Maior Espetáculo da Terra), na Grã-Bretanha as coisas estão um pouco melhores, segundo pesquisa realizada pela Eurobarometer, mas ainda assim cerca de 13% negam veementemente a Evolução.
Coloco este assunto em específico aqui, e não na seção sobre Evolução, porque as conclusões que podem ser obtidas apontam para um problema que não é apenas religioso, e apenas relacionado à Evolução: outra pesquisa realizada pela Eurobarometer mostra que cerca de 19% dos pesquisados na Grã-Bretanha acreditam que a Terra leva um mês para dar a volta em torno do Sol (Dawkins, 2009). Pois bem... se cerca de um quinto da população da Grã-Bretanha não sabe o que determina o ano terrestre, não é de se surpreender que cerca de um décimo negue a Evolução. Para além do problema religioso (que é grande e gravíssimo), há um problema generalizado de EDUCAÇÃO CIENTÍFICA.
Além das tentativas para uma educação científica de qualidade (existentes e em ascensão nos principais programas de pós-graduação), sempre vi uma atitude de desleixo por parte de pesquisadores. Volta e meia me dizem: "mas vamos dar bola para esta gente doida? Numerólogos, terapeutas quânticos, místicos em geral, estarão conseguindo a atenção que querem se formos entrar em discussões a respeito". Ora... parece que não estão percebendo que eles já estão conseguindo esta atenção, e o pior: sem alguém que eloquentemente aponte suas (infantilóides) falhas.
Termino com uma alarmente passagem de "O Maior Espetáculo da Terra", retirada de suas últimas páginas:
"Em outubro de 2008, um grupo de aproximadamente sessenta professores do ensino médio americano reuniu-se no Centro para a Educação em Ciência da Universidade Emory, em Atlanta. Algumas das histórias de horror que eles relataram merecem ampla atenção. Um professor mencionou que alunos "desataram a chorar" quando souberam que iriam estudar a evolução. Outro professor contou que alunos gritavam repetidamente "Não!" quando ele começava a falar sobre evolução em aula. Outro disse que os alunos perguntaram por que, afinal, tinham de aprender sobre a evolução, já que se trata "apenas de uma teoria". Outro ainda declarou que "igrejas treinam estudantes para levarem à escola questões específicas e sabotar as minhas aulas". O Museu da Criação, em Kentucky, é uma instituição generosamente financiada, dedicada integralmente à negação da história nessa escala avançada. Lá as crianças podem cavalgar em um modelo de dinossauro equipado com sela, e não se trata apenas de diversão: a mensagem, explícita e inequívoca, é que os dinossauros viveram recentemente e coexistiram com humanos. O museu é dirigido pela Answers in Gênesis, uma organização isenta de impostos. O contribuinte, neste caso o contribuinte americano, está subsidiando falsidade científica, deseducação em grande escala.
Tais experiências são corriqueiras em todo o território americano, mas lembrem, detesto ter de admitir, estão se tornando comuns na Grã-Bretanha. Em fevereiro de 2006 o Guardian noticiou: "Alunos de medicina muçulmanos em Londres distribuíram panfletos que descartam como falsas as teorias de Darwin. Estudantes cristãos evangélicos também refutam com veemência crescente a idéia da evolução". Os panfletos muçulmanos foram produzidos pelo Al-Nasr Trust, uma associação beneficente registrada, isenta de impostos. Portanto, também o contribuinte britânico está subsidiando a distribuição sistemática de crassas e graves falsidades científicas a instituições educacionais britânicas".
É ou não é uma escalada da ignorância? A última frase de Dawkins, no citado livro, é: "Ainda não temos razões para nos despreocupar". Leram certo? "DESPREOCUPAR"!!
Olá a todos os que não estão despreocupados.