"Em vários casos, quando há uma diferença entre o genoma de um africano e o de um não africano, a versão das populações que não são originárias da África bate com a dos neandertais", diz ele. "O único jeito de explicar esses dados é por cruzamento", continua...
Que estranho! Estou confuso! Outro dia mesmo vários "sábios defensores da ciência e do método científico" com quem eu debatia garantiram, por A + B, que não haveria possibilidade de diferenças genéticas entre "etnias" intercontinentais... Que poderiam existir mais diferenças entre os genomas de dois negros do que entre um inglês e um negro, por exemplo, e outros argumentos "cientificamente válidos" semelhantes.
Eles ou não souberam passar bem uma descrição da realidade, ou estavam eles mesmos errados. Uma coisa é poder existir mais diferença entre os genes de dois africanos do que entre um africano e um inglês --verdade -- e outra é não haver diferença genética entre as pessoas originárias de diferentes continentes -- estritamente incorreto, ainda que possa ser uma "forma de dizer" válida para expressar a menor diferença, comparativamente a diferença "interna" (e na maior parte, comum) de cada grupo.
Uma forma de entender talvez seja pensar nas diferenças mais evidentes no fenótipo, aquilo que nos permite identificar visualmente a origem continental (ou algumas vezes, até bem mais precisa, como regiões da Europa) de uma pessoa. Se tem certas características faciais, formato do nariz, cor dos olhos, tipo de cabelo, cor da pele. Essas características são geneticamente determinadas, e não estão igualmente distribuídas pelos continentes, mesmo se considerarmos toda a miscigenação. Ao mesmo tempo, essas coisas são determinadas apenas por uma pequena fração dos aproximadamente 25 000 genes que os humanos têm.
A maior parte desses genes não têm variações tão localizadas quanto os genes que mencionei anteriormente, então é sim possível que pessoas de uma mesma origem regional, apesar de comumente, quase sempre, terem em comum uma série de genes, dentre os quais aqueles responsáveis por determinar variação de aparência característica daquela região, ainda assim difiram mais no restante dos genes. E podem, nesses genes "restantes", ter mais similaridades com pessoas de outra parte do mundo. Tanto no total (mais raro, mas não impossível), quanto em genes específicos (mais comum).
Talvez muitas vezes isso acabe sendo perdido dependendo da forma que expoem, simplificado demais, como uma forma de enfatizar apenas que o restante dos genes não "acompanha" aqueles responsáveis pelas diferenças visuais, como talvez seja a coisa mais intuitiva a se pensar (inclusive foi o que o cara que conduziu os primeiros estudos que averiguaram essa diferença maior entre populações do que inter-populações disse que esperava encontrar, não o que acabou encontrando). Não é porque duas pessoas têm genes para um nariz parecido, que serão geneticamente mais parecidas entre si em todos os outros genes, do que com uma pessoa que tenha um nariz diferente. Não é como se para quase todo gene houvesse um alelo afriano, um alelo asiático e um alelo europeu. A maior parte da variação alélica é comum a toda humanidade, ainda que uns dados alelos possam ser mais comuns numa região, outros em outras, e alguns exclusivos de algumas regiões.
Têm certeza que esse John Hawks, da Universidade de Wisconsin, EUA, usou realmente o método científico de forma correta, do modo que prescrevem os seus "legítimos defensores"?
Como disse no post anterior, eu tenho minhas dúvidas sobre se é realmente possível dizer que a introgressão tenha se dado no sentido neandertais → europeus em vez de no sentido inverso, uma variação que tivesse aparecido nos primeiros europeus, portanto não compartilhada com africanos, ter "entrado" no genoma neandertal daquela região dos neandertais estudados. Há alguns anos, não tinham encontrado algo assim, com neandertais russos (há que se considerar que também usaram outras técnicas). Então, sem conhecer melhor o estado das coisas, não sei dizer se é uma afirmação assim que se diga, "minha nossa, mas como é científica essa afirmação", mas de qualquer forma também não é nenhuma calamidade.