Miséria
Noma, conhecida como a "lepra dos pobres", mata cada vez mais pessoas na África
12 de julho de 2005
Milhares de crianças na África com idade entre 3 e 15 anos sofrem de uma doença conhecida como cancrum oris, ou noma, chamada popularmente também de "lepra dos pobres".
O noma, oriundo do grego "nomein" (devorar), é considerada uma doença pior que a Aids, pois a pessoa infectada carrega os sintomas por muitos anos. A doença ataca principalmente o rosto, corroendo-o e deixando-o em carne viva, desfigurando-o completamente. Os dentes ficam descobertos e o boca deformada.
Além disso, o noma acaba gerando a exclusão social. A maioria das pessoas infectadas são totalmente isoladas em suas casas, sendo tratadas como um verdadeiro animal abandonado.
Segundo um dos membros da Fundação Hymne aux Enfants (Hino às Crianças), Ariane Vuagniaud, o noma começa a se manifestar em um curto espaço de tempo, variando entre uma e três semanas, aparecendo primeiramente nas mucosas bucais e externas da criança, geralmente as principais vítimas da doença por serem mais fracas e desnutridas. O noma vai pouco a pouco corroendo o rosto da pessoa e exala um cheiro extremamente desagradével. Pesquisas indicam que um número entre sete e nove crianças entre 10 morrem por variadas doenças devido a facilidade do infectado em contrair outras doenças.
O noma já foi identificado em 35 países da África, resultado da miséria e das péssimas condições de higiene. Os povos africanos mais afetados são os peuls, nômades que sobrevivem da criação de gado, os pigmeus, no centro-africano e também no Sudeste da Ásia.
Apesar da doença já ter desaparecido há mais de 150 anos na Europa, embora tenha resurgido em pequena escala nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, na África o número de pessoas com o noma vem aumentando progressivamente.
No entanto, existem antibióticos que podem combater o desenvolvimento da doença, porém, um grande obstáculo é o acesso a meios para o tratamento, totalmente escassos nestas regiões onde reinam a absoluta miséria.
Komde, de 40 anos, contraiu o noma com apenas três anos de idade. Até hoje viveu enclausurado em sua residência e usa uma máscara para esconder seu rosto deformado. Komde é um dos pacientes que está recebendo tratamento no único centro especializado em noma, sendo localizado em Ouahigouya, ao norte do Burkina Fasso e financiado pela fundação Hino às Crianças.
Inúmeras crianças e adolescentes infectados pelo noma passam todo o tempo escondidos no fundo de suas casas ou nos pátios, sendo motivo de vergonha e terror para suas famílias.
"Alguns deles, mesmo que eles sejam adultos, comem sozinhos, vivem sozinhos, bebem num recipiente separado. Um deles é casado, mas é com uma mulher cega. Quase sempre, lhes são dadas mulheres que já são acometidas de graves enfermidades. Existem muito mais crianças escondidas nesta situação do que as pessoas imaginam", diz Moussa Zoundi, assistente social de uma ONG chamada Sentinela (Le Monde, 6/7/2005).
A pobreza na África é um resultado da exploração imperialista sobre a população pobre e trabalhadora, que não têm qualquer acesso às mínimas condições de vida, sem direito a educação e muito menos a saúde. O aparecimento de doenças há muito tempo já erradicadas nos países desenvolvidos arrasa centenas de milhares de pessoas, onde os países imperialistas assumem uma política desenfreada de opressão e exploração.
http://www.pco.org.br/conoticias/internacional_2005/12jul_noma.htm