Autor Tópico: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB  (Lida 2021 vezes)

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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Online: 18 de Maio de 2010, 19:01:09 »
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Publicado em 15/05/2010
Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB, a maior dos últimos dez anos
O GLOBO

RIO - Importante indicador da saúde fiscal de qualquer país, a dívida bruta - que é a dívida total do setor público - pode chegar a 64,4% do PIB no fim de 2010, o maior patamar em dez anos. Reportagem de Regina Alvarez publicada no GLOBO deste domingo mostra que essa herança do governo Lula para seu sucessor foi turbinada pelas operações batizadas de "empréstimos" que o Tesouro vem realizando com o BNDES desde o ano passado, por meio da emissão de títulos públicos. A projeção de que a dívida pode alcançar o montante recorde de R$ 2,2 trilhões em dezembro (ou 64,4% do PIB) é do economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências, e já considera a emissão de R$ 80 bilhões em títulos do Tesouro para reforçar o caixa do BNDES.

Na semana passada, o Tesouro concluiu a emissão desses papéis, que, somados, engordam a dívida bruta em R$ 180 bilhões. A primeira parcela de R$ 100 bilhões foi repassados ao BNDES em 2009, contribuindo de forma substantiva para o crescimento da dívida em cinco pontos percentuais do PIB, em relação ao ano anterior. Passou de 57,9% para 62,8% do PIB.

O crescimento robusto da dívida bruta - decorrente do aumento da dívida interna, já que a externa corresponde a apenas 3,4% do PIB - é visto com preocupação por muitos analistas. É um fator de risco futuro, em especial depois que a crise na zona do euro colocou em evidência a saúde fiscal dos governos. O que está em jogo, no caso do Brasil, é a credibilidade conquistada a duras penas nos últimos anos junto ao mercado internacional.

A crise global de 2009 abriu espaço para uma mudança radical de postura do governo do PT em relação às contas públicas. O acúmulo de superavits, que serviam para reduzir a dívida em relação ao PIB, foi substituído por uma combinação de aumento dos gastos com expansão do crédito por meio do crescimento da dívida pública.

Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #1 Online: 18 de Maio de 2010, 19:01:57 »
O que a Dilma tem a dizer sobre o assunto.

...
De O Globo

Como aconteceu com o tucano José Serra, Dilma também discutiu com a jornalista Míriam Leitão, que participou da entrevista:

MÍRIAM: A grande dúvida em relação à senhora é que a senhora nunca demonstrou apoiar políticas que garantiriam a estabilidade da moeda.

Por exemplo, controle de gastos.

Quando os ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo propuseram reduzir e zerar o déficit público, a senhora considerou a ideia rudimentar. E eles estavam certos. Tanto estavam certos, que a dívida pública, de lá para cá, passou de R$ 1,2 trilhão para R$ 2,2 trilhões. Agora, a senhora tem defendido estabilidade da moeda. Como a senhora mudou de ideia?


DILMA: Oh, Míriam, deixa eu te falar uma coisa: a nossa visão naquela época de ajuste de longo prazo, ela não estava completa. Não estava completa porque a questão do ajuste fiscal de longo prazo é algo que você constrói em relações complexas. Nós mantivemos sempre a trajetória e perseguimos… Aliás, eu queria te esclarecer: eu sou integrante da Junta Orçamentária, era. Todos os cortes de gastos aprovados por este governo foram aprovados com o meu acordo.

Todos os superávits primários, e as metas de superávit primário, foram aprovados com o meu acordo. Aliás, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mostra da nossa parte uma maturidade maior, porque não posso prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais alto e acaba mais baixo. É o inverso. Tenho que prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais baixo e passa para um patamar mais alto. O próprio plano de ajuste fiscal é um fator de elevação do nível de crescimento…

MÍRIAM: Ministra, eu tenho que te interromper. Porque a minha pergunta não está sendo respondida.
Está indo por um outro caminho…


DILMA: Estou tentando viu, Míriam.

Estou fazendo o melhor dos meus esforços para te responder.

No caso do PAC, nós trabalhamos com metas de superávit primário, de queda do déficit nominal e de taxa de juros. Tanto é assim que só porque o valor do PAC, o primeiro valor, R$ 500 e poucos bilhões, era consistente com essa trajetória — e você há de convir comigo que o único governo nos últimos (anos) que perseguiu quedas sistemáticas do endividamento foi o governo do presidente Lula…

MÍRIAM: Ministra, os números mostram o contrário. A dívida pública cresceu…

DILMA: É isso (falando alto). Houve queda sistemática do déficit fiscal.

É isso que é ajuste fiscal de longo prazo… Você está falando a bruta.

MÍRIAM: A bruta que é a mais importante.

DILMA: Então, vamos discutir porque a dívida bruta cresceu…

MÍRIAM: Deixa eu terminar minha pergunta. O governo Lula, a partir do momento que a senhora assume, e o ministro Palocci sai, começa a aumentar muito os gastos públicos. A senhora estava errada quando atropelou a proposta do ministro Palocci?

DILMA: Me desculpa, Míriam.

Você está falando uma coisa que não é correta.

MÍRIAM: Por que não é correta?

DILMA: O momento (em) que nós fizemos o maior superávit primário, tão grande que nós podemos constituir o fundo soberano, foi em 2008. Você está errada no que se refere a números. Além disso, você falou em dívida bruta, sabe por que cresceu? A nossa dívida líquida, você concorda que é cadente? Nós fizemos um pequeno desvio diante da crise, muito necessário para a gente poder sair da crise sem grandes consequências.

Aliás, o Brasil tem um dos menores déficits nominais, é uma das menores dívidas/PIB, a relação dívida líquida sobre PIB.

MÍRIAM: A senhora estava errada quando atropelou o ministro Palocci, a minha pergunta inicial?

DILMA: Só um pouquinho, me desculpa, eu acho que você está errada no conceito. Não houve essa questão. Nós temos perseguido cada vez mais, aprimorado, a nossa política de ajuste de longo prazo. Tanto é assim que, no caso da dívida bruta, as razões pelas quais ela cresce são o fato de a gente ter construído US$ 250 bilhões em reservas. Você sabe tão bem quanto eu que, se eu quiser reduzir a dívida, as reservas têm liquidez imediata, o compulsório que nós liberamos US$ 100 bilhões. O Banco Central liberou US$ 100 bilhões para os bancos e, ao fazê-lo, isso foi diante de crise. E por fim liberamos US$ 180 bilhões para o BNDES, um pouco menos do que isso, a título de garantir empréstimo e investimento de longo prazo e impedir que as empresas brasileiras tivessem menos oferta de crédito.

Então, não se pode discutir dívida bruta no Brasil sem dizer por que ela aconteceu. Senão, é como a gente lançar plumas ao vento. Eu digo que a dívida bruta subiu e não digo porque ela é, por exemplo, completamente diferente da dívida bruta da Grécia, que está quebrando. Nós não estamos quebrando, estamos cada dia mais robustos. Agora, que é importante entender, você está pegando uma discussão de 2005, que era como faremos. Sabe como fizemos? Colocamos o investimento na ordem do dia, mantivemos talvez nessa trajetória a maior queda nos últimos tempos da dívida líquida sobre PIB, e do déficit nominal. Fomos interrompidos pela crise? Fomos. Para sairmos de 3,6%, 3,3% do superávit primário e só fizemos 2,1%. Este ano, estamos repondo. A mesma coisa houve também no déficit nominal. Nós estávamos numa trajetória de queda do endividamento.

Acho que a grande conquista fiscal do Brasil foi desindexar a dívida externa brasileira das moedas externas. Foi altamente relevante.

...
« Última modificação: 18 de Maio de 2010, 19:05:56 por Eleitor de Mário Oliveira »

Offline Týr

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #2 Online: 18 de Maio de 2010, 19:34:33 »
Quero ver quando começarem os debates, não perco um. O problema é que quem precisa ouvir não entende.

Offline Moro

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #3 Online: 18 de Maio de 2010, 21:14:55 »
humm.. Dilma pareceu meio sem conteúdo aqui, não?
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Offline Geotecton

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #4 Online: 18 de Maio de 2010, 21:55:13 »
[...]

MÍRIAM: A grande dúvida em relação à senhora é que a senhora nunca demonstrou apoiar políticas que garantiriam a estabilidade da moeda.

Por exemplo, controle de gastos.

Quando os ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo propuseram reduzir e zerar o déficit público, a senhora considerou a ideia rudimentar. E eles estavam certos. Tanto estavam certos, que a dívida pública, de lá para cá, passou de R$ 1,2 trilhão para R$ 2,2 trilhões. Agora, a senhora tem defendido estabilidade da moeda. Como a senhora mudou de ideia?



DILMA: Oh, Míriam, deixa eu te falar uma coisa: a nossa visão naquela época de ajuste de longo prazo, ela não estava completa. Não estava completa porque a questão do ajuste fiscal de longo prazo é algo que você constrói em relações complexas. Nós mantivemos sempre a trajetória e perseguimos… Aliás, eu queria te esclarecer: eu sou integrante da Junta Orçamentária, era. Todos os cortes de gastos aprovados por este governo foram aprovados com o meu acordo.

Todos os superávits primários, e as metas de superávit primário, foram aprovados com o meu acordo. Aliás, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mostra da nossa parte uma maturidade maior, porque não posso prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais alto e acaba mais baixo. É o inverso. Tenho que prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais baixo e passa para um patamar mais alto. O próprio plano de ajuste fiscal é um fator de elevação do nível de crescimento…
[...]

Ahhhh. Então tá!!!!!!
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Offline calvino

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #5 Online: 18 de Maio de 2010, 23:13:55 »
humm.. Dilma pareceu meio sem conteúdo aqui, não?

Meio?

Como você está bonzinho hoje agnóstico.
"Se a moralidade representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, a economia representa o modo como ele realmente funciona" Freakonomics.

Offline Pandora

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #6 Online: 19 de Maio de 2010, 10:32:10 »
Quero ver quando começarem os debates, não perco um. O problema é que quem precisa ouvir não entende.

[2]

Obs.: é muito irritante fazer uma pergunta e a pessoa responder outra!!

Offline Dbohr

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #7 Online: 19 de Maio de 2010, 10:35:51 »
Escutei essa entrevista na CBN. Faltou a melhor parte, quando Dilma fala que talvez a Miriam Leitão não conheça bem os números e a Miriam (irritada, e coberta de razão): "Eu conheço muito bem os números, Ministra".

Eu adoro quando ela dá um calor nesses demagogos.

Offline Moro

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #8 Online: 19 de Maio de 2010, 20:24:10 »
na verdade um político normal não consegue manter uma discussão com a Miriam, isso porque ela (Miriam) não é uma especialista, se fosse ficaria ainda pior
« Última modificação: 19 de Maio de 2010, 20:56:29 por Agnóstico »
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Offline Diegojaf

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #9 Online: 19 de Maio de 2010, 20:45:07 »
humm.. Dilma pareceu meio sem conteúdo aqui, não?

Meio?

Como você está bonzinho hoje agnóstico.

Que é isso... ela parece tão bem adestrada...
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline Nina

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #10 Online: 19 de Maio de 2010, 22:00:42 »
A técnica do "embromation" é muito eficiente entre quem lê e não entende... É por isso que o povo merece seus governantes!
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline Dbohr

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #11 Online: 20 de Maio de 2010, 10:13:38 »
Legal é que basta uma eleição para você identificar aquela cadência típica de político em campanha: fala pontuada, cheia de apostos e vocativos (para o tempo da entrevista acabar logo), técnica de esquiva de fazer inveja a criacionista, TOTAL incapacidade de discutir (em vez de simplesmente decorar) números... :roll:

Eu era capaz de votar no primeiro fdp aventureiro que aparecesse que fosse capaz de lidar com números de forma decente.

Offline _Juca_

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #12 Online: 20 de Maio de 2010, 14:20:44 »
No Valor:

http://www.valoronline.com.br/?impresso/especial/195/6277437/estudo-mostra-divida-publica-brasileira-sob-controle

Estudo mostra dívida pública brasileira sob controle

João Villaverde, de São Paulo
20/05/2010

O temor dos mercados quanto a solvência dos Estados nacionais, diante do alto endividamento público, não ocorre no Brasil. A dívida bruta do setor público brasileiro, atualmente em torno de 63% do PIB, segundo o Banco Central (BC), deve cair a 60% em 2014. Segundo o Instituto de Administração Mundial (IMD, na sigla em inglês), que produziu levantamento com os dados de endividamento soberano de 58 países, os Estados Unidos só atingirão esse nível em 2033, enquanto os italianos diminuirão seus cerca de 120% de dívida bruta em relação ao PIB pela metade apenas em 2060 – o Japão, com alto endividamento e com crescimento lento do PIB, só deve alcançar esse nível em 2084.

O grande temor dos mercados globais está em saber se o enorme endividamento dos Estados pode ser resolvido sem calotes ou moratórias. É a dívida pública elevada que assusta os mercados quanto à Grécia, que foi resgatada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia. Da mesma forma, países ricos como Itália, Portugal, Japão, Estados Unidos e Reino Unido passam por problemas quanto ao financiamento de sua dívida, que chega a ultrapassar 100% do Produto Interno Bruto (PIB) – no caso japonês, a dívida bruta supera 200% do PIB.

Para Suzanne Rosselet, coordenadora do IMD na Suíça, o Brasil se tornou “um player global”. A grande conquista brasileira dos últimos anos foi “diminuir sua exposição à dívida externa”, afirmou, por telefone, ao Valor. Em dezembro de 2005, o país saldou tudo o que ainda devia ao FMI – cerca de US$ 15,5 bilhões que ainda restavam do empréstimo-ponte de 2002. Pouco depois, no começo de 2006, o país pagou sua dívida com o Clube de Paris. Desde então, com o nível crescente de reservas internacionais – que estão em US$ 249 bilhões, segundo dados do BC – e a queda do endividamento com o exterior, o Estado brasileiro é credor externo.

Se comparado ao desempenho dos países ricos, o nível de endividamento público em relação ao PIB brasileiro é pequeno. No entanto, avalia José Roberto Afonso, mestre em economia pela UFRJ e especialista em contas públicas, “não estamos bem quando comparados aos outros países emergentes”. Afonso trabalha com o dado mais amplo de dívida bruta, que leva em consideração a carteira de títulos do BC – desta forma, a dívida bruta como proporção do PIB passa de 63% para 68%. A média dos países emergentes é de 40%. “Mas é a trajetória que realmente preocupa”, diz o economista, “porque os emergentes reduziram sua dívida na última década, enquanto o Estado brasileiro aumentou”.

O aumento das reservas internacionais explica boa parte do aumento do endividamento bruto. No começo da década, as reservas eram de US$ 33 bilhões, enquanto hoje se aproximam de US$ 250 bilhões – um salto de 757% em dez anos. As reservas são formadas pela emissão de títulos públicos, remunerados pela Selic, uma das maiores taxas de juros do mundo – atualmente em 9,5% ao ano. Os dólares, no entanto, são aplicados, predominantemente, em títulos americanos, cuja taxa de juros atualmente oscila em torno de zero. “É um custo altíssimo, que aumentou enormemente nosso endividamento”, avalia Afonso.

Para Carlos Arruda, coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral, que ajudou o IMD nos dados brasileiros, o governo ampliou sua capacidade de arrecadação, melhorando o financiamento do Estado e a relação dívida/PIB. “Há pouca habilidade no manejo dos gastos públicos, com muita ineficiência. O Estado ainda ocupa muito espaço na economia”, diz ele. Para Suzanne, do IMD, há uma tendência de o Estado ocupar grande espaço na economia, convivendo ao lado do setor privado, “principalmente depois da crise”, afirma.

O impacto diferenciado da crise mundial ajuda a explicar a maior lentidão dos países ricos em “deglutir” o aumento do endividamento em comparação aos emergentes. Enquanto Estados Unidos, Japão e os países da União Europeia foram atingidos pelos canais financeiros e comerciais, os emergentes, como o Brasil, estimularam seu mercado doméstico.

Para Carlos Eduardo Gonçalves, doutor pela USP e consultor econômico, é preciso ter em mente que os países têm diferentes pesos, isto é, países ricos podem sustentar endividamento maior que países emergentes. “Países industrializados conseguiram manter altas dívidas por décadas sem entrar em colapso, o que deixa o mercado menos estressado que com um país emergente, que precisa ter mais rigor.” De acordo com Gonçalves, são os gastos elevados com despesas correntes, como benefícios previdenciários, que constituem “nosso calcanhar de Aquiles”, diz. “Se mudarmos a gestão de gastos, temos à frente um quadro muito melhor que outros países.”

Offline Geotecton

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #13 Online: 20 de Maio de 2010, 21:32:20 »
No Valor:

http://www.valoronline.com.br/?impresso/especial/195/6277437/estudo-mostra-divida-publica-brasileira-sob-controle

Estudo mostra dívida pública brasileira sob controle

João Villaverde, de São Paulo
20/05/2010

O temor dos mercados quanto a solvência dos Estados nacionais, diante do alto endividamento público, não ocorre no Brasil. A dívida bruta do setor público brasileiro, atualmente em torno de 63% do PIB, segundo o Banco Central (BC), deve cair a 60% em 2014. Segundo o Instituto de Administração Mundial (IMD, na sigla em inglês), que produziu levantamento com os dados de endividamento soberano de 58 países, os Estados Unidos só atingirão esse nível em 2033, enquanto os italianos diminuirão seus cerca de 120% de dívida bruta em relação ao PIB pela metade apenas em 2060 – o Japão, com alto endividamento e com crescimento lento do PIB, só deve alcançar esse nível em 2084.

O grande temor dos mercados globais está em saber se o enorme endividamento dos Estados pode ser resolvido sem calotes ou moratórias. É a dívida pública elevada que assusta os mercados quanto à Grécia, que foi resgatada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia. Da mesma forma, países ricos como Itália, Portugal, Japão, Estados Unidos e Reino Unido passam por problemas quanto ao financiamento de sua dívida, que chega a ultrapassar 100% do Produto Interno Bruto (PIB) – no caso japonês, a dívida bruta supera 200% do PIB.
[...]

Não se pode comparar a dívida do Brasl com a dos EUA por pelo menos dois motivos. O primeiro é que os EUA tem grau de risco 0 pelas agências classificadoras, portanto infinitamente menor que o do Brasil.

O segundo motivo é que os EUA tem a "máquina de fazer dólares", ou seja, podem emitir moeda mesmo sem lastro, embora o preço que seria pago por isto no longo prazo seria caríssimo. O Brasil não tem isto.

No caso do Brasil, o problema não está na dívida externa e sim na interna, que equivale a mais de 3 x o valor das reservas internacionais; agravado pelo fato de que a remuneração desta dívida também tem um custo elevadíssimo.

Então, a dívida é sim um gravíssimo problema e que tenderá a piorar se for mantida a atual política de expansão de gastos públicos em setores em que há pouco ou nenhum retorno na alavancagem da economia (custeio e aposentadorias).

E este alerta serve para qualquer futuro presidente.
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Offline Moro

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #14 Online: 20 de Maio de 2010, 21:45:24 »
tem uma boa questão aí.. 63% do PIB a uma taxa bem alta pode ter uma prestação equivalente (percentual em relação ao valor da dívida) a um país com 120% do PIB facilmente.

E os EUA, por enquanto, não quebram por definição.
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Offline calvino

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #15 Online: 21 de Maio de 2010, 09:02:17 »
Além do mais, certamente temos já a capacidade de crescer sem necessáriamente ter que aumentar a dívida interna.

Porque aumentá-la, então?
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #16 Online: 20 de Outubro de 2010, 22:43:51 »
Essa questão foi explorada nos debates?

Aliás, se encontram transcrições integrais ou vídeos integrais (ou ao menos edições não ultra-partidárias) por aí?

Offline calvino

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #17 Online: 21 de Outubro de 2010, 01:26:29 »
Não. Na verdade, o que de realmente importante foi discutido nos debates?  |(
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Offline Geotecton

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #18 Online: 21 de Outubro de 2010, 09:16:06 »
Além do mais, certamente temos já a capacidade de crescer sem necessáriamente ter que aumentar a dívida interna.

Porque aumentá-la, então?

Porque é a maneira mais fácil de capitalizar um governo do presente e deixar a "bomba" para um ou mais governos do futuro.

Há a emissão imediata de títulos da dívida pública, com o consequente recebimento do valor de face, com diferentes intervalos de vencimento (1, 3, 5, 10, 15, 20, 30 anos, por exemplo) e neste interim o Estado remunera os compradores, pois eles se tornam credores.
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Offline calvino

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #19 Online: 21 de Outubro de 2010, 12:39:46 »
E depois é só espalhar por aí que nunca antes na história desse país houve tanto $ sobrando?!?!?!
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Offline Diegojaf

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #20 Online: 21 de Outubro de 2010, 12:44:43 »
E depois é só espalhar por aí que nunca antes na história desse país houve tanto $ sobrando?!?!?!

Tá sobrando tanto que o pessoal tá cagando dinheiro, vide o pessoal com as cuecas completamente borrada de dólares... eca. :nojo:
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Offline calvino

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #21 Online: 21 de Outubro de 2010, 12:48:58 »
Que beleza :)
O cara é malandro demais.
Aumenta estratosfericamente a dívida interna, vendendo títulos públicos só para anunciar por aí que "pagou" a dívida externa, que povou o imaginário de muitos jovens hoje (eu inclusive), de que era impossível de ser paga (obrigado professoras!).
E segundo o Zeichner, em não sei qual tópico, a dívida interna é bem pior pois os juros são muito mais altos que a externa.

É muita malandragem :)
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Offline Diegojaf

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #22 Online: 21 de Outubro de 2010, 12:53:50 »
Isso pode explicar porque os petistas se mantiveram longe desse tópico.
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Offline Geotecton

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Re: Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB
« Resposta #23 Online: 21 de Outubro de 2010, 13:38:24 »
Que beleza :)
O cara é malandro demais.

Aumenta estratosfericamente a dívida interna, vendendo títulos públicos só para anunciar por aí que "pagou" a dívida externa, que povou o imaginário de muitos jovens hoje (eu inclusive), de que era impossível de ser paga (obrigado professoras!).

E segundo o Zeichner, em não sei qual tópico, a dívida interna é bem pior pois os juros são muito mais altos que a externa.

É muita malandragem :)

Caro calvino

Eu quero ser justo e não fazer juízo de valor.
 
O fato é que houve um aumento grande da dívida pública total (interna + externa) tanto no governo FHC como no de Lula, por motivos históricos específicos.

No de FHC ocorreu basicamente pela absorção das dívidas de estados e municípios (estima-se que na época cerca de 40% dos muncípios estavam em estado de insolvência), pelo aporte em obras de investimento que o Estado deveria ter passado para a iniciativa privada e pela elevada taxa de juros aplicada para atrair e remunerar o capital aqui investido. Ainda que a taxa fosse elevada no mundo inteiro, aqui ela era quase obsecena e em parte foi por erro da equipe econômica de FHC, que se concentrou em uma meta cambial e a manteve por muito mais tempo do que o necessário (opinião minha!).

No de Lula ocorreu basicamente para remunerar o capital de mesma natureza que o de FHC, ainda que tanto aqui como no mundo a taxa de juros tenha caído drasticamente desde o final de 2002 por causa de um período de grande crescimento do PIB mundial que começou em meados de 2000 e que se estendeu até meados de 2008. O segundo motivo foi para fazer frente ao grande crescimento das despesas com custeio, com programas sociais de cunho assistencialista e aos investimentos.

E aí eu quero esclarecer duas coisas importantes. O Programa de Aceleração do Crescimento não existe como processo alavancador de infra-estrutura na maneira como é alardeado, porque nele estão embutidos os investimentos de autarquias, empresas estatais ou de economia mista, e que fariam os aportes com ou sem PAC. A Usina Hidroelétrica de Belo Monte é um exemplo, pois seu projeto de viabilização e as primeiras obras foram realizados no governo de FHC. Ou seja. Não é uma estratégia e realização de um governo e sim do Estado.

O segundo ponto importante. Um forista aqui insiste em afirmar que a dívida pública não aumentou porque a relação dívida/PIB se manteve constante pelo fato de que houve um crescimento expressivo do PIB. Mas isto é apenas parcialmente correto.

A dívida pública aumentou em termos nominais (isto é, o seu valor total em reais), passando de 622 bilhões em 2002 para, em torno de, 1.670 bilhões em 2010. Em termos percentuais do PIB ela também aumentou, segundo os dados do Tesouro Nacional, passando de cerca de 38% em 2002 para 47% em 2010.

No entanto um aspecto do problema é frequentemente ignorado. O valor total da dívida hoje é quase três vezes maior que em 2002 e que mesmo com a queda dos juros, o valor total pago hoje sob forma de juros é cerca de 20% maior que em 2002. Ou seja, mesmo que a realação dívida PIB tivesse se mantido a mesma, ainda assim pagamos mais em termos reais do que antes. E, opinião minha, é um erro de estratégia fiscal e monetária que cobrará o seu preço em um futuro não muito distante.

Enfim, em minha opinião, os acertos foram maiores que os erros tanto no governo do FHC como no do Lula, no que concerne aos aspectos fiscais, monetários e tributários.

Mas a sociedade brasileira tem de se conscientizar que o nosso país tem aspectos que poderão se tornar problemas e que irão afetar a dívida pública e o crescimento do PIB se não forem resolvidos a contento. No meu entendimento, o sistema tributário, a previdência pública da população, a previdência do setor público e o tamanho e as atribuições do Estado são alguns destes aspectos.
Foto USGS

 

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