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Lavanderia vaticana25/05/2010 12:26:36Wálter MaierovitchUm escândalo de lavagem de dinheiro envolve dois influentes monsenhoresCerta vez, em encontro internacional sobre repressão à lavagem de dinheiro sujo, chegou-se à conclusão de que o sucesso de uma operação criminosa dependia muito da criatividade do fautor, ou seja, do lavador. No Brasil, já tivemos ações ousadas. De bilhetes premiados comprados por deputado à tentativa de o Timão virar lavanderia gerida por testa de ferro iraniano de oligarca russo.A meta da burguesia criminal que precisa lavar e reciclar capitais sujos é, caso sejam usados os canais legais do sistema financeiro, embaralhar os rastros deixados pela circulação de capitais em redes telemáticas do tipo Swift, esta criada em 1973 pelas 250 maiores instituições financeiras. Em breve, o papa Joseph Ratzinger terá novo dissabor com a chegada, no Estado do Vaticano, de uma carta rogatória com indagações feitas pela magistratura do Ministério Público de Perúgia sobre lavagem de dinheiro sujo por meio de instituições religiosas e de movimentações em contas correntes no Banco do Vaticano. O Istituto per Le Opere Religione (IOR) nasceu após o escândalo do Banco Ambrosiano, no qual pontificaram os falecidos Roberto Calvi e Michelle Sindona, apelidados de banqueiros de Deus e da Máfia.Na mira dos magistrados de Perúgia estão a Congregazione Missionari del Preziosissimo Sangue di Gesù e a Propaganda Fide, esta fundada em 1622 para cuidar da evangelização dos povos. A Propaganda Fide detém um patrimônio imobiliário no centro histórico de Roma avaliado em 9 bilhões de euros.Da rogatória poderão constar também pedidos de quebras de segredos bancários dos monsenhores Francesco Camaldo e Evaldo Biasini, respectivamente, com 60 e 83 anos.Os magistrados investigam concessões de obras e serviços públicos a favorecer uma cricca (bando) comandada pelo construtor Diego Anemone e pelo engenheiro Angelo Balducci, correntista do IOR, membro leigo da Propaganda Fide e ex-presidente do Conselho Superior de Obras Públicas da Itália. Segundo as investigações, a Construtora Anemone restaurou imóveis da Propaganda Fide, além de reformas de igrejas.Em troca de favores, a construtora, por prestanomes, oferecia apartamentos de luxo, promovia reformas estruturais e decorativas. Os beneficiários seriam políticos, prelados e altos funcionários públicos, como, por exemplo, o general Francesco Pitorru, carabineiro lotado no serviço secreto, que levou dois apartamentos, e Ercole Incalca, homem forte do Ministério da Infraestrutura. Favores sexuais também eram prestados na Salaria Sport Village, centro de relaxamento pertencente a Anemone, com duas brasileiras no quadro de empregados: Monica da Silva Medeiros, fisioterapeuta, e a promoter Regina Profeta.O monsenhor Camaldo goza de prestígio na alta sociedade italiana, tem blog, Facebook e recita orações no YouTube. Em função religiosa é ele quem coloca o solidéu na cabeça de Ratzinger, estica-lhe os paramentos e segura o microfone. Como escriturário, participa do secreto conclave de eleição do papa e elabora a ata.Para Laid Hidri Fathi, motorista do construtor, Camaldo abriu as portas do Vaticano para a dupla Anemone e Balducci. Sem saber que estava na mira das investigações, o monsenhor, quando da prisão preventiva de Balducci, deu declarações à imprensa: “É uma pessoa de absoluta transparência moral, conhecida e estimada no Vaticano”.O monsenhor Biasini, responsável pela direção financeira da Congregazione Missionari del Preziosissimo Sangue di Gesù, fez dela, como confessou, um caixa 2 da construtora de Anemone. Por meio de um esquema de corrupção, a construtora foi contemplada com as obras públicas destinadas aos encontros do G-8 na ilha de Maddalena, na Sardenha, em 2009, ao Mundial de Natação, em Roma, também em 2009, e às futuras comemorações dos 150 anos de Unificação da Itália, em 2011.Anemone desembolsou 900 mil euros para completar a compra de um luxuoso apartamento, com vista para o Coliseu. Os 900 mil euros saíram do caixa 2 gerenciado pelo monsenhor Biasini. O contemplado foi o ministro Claudio Scajola, da pasta de Obras Públicas, que só pagou uma parte do preço final estabelecido em 1,7 milhão de euros.O apartamento pertencia às irmãs Beatrice e Barbara Papa, que provaram ter recebido à vista o 1,7 milhão de euros. A escritura de compra e venda foi passada em nome de Scajola, por um valor inferior a 660 mil euros. O arquiteto Angelo Zampolini, da gangue de Anemone, fez a entrega de 80 cheques distintos às vendedoras, no total de 900 mil euros. Ou seja, para despistar, Zampolini trocou no Deutsche Bank os 900 mil euros tirados do caixa 2 do monsenhor Biasini por 80 cheques ao portador.Pano Rápido. Ratzinger deve estar a sentir odor de dinheiro sujo entre as muralhas do Vaticano. Não se sabe se o sentiu no domingo, quando convocou-se, na Praça São Pedro, um encontro de fiéis em sua solidariedade, em face da suspeita de acobertamento de casos de pedofilia. Mais de 200 mil fiéis lotaram a praça. Camaldo não foi visto.