Autor Tópico: Psiquiatria bioeletrônica  (Lida 701 vezes)

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APODman

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Psiquiatria bioeletrônica
« Online: 24 de Julho de 2005, 11:00:28 »
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Psiquiatria bioeletrônica

MARCELO GLEISER
COLUNISTA DA FOLHA

Em seu romance de ficção científica "A Pedra Filosofal", o inglês Colin Wilson relata a história de um neurocientista que faz uma descoberta fenomenal: a aliança da eletrônica com as ciências cognitivas pode transformar cérebros normais em supercérebros, com poderes inimagináveis. O cientista implanta eletrodos em certas regiões da córtex cerebral frontal, a área da inteligência, estimulando-as com pequenas correntes elétricas. Os resultados são surpreendentes: ele passa a ter uma capacidade racional infinitamente superior à normal, incluindo poderes paranormais e conexões com o passado e o futuro. O supercérebro pode viajar no tempo sem sair do lugar.


Recentemente, o filme "O Candidato da Manchúria" revisita o tema, adaptando-o ao clima de intriga política e corrupção corporativa que existe hoje nos EUA. No filme, soldados são usados como cobaias em um experimento, onde eletrodos são implantados nos seus cérebros com o intuito de controlar as suas memórias e desejos. Não só os soldados se lembram apenas daquilo que os seus controladores permitem, mas suas memórias podem ser fabricadas por um processo de hipnose induzido pelos eletrodos. Ou seja, a tecnologia pode ser usada maquiavelicamente para criar autômatos humanos. Inclusive o futuro presidente dos EUA.
Passando da ficção à ciência, a tecnologia de implante de eletrodos no cérebro está sendo desenvolvida em vários países, incluindo Canadá, Alemanha, EUA e Bélgica. O intuito dos neurocirurgiões não é criar autômatos mas aliviar o sofrimento causado por várias doenças psiquiátricas, como a obsessão compulsiva, o mal de Parkinson e a depressão profunda.
A técnica, chamada de Estimulação Cerebral Profunda (ECP), é surpreendentemente semelhante àquela das obras ficcionais. Microeletrodos com a espessura de um cabelo humano e seis milímetros de comprimento são inseridos em regiões profundas do cérebro, que variam com a doença a ser combatida. O processo de inserção é complicado, já que o cirurgião deve evitar a perfuração de artérias e se certificar de que o local certo foi atingido. Os eletrodos estimulam eletricamente o cérebro, interferindo com os canais de comunicação entre os neurônios.

Como vários distúrbios psiquiátricos são associados a bloqueios ou disfunções neuronais, a idéia é que os impulsos elétricos podem restituir às regiões danificadas um nível razoável de funcionamento. A técnica está em desenvolvimento, mas os testes preliminares são animadores.
Em torno de 30 mil operações desse tipo foram já feitas no mundo, especialmente no tratamento do mal de Parkinson. Em muitos, o estímulo elétrico alivia imediatamente a paralisia muscular associada com a doença. Um paciente do doutor Bart Nuttin, da Bélgica, que sofria de transtorno obsessivo-compulsivo, mudou de comportamento quase instantaneamente. A técnica aponta para uma nova era da psiquiatria e psicologia, onde medicamentos e terapia são apenas parte do tratamento.
Questões éticas são inevitáveis. Para os que sofrem de distúrbios psiquiátricos potencialmente tratáveis por ECP, não existe dúvida: se uma nova terapia pode aliviar o sofrimento de pacientes, deve ser desenvolvida o mais rapidamente possível. Mas o temor das fantasias ficcionais existe. Talvez um dia seja possível manipular o núcleo de memórias de alguém, ou até comportamentos, com intenções criminosas. Mas proibir ou ignorar um avanço capaz de aliviar o sofrimento de milhões é crime muito maior.



fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2407200502.htm


[ ]´s

rizk

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Psiquiatria bioeletrônica
« Resposta #1 Online: 24 de Julho de 2005, 14:21:23 »
Por isso que o Gleiser é meu amor. Também não sei até que ponto é sensata essa preocupação. Sinceramente.

Já acabou há MUITO tempo a época em que éramos "naturais". Dá vontade de rir destas pessoas que têm saudosismo do que nunca viveram: primeiro, vem a birra infantil com essa turma que condena terapia gênica e estudo com CTE, e estes eletrodos aí, e outros, porque eles fazem tomografia e usam celular, né.

Depois, porque tentar preservar a "pureza" da raça humana é absolutamente despropositado, é fazer juízo valorativo no que não cabe, é como perguntar-se se é melhor para o homem moderno reproduzir-se sexuada ou assexuadamente. Vê bem: sexuado é legal porque faz bem pro humor e pra pele, mas por outro lado o flerte dá muito trabalho, e seria legal se a pessoa quisesse ter filhos e desatarrachasse um braço, ou sei lá, não tem que pagar pensão pra ex-esposa, etc. Valor só existe entre os civilizados, não tem destas coisas na natureza. E portanto não dá pra tentar encontrar TRADIÇÃO no comportamento dos homens primitivos. Eu lembro de um texto do Varella em que ele falava sobre como o fato de os homens primitivos comerem muita gordura, dormirem a siesta (é anacrônico falar de siesta, mas paciência), e tal foi fator determinante para o sucesso da raça no mundo. Mas aí ele dizia que hoje a situação é diferente, e o nosso sucesso HOJE depende de não fazer mais essas coisas. Dá pra aproveitar a idéia, eu acho.

Se a gente tem capacidade pra fazer, e necessidade de fazer, tem que fazer, ué. Isso também me lembra TJ e transfusão de sangue. A partir do momento que a pessoa entende está vivendo aqui na Terra, com tudo o que isso implica (ou seja, que os motivos das pessoas têm que se relacionar com a nossa vida aqui), não faz sentido ter medo de que o mundo vire o Admirável Mundo Novo, ou sei lá o que passa na cabeça das pessoas. É a vida, sabem, é a coisa que nos faz GENTE, mesmo.

A maior das invenções é a política; se a gente desenvolve coisas que podem ter mau uso (o que é ÓBVIO), a gente regula o uso através das leis. E FIM, sabem. Esse medinho,  na minha terra, chama-se de  "síndrome do bom selvagem" e é caso pra internação. Se os fulanos têm tanto medo da civilização... pelo bem da coerência, que faça-se a revolução e vamos todos viver na floresta e voltar à vida de caçadores-coletores. Mas aí mudam de assunto.



Enfim, quick answer: ANACRONISMO É PECADO.

Offline Rodion

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Re.: Psiquiatria bioeletrônica
« Resposta #2 Online: 24 de Julho de 2005, 14:23:16 »
ainda cultivamos o mito do bom selvagem...
agora tem um novo, o bom operário...  :)
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

 

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