Essa é uma tese marxista que já foi desmentida pela realidade.
Os homens são competitivos até no excesso. Na abundância.
O problema principal é que em seu posicionamento, você reduz a questão de abundância/escassez somente a coisas tangíveis. E as intangíveis, como informação e a educação?
Não sei se você já ouviu falar de um livro do Patrick Tierney: "Darkness in El Dorado". Mas esse jornalista faz acusações muito graves sobre a atuação de antropólogos que viveram junto aos ianomâmis venezuelanos nos anos 60, 70 e 60. Especialmente ao americano Napoleon Chagnon, que teria feito experimentos com os índios encomendados pelo Pentágono.
Indios dos anos 60 e 70, que já teriam tido certamente algum tipo de contato com a civilização moderna capitalista. A grande maioria tinha noção do que significava a ideia de “propriedade”. A propriedade foi surgir como fruto da revolução do neolítico, com a invenção da agricultura, que propiciou-nos a guardar excedentes e a possuí-los como lucro. Isto ocorreu a uns 9000 anos, pelo menos. Não tem como você querer usar tribos dos anos 60 pra comparar com tal situação de mais de 9000 anos atrás, pois a agricultura já era parte da maioria das suas sociedades em pleno século XX.
Ocorre que, ao termos excedentes, o comercio foi inevitável. Então a escassez nos empurrou para a criação de competição e propensão direta a “trapaciar”, com fins lucrativos. Por isto surgiu a regulamentação e o próprio Estado, para decidir as regras e mantê-las, mas o próprio estado é e sempre acaba se tornando também uma máfia legalizada, assim como os cartéis capitalistas pelo mundo.
Mas também o francês Lizot, adversário acadêmico e ideológico de Chagnon, não escapa incólume
das revelações de Tierney.
Aparentemente a Antropologia tinha se convertido em uma arena ideológica onde "pesquisadores" simpáticos a ideias de esquerda ou de direita, ou patrocinados por interesses investidos destas simpatias, procuravam ratificar ou refutar algumas teses centrais do marxismo sobre a real natureza humana, através do "estudo" do comportamento e cultura de povos primitivos.
Chagnon, americano, defendia que os ianomâmis eram cronicamente propensos à guerra. O que, por tabela, daria um xeque-mate no mito do "Novo Homem" que emergiria de uma sociedade marxista. Já o trabalho de Lizot, não surpreendentemente, via nos mesmos ianomâmis a confirmação dessa tese.
O mesmo caso anterior: além de resumir a questão da escassez/abundância a coisas tangíveis apenas, reduz ainda mais ainda as possibilidades se apegando limitadamente a tais “experimentos” antropológicos apenas, para derivar suas opiniões.
Como já indiquei antes, temos a questão envolvida aí da abundância em acesso a informação e, portanto, também a tecnologia e energia. Além disso, a educação é algo também necessário dentro de um âmbito social maximizado, não dependendo isto unicamente da mudança material da sociedade. Esta “noosfera” intangível, pertencente ao mundo humano também conta dentro desta conta de escassez VS. Abundância. É fato real que a abundancia de informação propicia a um aumento direto da tecnologia e da educação (se propagada de modo amplo). A tecnologia, por sua vez, muda o ambiente a medida que evolui e se espalha, mudando o comportamento humano no caminho ao modificar o seu ambiente. Tais tribos do século XX, ou os índios americanos encontrado pelos Europeus, tinham também tal acesso em abundância a informação e tecnologia que temos hoje? Trata-se então do mesmo caso exatamente? Tinham algum tipo de educação minimamente razoável para se conseguir algo como uma sociedade mais evoluída neste sentido aqui discutido, ou apenas conhecimentos puramente intuitivos e místicos sobre a realidade?
Além disso, você aparentemente desconsidera a existência do fenômeno natural da epgenética. Ela é uma forma de repassar comportamentos aprendidos de uma geração para outra: https://pt.wikipedia.org/wiki/Epigen%C3%A9tica
Porém, pelo o que o comportamento de ambos sugere, estavam menos interessados em Ciência e realidade do que em confirmar conceitos pré-concebidos.
Concordo plenamente que devemos prestar total atenção a isto. A “ideologia”, no sentido marxista, deve ser suprimida totalmente.
Mas é fato que quando os europeus aqui chegaram não encontraram aquele bom selvagem dos mitos: nu, puro, imaculado e pacífico...
O mesmo reducionismo de antes.
Eu tenho certeza que este nosso atual modelo não se sustenta e esse capitalismo não tem nada de selvagem, porque a selva é um ecossistema operando em um ciclo completo de sustentabilidade, ao contrário do padrão predatório de consumo da nossa sociedade.
Isto é o que podemos chamar de "distúrbio no sistema de valores" da sociedade. Isto é o tipo de coisa que leva e já levou vários sistemas complexos adaptativos à extinção. E, provavelmente, levará o nosso social global.
Assim como o câncer é em parte um distúrbio do sistema imunológico, tradições sociológicas que persistem com uma crescente formação de problemas para a sociedade poderiam ser chamadas de um distúrbio do sistema de valores.
Veja mais a fundo a questão: http://umanovaformadepensar.com.br/disturbio_do_sistema_de_valores O capitalismo, do modo existe hoje, é uma utopia. E todos só vão se convencer de que sempre foi uma utopia quando essa joça toda colapsar derradeiramente.
Então sejamos objetivos: como deve ser o capitalismo não utópico? Como ele deve funcionar na sua opinião para que seja minimamente sustentável, dado seu nível de complexidade?
Porque utopia não significa só impossibilidade de existência, mas é tudo aquilo que se vier a existir será de uma maneira insustentável. A prova é que o Homem já implementou inúmeras utopias prometendo a solução de seus problemas intrínsecos: desde comunidades filosóficas, religiosas, revolução cultural maoísta, sociedades marxistas... mas nada disso resistiu às contradições entre seus postulados e a real natureza humana.
Por isto devem ter falhado, pois não existe tal coisa de perfeição, de algo como “a solução de seus problemas intrínsecos”. Não existe sistema perfeito, visto que a segunda lei da termodinâmica determina isto. É algo físico, fincado na realidade. A “Utopia” só serve e sempre servirá para nos fazer caminhar, nada mais. “O progresso é a concretização de utopias”. O que podemos é melhorar muito mais o que existe, com possibilidades gigantescas e não alcançarmos o paraíso bíblico, pois ele só existe na bíblia, assim como o LIVRE arbítrio pregado por muitos “religiosos” aqui.
O movimento Zeitgest repete esse mesmo equívoco; vocês estão construindo toda uma teoria social fundamentada em falsos axiomas. Como esse, de que certos padrões observados desde sempre em todas as culturas são condicionados por uma suposta escassez. No fundo é o velho mito marxista da criação de um "Novo Homem", disfarçadamente reconfigurado. Esse mito inspirou a Revolução Cultural na China, e outra ainda mais radical no Cambodja, que não geraram o novo homem coisíssima nenhuma: o resultado foi muita miséria - por ironia, muita escassez - e milhões de mortos.
Hoje existe uma gama enorme de experiência e correlações que indicam a relação entre tendências comportamentais destrutivas (ou não) ao ambiente social que, em essência, é resultado do modelo econômico adotado pela sociedade. Experiências tem demonstrado que possivelmente podemos ser muito mais sociáveis e pacíficos do que pensávamos antes. Vejamos:
A relevância da natureza da interação social é mais profunda do que se pensava. A correlação entre os diversos fatores macro-sociais e problemas de saúde pública, tais como expectativa de vida, transtorno mental, obesidade, doenças cardíacas, violência e muitas outras questões sociológicas, foram bem resumidas no livro The Spirit Level, escrito por Richard Wilkinson e Kate Pickett, Penguin, março 2009.
O termo "plasticidade comportamental" pode ser aqui aplicado como uma extensão de "neuroplasticidade", que se refere a mudanças ativas nas vias neurais e nas sinapses. Assim como o cérebro era considerado um órgão estático, o comportamento humano - expressão da atividade cerebral - claramente também sofre mudanças. Por mais complexos que assuntos como o "livre-arbítrio" e os processos de decisão sejam para as ciências psicológicas, a natureza da mente humana demonstra, claramente, adaptabilidade e vulnerabilidade às condições externas. Ao contrário de nossos ancestrais primatas, nosso neocórtex avançado* parece ser um centro de pensamento consciente e, nas palavras do Dr. Robert Sapolsky, neurocientista da Universidade de Stanford: "Em um certo nível, a natureza de nossa natureza não será particularmente limitada por nossa natureza
A ideia de que os seres humanos são motivados por uma necessidade inerente de "vencer" os outros, ganhando, por exemplo, mais recompensas materiais e financeiras que os outros, não tem justificativa confiável fora a visão intuitiva extraída da condição do mercado, por design altamente competitivo e voltado para a escassez, em que a humanidade encontra-se hoje. Sem Concurso: O caso contra competição [No Contest: The Case Against competition], Alfie Kohn, Boston, Boston: Houghton Mifflin, 1986
Mesmo dentro da antropologia, existem estudos comparando nossos primos evolutivos, que possuem 99% se seu gene semelhante aos nossos: chimpanzé e bonobo. Que demonstra a enorme possibilidade de nos tornarmos muito menos agressivo diante do ambiente adequado.
Veja:
http://blog.movimentozeitgeist.com.br/faca-amor-ou-faca-guerra-o-eterno-dilema-humano-esta-escrito-em-nossos-genomas-e-em-nossa-historia-parte-1/Além de tudo isto, temos uma questão central, que é o fato de que
a Ciência é nossa melhor chance para conseguirmos alcançar algo além do niilismo cinista atualmente instalado na maior parte da sociedade esclarecida. De modo algum afirmo que a questão é encerrada. O conhecimento deve ser livre e sempre mudar diante de novos fatos. Sugiro fortemente a intensificação de mais testes e simulações de todos os tipos possíveis. Investimento maciço da ciência neste propósito. E seguir a ciência não é apenas adotar sua tecnologia, mas seguir o que ela diz sobre suas mais amplas teoria verificáveis atualmente, que é a
teoria dos sistemas complexos. Este é o campo científico em essência que deve ser buscado, entendido e levado em conta, pois é o paradigma atual da ciência para se entender sistemas complexos adaptativos como é uma sociedade humana. TEMOS que entender o funcionamento dos sistemas complexos sociais se quisermos ter alguma chance na empreitada da sustentabilidade social e ecológica. Não entender isto é precário.
Leia e diga o que acha:
Smith e depois Hayek habilmente entenderam como a sociedade é um sistema complexo que tende a se auto organizar dentro de um mercado de relações e trocas humanas, emergindo daí uma ordem espontânea e complexa dentro da sociedade ao cada individuo buscar livremente seus interesses pessoais e torna-los intercambiáveis por meio de produtos tangíveis (bens) e intangíveis (ideias). Porém, a visão capitalista de livre mercado defendida por ambos, onde vigora a ideia de propriedade individualizada dos meios de produção e de criação intelectual (patentes), diminui enormemente a essencial liberdade necessária para que essas trocas ocorram dentro do mercado humano, de modo a diminuir substancialmente o florescimento de todo o potencial da sociedade. A imposição da propriedade privada dos meios produtivos acaba por gerar toda uma enorme gama de burocracia, necessária para resguardar e regular a posse, levando a um complexo e burocrático sistema jurídico e institucional. A democracia produtiva de produtos tangíveis e intangíveis é radicalmente amputada desta forma, inviabilizando um mercado de ideias e produção muito mais livre e, portanto, muito melhor para o surgimento da auto organização social suscitada por estes pensadores liberais. A Democracia Produtiva, implementada pelo acesso menos burocrático possível aos meios de produção e às informações de produção, é sem dúvida um dos principais pilares para o surgimento de uma sociedade dinâmica. Porém, até então, a escassez obrigatória não permitia que o sistema social funcionasse sem a existência da propriedade privada, sendo uma forma de administrá-la mais eficientemente àquela altura, mas que inevitavelmente gera demasiada burocracia produtiva e elevada entropia a todo o sistema econômico. Marx conseguiu entender que a propriedade privada dos meios produtivos era um entrave real ao florescimento da sociedade, geradora de várias consequências indesejáveis como a necessidade de lucro monetário e de exploração do trabalho humano, elegendo o Estado como o meio pelo qual esta Democracia Produtiva poderia existir na sociedade da forma mais livre e ampla possível. Porém, este acesso livre aos meios de produção não se trata de sua simples estatização, mas principalmente de torná-los de acesso público e amplo, não apenas a uma elite estatal ou governamental. Tecnocratas, como Thorstein Veblen, vieram depois a enfatizarem a eficiência técnica como necessária para a criação de uma sociedade abundante, além de outros, como Jacque Fresco e Peter Joseph, que enfatizaram a necessidade de eficiência técnica máxima também para a preservação ecológica nos sistemas sociais.