A ótica do olhar...
"Só se vê bem,com o coração"(A. de S. Exupéry)
Já se fizeram tratados sobre o olhar! A ótica do olhar, parece redundância, mas é coisa séria. Seriíssima, aliás !
Escritores, poetas,sociólogos, psicólogos, todos já falaram à respeito dos significados que o olhar traz.
Os românticos o vêem sob a ótica do amor.
Tito Madi, nos encantava na década de 60 com estes versos:
"Quero todo teu olhar no meu,
Quero todo teu amor pra mim...." também cantamos todos: "este teu olhar, quando encontra o meu, falam de umas coisas que nem posso acreditar..."
E quem não se recorda com saudades de: "teus olhos, são duas contas pequeninas...que brilham mais que o luar..."
A importância que se dá ao olhar, sempre foi preocupação universal.
Os russos tornaram imortais os "Olhos Negros". Os latinos nos ensinam: "Aqueles olhos verdes, translúcidos serenos.. parecem dois amenos, pedaços de luar..."
A canção portuguesa nos diz: "Teus olhos castanhos de encantos tamanhos... sinceros, leais..."
Machado de Assis,nosso escritor maior, nos intriga com os olhos enviesados e dissimulados de Capitu.
Sem dúvida nenhuma, o olhar é significativo demais porque a um só tempo que enxerga o mundo, espelha a alma.
Há quem veja sem enxergar, e há quem enxergue sem ver.
Olhos alegres refletem alma alegre. Olhos tristes são o espelho de uma alma ensimesmada por angústias.
Há que se ver com o coração nos diz Exupéry. Contudo, em se vendo com o coração, ficamos nas mãos da coisa mais incoerente, irracional e sem limites que existe dentro em nós. Já não mandamos nessa ótica, porque nos foge o controle. Escapa do nosso decidir. O coração é feitor, e pouco se importa com nossa dor.
Mas o maior enigma, a mais difícil equação de nossas vidas, está em olharmos pra dentro de nós mesmos. Há que ser um olhar garimpeiro!
Há que ser um olhar perscrutador! Há que ser um olhar verdadeiro!
Um olhar que saiba decifrar as pequeninas inquietações, mas saiba também enxergar a solução,pra que elas não se tornem fantasmas a nos assombrar pela vida à fora. Olhar pra dentro de nós mesmos, exige um olhar sábio e corajoso, sem meias verdades, sem tergiversações. Quando nosso eu,se sente desnudado pela verdade de nosso próprio olhar, há um ressurgimento em nós de uma esperança de total e radical mudança.
Daí começamos a perceber coisinhas miúdas aparentemente indeléveis, mas tão prazerosas que precisam ser trazidas à tona, afloradas, cultivadas.
Pouca importância tem a cor do olhar. O que importa, é a amplitude e a imensidão de amor e compreensão, seja para ver o exterior, seja para ver nosso interior.
O olhar precisa ser carregado de significados,sim, mas muito mais de significantes.
Olhar além de nós, olhar dentro em nós, não importa...
O que importa é que seja um olhar corajoso, sem medo de ver o que não se quer ver.
Olhar sem medo de ver,de repente, o que nunca se viu, e ter coragem de reconhecer!
Então vamos completar o pensamento de Exupéry, dizendo :
"Só se vê bem, se pusermos o coração no olhar, para que o essencial não se torne invisível aos olhos!"