Com o aumento do mercado editorial brasileiro houve um salutar crescimento no número de livros, revistas e matérias jornalísticas destinadas à divulgação científica para os mais variados públicos, tanto em termos de faixas etárias como de nível formal de instrução. Entre as publicações destacam-se as revistas Scientific American Brasil, a Ciência Hoje e a Pesquisa Fapesp.
No entanto uma faceta negativa também acompanhou este crescimento: O despreparo de muitos autores e publicações na missão de trazer as informações da Ciência para o público leigo, principalmente com o uso de termos, expressões e conceitos equivocados, dos quais destaco dois exemplos viscerais.
Exemplo 01Li e analisei o livro infanto-juvenil sobre vulcões da editora Melhoramentos, cuja autoria é de Anita Ganeri, intitulado "Vulcões Violentos" e que foi traduzido do original em língua inglesa denominado "Violent Vulcanoes".
Ainda que contenha muitas informações relevantes e se destine a um público leigo de idade escolar básica, esta publicação falha em dois pontos fundamentais, em meu entendimento, e que são o uso de figuras esquemáticas muito pobres e de um vocabulário inadequado. Deste caso, cito e comento três exemplos.
A) Na capa está escrito "
Saber Horrível - Vulcões Violentos".
O que a autora quis dizer, em termos pedagógicos, com a expressão "
Saber Horrível"?
A expressão "
Vulcões Violentos" é a primeira que atribui um comportamento humano à um ente da natureza (vulcão).
B) Na página número 5, a de "Introdução", tem estes trechos:
- "
Geografia pode ser terrivelmente chata... ";
Esta frase é totalmente infeliz, pois trata de forma pejorativa um importante segmento do conhecimento humano.
- "
As melhores partes da geografia são horríveis - aquelas que seu professor provavelmente deixa de lado";
Afirmação tola, descabida e sem sentido.
- "
Rochas incandescentes e gases assustadores agitam-se sem parar sob seus pés, até que um dia, não conseguem mais resistir à pressão e estouram, aflorando à superfície com estardalhaço. É assim que surgem os violentos vulcões, objetos da vulcanologia, uma das mais horrivelmente interessantes partes da geografia."
"Rochas incandescentes e gases assustadores agitam-se sem parar sob seus pés..."? Será que é um mestre oriental andando sobre brasas?

Gases assustadores? Que ridículo!
"...até que um dia, não conseguem mais resistir à pressão e estouram, aflorando à superfície com estardalhaço."Conceito equivocado, pois os gases é que formam a pressão excedente na câmara magmática.
"É assim que surgem os violentos vulcões, objetos da vulcanologia, uma das mais horrivelmente interessantes partes da geografia." Três erros em uma só frase: atribuir emoções a um ente da natureza ('violência'); usar uma palavra sem sentido descritivo científico ('horrivelmente') e considerar a vulcanologia como uma subdivisão da geografia quando é, de fato, da geologia.
C) Na página número 7, na figura que representa o vulcão Saint Helens, há uma flecha com um balão no qual está escrito "
Saliência Agourenta". Na mesma página há um trecho assim escrito: "
Para os observadores, parece quase impossível que a bela montanha possa se transformar num assassino violento."
Mais dois casos de uso de atributos humanos em um ente natural.
Exemplo 02No segundo meado da década de 90, a revista Superinteressante, da editora Abril, publicou duas matérias, uma sobre minerais e outra sobre vulcões. No caso dos vulcões a matéria trazia um perfil geológico esquemático de um vulcão clássico, o estratovulcão, com suas típicas camadas sucessivas de lavas e rochas piroclásticas, e as rochas encaixantes do entorno.
O problema, neste caso, foram os símbolos e as cores utilizadas para representar as camadas deste vulcão e das rochas encaixantes, pois existe uma convenção internacional que estabelece as regras para representação esquemática e que foram desrespeitadas pela revista.
O magma que estava na camara magmática e no conduto principal estava representado pela cor amarela e pelo símbolo de "parede de tijolos". A cor amarela é usada para rochas sedimentares ou sedimentos inconsolidados do tipo arenoso, ao passo que a "parede de tijolos" é usada para representar rochas calcáreas ou mármores.
O correto seria representar o magma pelas cores verde (se basalto) ou vermelha (se granito) e para os dois casos, com símbolos de "cruzes".