Pelo que entendi do vídeo, os pontos defendidos são os seguintes:
1- Os salários dos trabalhadores sofreram (e ainda sofrem) forte repressão, sendo reduzidos ou impedidos de aumentar.
2- Na falta de dinheiro vivo nas mãos dos trabalhadores, a demanda efetiva global é reduzida. Surge uma contradição: há uma grande produção, mas como a parte do PIB que corresponde aos salários é insuficiente para comprá-la, haveria um desequilíbrio: produção não-comprada ou superprodução.
3- Pra contornar isso, criou-se o mercado de crédito: os trabalhadores com os seus salários minguados passam a comprar essa superprodução à crédito, de forma que as empresas conseguem vender toda a produção e a economia (com os empregos) consegue se manter.
4- Essa bolha do mercado de crédito uma hora estoura: inadiplências mostram a fragilidade do sistema. Tudo se rui: contração do crédito, do consumo, da produção e do emprego. É a crise.
Conclusão do vídeo: a causa original da crise são os salários baixos. Caso os salários fossem maiores, os trabalhadores não precisariam comprar a crédito a superprodução, e as crises de crédito não nasceriam.
Como qualquer um pode perceber, o que o autor do vídeo fez foi basicamente uma análise keynesiana, porém ele inseriu uma "pitadinha" de marxismo (trocando a "poupança excessiva" por "baixos salários" como causa da demanda efetiva baixa).
Ou seja, o autor descaradamente "rouba" uma análise de Keynes, insere um papinho marxista no meio e coloca como se tudo isso fosse uma sofisticada análise marxista. Objetiva com isso passar a imagem de Marx como um economista bem atual e genial.
Objeções ao vídeo:
1- A suposta concentração da riqueza do qual o autor fala (eu não tenho agora dados sobre salários para confirmar isso) só seria um problema (do ponto de vista keynesiano, que ele "plagia" no video) para a demanda efetiva SE os mais ricos entesourassem dinheiro em uma percentagem maior do que os assalariados.
Caso os mais ricos gastem ou invistam uma percentagem de suas rendas não muito inferior à dos assalariados, a tese do vídeo cai por terra.
De análise econômica marxista mesmo o vídeo teve pouca coisa. Apenas a satanização dos ricos ("obscenidade das riquezas gigantescas") e a tese sobre os salários excessivamente baixos.
O importante é frisar que a maior parte da análise econômica apresentada não é marxista. O autor pegou uma idéias básicas keynesianas, trocou umas variáveis ("entesouramenti" por "salários baixos") , inseriu retórica marxista (riquezas obscenas, salários muito baixos) com o intuito de passar a idéia de que o marxismo é uma abordagem muito boa, refinada e atual para a a economia. As partes mais centrais (e erradas) do marxismo foram deixadas de fora.