Autor Tópico: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário  (Lida 3602 vezes)

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Offline Blues Brother

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Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Online: 14 de Julho de 2010, 12:16:33 »
O utopismo revolucionário não é uma exclusividade de socialistas e comunistas

O liberalismo é uma ideologia ou um conjunto de ideias úteis para lidar com questões sociais, políticas e econômicas? Ou o liberalismo é a conjugação de ambos?

Os liberais brasileiros estão inaugurando a segunda fase do liberalismo dos anos 2000. Primeiro, foi a descoberta das ideias. Agora, a tentativa de enquadrar-se em alguma derivação: liberalismo clássico, liberalismo austríaco, anarco-capitalismo etc.. Desenvolve-se neste momento, quase que exclusivamente pela internet, um debate no qual o interesse e a boa vontade muitas vezes são suplantados pela ausência de sensatez e pela falta de estudo dos temas em questão.

Pelas listas privadas de discussão, redes sociais, sites de organizações e blogs, os liberais têm lidado com o conjunto de ideias como se fosse um brinquedo novo que ainda não se aprendeu a usar, seja por falta de leitura do manual, seja por uma certeza ligeira de que se compreendeu a parte substantiva do pensamento e se podem construir certezas inabaláveis desde assuntos mais simples às questões mais complexas.

Quando o liberalismo é convertido numa ideia perfeita, capaz de responder a todas as perguntas com uma única resposta correta, transforma-se numa ideologia utópica similar às outras a que deveria combater ou servir de contraponto. Qual a diferença entre uma ideologia que confere ao indivíduo ou ao mercado o estatuto de infalibilidade e perfeição, e uma outra que confere a mesma infalibilidade ao partido, ao líder ou ao proletariado?

Se o mercado é conduzido pelos indivíduos, só se depositam todas as fichas no funcionamento ideal do mercado se se acredita na atuação perfeita dos seres humanos. O entendimento de que o ser humano agirá sempre de forma ordenada e eficiente desde que livre da intervenção de terceiros (pelo estado ou qualquer poder centralizado) advém da certeza de que o indivíduo é perfeito e só não age plenamente porque constrangido ou coagido. A questão de fundo é uma ideia de perfeição que conduz a soluções fáceis e igualmente inaplicáveis.

Fico sempre impressionado com a quantidade de gênios que aparecem publicamente expondo a chave da compreensão humana e social.

É legítimo compreender e defender o liberalismo como um conjunto de ideais que oferecem respostas adequadas (e não uma única resposta) a determinados problemas. É perigoso e estúpido defender as ideias liberais como uma ideologia capaz de salvar todos os seres humanos ou, pior, capaz de aperfeiçoá-los segundo um plano ideal de sociedade ou de modo de vida.

O utopismo revolucionário não é uma exclusividade de socialistas e comunistas. A certeza de que basta destruir o que existe (estado, instituições etc.) para florescer uma nova sociedade é uma estrada rumo ao cinismo ou ao caos. Por ser a diferença um traço distintivo dos seres humanos, é impossível ignorar a diversidade e apresentar uma solução absoluta, que terá, necessariamente, de ser imposta. A história do século XX é um exemplo concreto e recente dos resultados de décadas de fermentação ideológica revolucionária.

Quais são as implicações de pensar e de aplicar o pensamento liberal de acordo com um receituário ideológico ou segundo um conjunto de ideias úteis para lidar com questões políticas e econômicas? É a discussão que pretendo desenvolver nos próximos ensaios.

Bruno Garschagen, é jornalista e mestre em ciência política na Universidade Católica Portuguesa.

Publicado no site Ordem Livre com o título O liberalismo como ideologia ou como conjunto de ideais.

Offline Felius

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #1 Online: 14 de Julho de 2010, 20:06:08 »
Me aprofundo mais quando voltar de São Paulo na segunda, mas enquanto isso:

Sem dúvida alguma o anarco-capitalismo é uma utopia total. Citando o que meu professor disse logo no começo da minha faculdade de economia (6 meses atras :P), tem dois livros de economia, um lidando com o mercados que funcionam bem em livre mercado, e outro que trabalha com mercados que são naturalmente monopolistas.* Os comunistas leram apenas este segundo, enquanto os anarco capitalistas apenas o primeiro. Não adianta um mercado totalmente livre, que para certas coisas apenas causam prejuízo para a sociedade, mas mexer demais nos que funcionam também não é nem um pouco bom.

Quanto a essa corrente liberal, acho até boa a existência da mesma, que faz um contrapeso para a predominância do pensamento de esquerda, especialmente os mais extremados. Pelo menos fazem as pessoas saberem que a outras correntes de pensamento diferentes da marxista. E, claro, colocando meia duzia de anarco capitalista extremista numa sala com meia duzia de comunista extremista, é diversão garantida, só precisa de pipoca. :P

* Sim, é mais complexo que isso, mas peguem leve, é um começo de uma aula de primeiro período, tem ainda mais 7 pela frente pra se aprofundar.
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Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #2 Online: 15 de Julho de 2010, 05:39:22 »
Quando o liberalismo é convertido numa ideia perfeita, capaz de responder a todas as perguntas com uma única resposta correta, transforma-se numa ideologia utópica similar às outras a que deveria combater ou servir de contraponto. Qual a diferença entre uma ideologia que confere ao indivíduo ou ao mercado o estatuto de infalibilidade e perfeição, e uma outra que confere a mesma infalibilidade ao partido, ao líder
ou ao proletariado?
Esse é o típico espantalho e a típica inversão.

Ninguém defende a infalibilidade do mercado, se defende que a intervenção do estado não corrige os problemas de mercado e sim os agrava.

Quanto a inversão, se refere ao fato de que são os estadistas quem propõe um mecanismo de solução para o problema, a intervenção do estado.

É o estadista quem apresenta o estado como a solução definitiva para tudo.

Se o mercado é conduzido pelos indivíduos, só se depositam todas as fichas no funcionamento ideal do mercado se se acredita na atuação perfeita dos seres humanos.
O mesmo ocorre com o governo, ele é conduzido por indivíduos.
A diferença é que no governo o individuo é mais poderoso e ai mora o problema.

E mais, com o governo, atores do mercado se tornam mais poderosos, pois podem comprar os favores do estado.

Ou seja, os anarco-capitalistas defendem justamente a redução do poder desses atores devido ao agravamento que o governo causa nos problemas naturais do mercado.
O entendimento de que o ser humano agirá sempre de forma ordenada e eficiente desde que livre da intervenção de terceiros (pelo estado ou qualquer poder centralizado) advém da certeza de que o indivíduo é perfeito e só não age plenamente porque constrangido ou coagido. A questão de fundo é uma ideia de perfeição que conduz a soluções fáceis e igualmente inaplicáveis.
Espantalho.
É legítimo compreender e defender o liberalismo como um conjunto de ideais que oferecem respostas adequadas (e não uma única resposta) a determinados problemas. É perigoso e estúpido defender as ideias liberais como uma ideologia capaz de salvar todos os seres humanos ou, pior, capaz de aperfeiçoá-los segundo um plano ideal de sociedade ou de modo de vida.
Inversão.
Quem apresenta um desenho de sistema ordenador são os estadistas.

Os anarquistas refutam esse sistema.
O utopismo revolucionário não é uma exclusividade de socialistas e comunistas. A certeza de que basta destruir o que existe (estado, instituições etc.) para florescer uma nova sociedade é uma estrada rumo ao cinismo ou ao caos.
A crença de que o anarco-capitalismo prega a destruição das instituições em pró a deixar a sociedade num vácuo daquilo de que necessita é repulsiva.

O anarco-capitalismo questiona o modelo de organização dessas instituições e não sua existência.
Dai a defesa de alguns da policia privada ao invés da policia estatal.

Segundo, vamos lembrar que o anarco-capitalismo não propõe nenhum modelo especifico, ele apenas refuta a proposta estatal.
O Capitalismo por si só não garante a liberdade, mas não existe liberdade sem capitalismo. (Milton Friedman)

Offline Blues Brother

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #3 Online: 17 de Julho de 2010, 17:35:01 »
Me aprofundo mais quando voltar de São Paulo na segunda, mas enquanto isso:

Sem dúvida alguma o anarco-capitalismo é uma utopia total. Citando o que meu professor disse logo no começo da minha faculdade de economia (6 meses atras :P), tem dois livros de economia, um lidando com o mercados que funcionam bem em livre mercado, e outro que trabalha com mercados que são naturalmente monopolistas.* Os comunistas leram apenas este segundo, enquanto os anarco capitalistas apenas o primeiro. Não adianta um mercado totalmente livre, que para certas coisas apenas causam prejuízo para a sociedade, mas mexer demais nos que funcionam também não é nem um pouco bom.

Quanto a essa corrente liberal, acho até boa a existência da mesma, que faz um contrapeso para a predominância do pensamento de esquerda, especialmente os mais extremados. Pelo menos fazem as pessoas saberem que a outras correntes de pensamento diferentes da marxista. E, claro, colocando meia duzia de anarco capitalista extremista numa sala com meia duzia de comunista extremista, é diversão garantida, só precisa de pipoca. :P

* Sim, é mais complexo que isso, mas peguem leve, é um começo de uma aula de primeiro período, tem ainda mais 7 pela frente pra se aprofundar.

Concordo parcialmente. É bom que haja um "contra-peso" à hegemonia esquerdista, sem dúvida.

Mas, veja bem, o argumento central do artigo é que, no fundo, utopias são todas iguais.

Elas partem da mesma premissa:

podemos moldar a sociedade humanda de acordo com um projeto, uma idéia ou um princípio abstrato.

Tanto comunistas quanto anarco-capitalistas partem desta fé na engenharia social e na perfectibilidade humana, acreditanto que a realidade aceita qualquer determinação abstrata que quisermos.

É o velho credo na tábula rasa: podemos fazer dos homens o que quisermos, da sociedade idem.

Offline Blues Brother

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #4 Online: 17 de Julho de 2010, 17:36:17 »
Anarco-boy,

a sua ideologia é um fruto tardio do racionalismo dogmático refutado por liberais como Isaiah Berlin e Karl Popper.

Offline Luiz Souto

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #5 Online: 17 de Julho de 2010, 23:27:45 »
Você sabe que esta diante de uma proposta ideologica quando:
-ela extrapola o âmbito para o qual foi inicialmente formulada
-ela reduz a multiplicidade da realidade à uma entidade simples

Os neoliberais radicais ( que se autodenominam anarcocapitalistas) tomam um modelo ( oferta e procura) utilizado para explicar o funcionamento de um determinado contexto econômico ( mercado competitivo) e o usam como resposta não só para os problemas econômicos mas também como modelo para a ordenação social e política. Para isso têm não só que postular que todos os mercados são competitivos ( independente que determinados mercados , p,ex. energia elétrica e indústria automobilística, seja eminentemente oligopolistas) como "mercantilizar" todas as relações sociais  , fazendo que sejam ordenadas conforme a lógica da "oferta e procura" a qual é sintetizada pela entidade transcendental denominada Mercado.
Na visão dos neoliberais radicais o ser humano não é um ser social ( com toda a complexidade e variedade das formas de organização social humana), mas sua única forma "natural" - e portanto legítima- de relação com outros seres humanos é como uma mônada movida pelo interesse e pelo cálculo racional que ao buscar a vantagem própia através do Mercado obtem um funcionamento social satisfatório. O exemplo das abelhas de Mandeville tem vida longa...

Substitua Mercado por História e o Homo economicus pelo Homem classe e teremos o inverso simétrico do neoliberalismo radical: o economicismo marxista dogmático.
Enquanto o primeiro só vê o ser humano como indivíduo movido pelas leis do mercado o segundo só vê os seres humanos como membros de uma classe social , movidos pela necessidade histórica.
Se não queres que riam de teus argumentos , porque usas argumentos risíveis ?

A liberdade só para os que apóiam o governo,só para os membros de um partido (por mais numeroso que este seja) não é liberdade em absoluto.A liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para quem pensa de maneira diferente. - Rosa Luxemburgo

Conheça a seção em português do Marxists Internet Archive

Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #6 Online: 19 de Julho de 2010, 03:26:17 »
Você sabe que esta diante de uma proposta ideologica quando:
-ela extrapola o âmbito para o qual foi inicialmente formulada
-ela reduz a multiplicidade da realidade à uma entidade simples

Os neoliberais radicais ( que se autodenominam anarcocapitalistas) tomam um modelo ( oferta e procura) utilizado para explicar o funcionamento de um determinado contexto econômico ( mercado competitivo) e o usam como resposta não só para os problemas econômicos mas também como modelo para a ordenação social e política. Para isso têm não só que postular que todos os mercados são competitivos ( independente que determinados mercados , p,ex. energia elétrica e indústria automobilística, seja eminentemente oligopolistas) como "mercantilizar" todas as relações sociais  , fazendo que sejam ordenadas conforme a lógica da "oferta e procura" a qual é sintetizada pela entidade transcendental denominada Mercado.
Na visão dos neoliberais radicais o ser humano não é um ser social ( com toda a complexidade e variedade das formas de organização social humana), mas sua única forma "natural" - e portanto legítima- de relação com outros seres humanos é como uma mônada movida pelo interesse e pelo cálculo racional que ao buscar a vantagem própia através do Mercado obtem um funcionamento social satisfatório. O exemplo das abelhas de Mandeville tem vida longa...

Substitua Mercado por História e o Homo economicus pelo Homem classe e teremos o inverso simétrico do neoliberalismo radical: o economicismo marxista dogmático.
Enquanto o primeiro só vê o ser humano como indivíduo movido pelas leis do mercado o segundo só vê os seres humanos como membros de uma classe social , movidos pela necessidade histórica.

Quem "mercantiliza" a sociedade são os estadistas, quando o estado vende seus favores aos empresários anti-capitalistas.

O estadismo é a doutrina utópica e injustificada de que, o cerceamento da liberdade e monopólios, de algum modo nunca explicado nem demonstrado, de algum meio mágico, resolvem por meio de decretos todos os problemas que não tem origem na liberdade de um mercado.

Fazem isso e invertem o ônus da prova.
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Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #7 Online: 19 de Julho de 2010, 03:51:31 »
Tenho algumas Perguntas:

Vocês acham mesmo que problemas que não têm fruto na liberdade, podem ser resolvidos ao eliminar a liberdade?

Exemplo:
Imaginem vários empreendimentos armados encarregados da segurança competindo entre si.
Vamos supor agora que um deles decida tomar o poder pra si, monopolizar a lei e sair decretando absurdos e roubando as pessoas.

Como proibir a livre concorrência entre empreendimento do gênero corrige o problema?
Que garantias se têm de que o único empreendimento armado monopolista, não vai se aproveitar de que tem o monopólio das armas pra sair monopolizando a lei, decretando absurdos e roubando as pessoas?

Dá pra perceber o óbvio de que o governo já é esse empreendimento que vive do roubo e do monopólio?
Se ele já é isso, como diabos pode ser apontando como qualquer tipo de solução para o problema?

O cerceamento da liberdade como sempre agrava os mesmos problemas a que se propõe resolver, como no caso da Ford, que não só fez cálculos que a levaram a preferir deixar pessoas morrerem, como com a intervenção do governo na economia, os americanos ficaram proibidos de boicota-la e viram 5,9 bilhões roubados através dos impostos serem entregues a essa corporação.

Uma vez que os problemas não são frutos da liberdade, uma instituição que tem por base o monopólio, acaba por agravar os mesmos problemas a que propõe resolver. Os problemas continuam surgindo mesmo com o cerceamento da liberdade e a ausência de liberdade os agrava.
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Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #8 Online: 19 de Julho de 2010, 03:56:58 »
(...)sam como resposta não só para os problemas econômicos mas também como modelo para a ordenação social e política.(...)
Um detalhe, a sua noção de que política necessariamente se faça através de governo é falsa.
O que garante um livre mercado e a ausência de governo é justamente um arranjo político.

Hoje a política humana é tentar se organizar por meio de uma máfia estatal, mas o aspecto político e social não depende isso, esse é só um dos muitos arranjos políticos possíveis.
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Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #9 Online: 19 de Julho de 2010, 03:58:24 »
há sim... aceito a desistência retumbante por parte dos estadistas em demonstrar necessidade e funcionalidade do estado.  :|
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Offline Blues Brother

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #10 Online: 21 de Julho de 2010, 12:30:24 »
Anarco-boy,

você continua confundindo ceticismo com estatismo, o que torna o debate sobre o tema extremamente chato.

Não sou estatista, não acredito que o Estado vá resolver todos os meus problemas. Como a maioria dos americanos, para mim "big goverment, big trouble".

Por outro lado, sou cético. Não acredito que o mercado vá resolver todos os meus problemas. Para mim, uma corporação muito poderosa pode ser tão opressiva quanto o Estado fascista de Mussolini. Infelizmente, em nome de sua visão ideológica simplista, você deve excluir esta possibilidade do seu horizonte político, certo?

Toda vez que aparece alguém tentando reiventar a roda em política, sinto uma grande sensação de tédio. O cara normalmente adere a uma ideologia, decora os dogmas, e menospreza tudo o que já foi discutido, normalmente décadas antes, sobre as possibilidades ou não de implantar aquele modelo de sociedade.

Você, por exemplo, provavelmente não deve ter lido Karl Popper. Um dos maiores liberais e filósofos da ciência do século 20, um campeão da liberdade, figura insuspeita para iluminar o tema. Diz Sir Karl Popper que toda tentativa de refundar a sociedade humana é complicadíssima, não é apenas uma questão de seguir atentamente uma receita de bolo: a humanidade não é um imenso laboratório à disposição dos planejadores do mercado ou do Estado.

Popper então diferencia a engenharia social utópica da engenharia social gradual. A primeira representa um método que oferecer pouca segurança, já que precisa impôr mudanças radicais, promover rupturas, sem qualquer garantia do que virá a seguir. Do ponto de vista científico, é estupidez porque não oferece a possibilidade de conferir passo por passo se as idéias e abstrações realmente farão sentido quando colocadas em prática.

A engenharia social gradual é muito mais parecida com o método científico: permite a correção de erros, não coloca em risco todo o experimento ao apostar tudo numa única hipótese. Isso é o que possibilita  que a democracia corrija erros sem que precisemos recorrer a revoluções a todo instante. É um metódo razoável de mudança, feito por estágios, que nos possibilita vislumbrar a cada estágio o que vem a seguir.

Por isso, anarco-capitalismo e comunismo estão no mesmo saco. São fórmulas de engenharia social utópica que descartam a mudança por estágios e estão baseadas na mesma premissa:a sociedade é uma massa moldável que pode ser manuseada como se bem quiser, de acordo com o projeto do reformador.

Não coloque o Estado nesta equação: estamos falando aqui de método. Como você sabe, ou deveria saber, para erguer ou derrubar uma instituição, mudar o regime político ou defende-lo, é preciso definir se o método utilizado, a reforma ou a revolução, é o correto considerando o custo-benefício (algo que você conhece bem!).

Então, responda o meu post considerando o que eu escrevi aqui, sem apelar para a argumentação padrão anti-estatista. Eu estou refutando o anarco-capitalismo por uma questão de método e não de ideologia.

Offline _tiago

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #11 Online: 21 de Julho de 2010, 20:13:30 »
há sim... aceito a desistência retumbante por parte dos estadistas em demonstrar necessidade e funcionalidade do estado.  :|

Nessa sua idéia, não pagaríamos impostos, apenas pelo serviço recebido?

Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #12 Online: 03 de Agosto de 2010, 05:10:44 »
Anarco-boy,

você continua confundindo ceticismo com estatismo, o que torna o debate sobre o tema extremamente chato.

Não sou estatista, não acredito que o Estado vá resolver todos os meus problemas. Como a maioria dos americanos, para mim "big goverment, big trouble".

Por outro lado, sou cético. Não acredito que o mercado vá resolver todos os meus problemas. Para mim, uma corporação muito poderosa pode ser tão opressiva quanto o Estado fascista de Mussolini. Infelizmente, em nome de sua visão ideológica simplista, você deve excluir esta possibilidade do seu horizonte político, certo?

Toda vez que aparece alguém tentando reiventar a roda em política, sinto uma grande sensação de tédio. O cara normalmente adere a uma ideologia, decora os dogmas, e menospreza tudo o que já foi discutido, normalmente décadas antes, sobre as possibilidades ou não de implantar aquele modelo de sociedade.

Você, por exemplo, provavelmente não deve ter lido Karl Popper. Um dos maiores liberais e filósofos da ciência do século 20, um campeão da liberdade, figura insuspeita para iluminar o tema. Diz Sir Karl Popper que toda tentativa de refundar a sociedade humana é complicadíssima, não é apenas uma questão de seguir atentamente uma receita de bolo: a humanidade não é um imenso laboratório à disposição dos planejadores do mercado ou do Estado.

Popper então diferencia a engenharia social utópica da engenharia social gradual. A primeira representa um método que oferecer pouca segurança, já que precisa impôr mudanças radicais, promover rupturas, sem qualquer garantia do que virá a seguir. Do ponto de vista científico, é estupidez porque não oferece a possibilidade de conferir passo por passo se as idéias e abstrações realmente farão sentido quando colocadas em prática.

A engenharia social gradual é muito mais parecida com o método científico: permite a correção de erros, não coloca em risco todo o experimento ao apostar tudo numa única hipótese. Isso é o que possibilita  que a democracia corrija erros sem que precisemos recorrer a revoluções a todo instante. É um metódo razoável de mudança, feito por estágios, que nos possibilita vislumbrar a cada estágio o que vem a seguir.

Por isso, anarco-capitalismo e comunismo estão no mesmo saco. São fórmulas de engenharia social utópica que descartam a mudança por estágios e estão baseadas na mesma premissa:a sociedade é uma massa moldável que pode ser manuseada como se bem quiser, de acordo com o projeto do reformador.

Não coloque o Estado nesta equação: estamos falando aqui de método. Como você sabe, ou deveria saber, para erguer ou derrubar uma instituição, mudar o regime político ou defende-lo, é preciso definir se o método utilizado, a reforma ou a revolução, é o correto considerando o custo-benefício (algo que você conhece bem!).

Então, responda o meu post considerando o que eu escrevi aqui, sem apelar para a argumentação padrão anti-estatista. Eu estou refutando o anarco-capitalismo por uma questão de método e não de ideologia.
Sua argumentação falha em diversos pontos.
O anarco-capitalismo não propõe a derrubada de nenhuma instituição, propõe unicamente o fim de uma ditadura e de um monopólio.

O estado e sua completa falta de funcionalidade é a chave da questão.
A sociedade já foi gradualmente caminhando em direção a liberalização, ao custo de muito sangue é claro. O resultado foi chegar a receita de uma minarquia que permitia a democracia de mercado funcionar.

A receita foi a de um mini governo não intervencionista que permitia o funcionamento de um mercado livre.
Foi dado basicamente a essa corporação estatal o papel de guardiã da democracia de mercado, que vigiaria o mercado para que nenhum grupo fosse contra a democracia (inimigo interno e externo), foi também dado ao governo o papel de conciliador de conflitos e de guardião da propriedade publica e das causas publicas por meio de um sistema democrático.

Essa receita falhou.
Ao analisar os motivos se percebe que, a corporação estatal que deveria guardar a democracia foi justamente a instituição que foi contra ela.

Se ao invés de uma instituição guardando a democracia, tivéssemos várias, uma instituição poderia impedir a outra de abolir a democracia.
O problema foi o monopólio, foi a excessão a livre concorrência que não se tem como justificar racionalmente.

O anarco-capitalismo se baseia na constatação de que o monopólio dessa minarquia não só é desnecessário, assim como o seu sustento por meio do roubo (impostos), como também se baseia no fato óbvio de que o modelo falhou justamente por ser um monopólio onde "la garantia democrática soy yo".
Se baseia também no entendimento de que em todos os casos os empreendimentos privados se mostraram superiores aos empreendimentos estatais, então absolutamente NADA leva a crer que isso seria diferente com a proteção da democracia e demais atributos da minarquia, mesmo porque a própria minarquia é em si uma excessão a democracia de mercado.

Então não se trata de uma mudança 'abrupta' de sistema, mas sim a privatização e multiplicação das instituições hoje em poder do estado.
Nos já chegamos a iniciativa privada e sua funcionalidade superior a de qualquer instituição estatal já é testada e comprovada.

O ponto falho na defesa do estado é a crença de que ele soluciona os problemas, quando na verdade ele é parte do problema.
As instituições monopolistas são o problema, a idéia de que precisamos de uma delas para resolver o problema é contraditória, assim como a defesa do governo, justificada no medo de que uma empresa capitalista se torne ela própria um governo.

O que é mais fácil, uma única instituição monopolista (minarquia) se perverter e ir contra a democracia, ou diversas instituições privadas se perverterem? Multiplicando as instituições e abolindo o monopólio da lei, as garantias aumentam. A defesa do estado então não passa pelo teste lógico.

Quanto a metodologia científica, não existe nada mais anti-científico do que um estado que não apresenta funcionalidade alguma e que, por meio do monopólio legal, proíbe toda e qualquer tentativa de organização alternativa a ele.
A ciência só é o que é pela contestação, pela livre concorrência e livre troca (troca = cooperação).

Existe uma ciência que se organiza nos mesmos moldes do estado, se chama religião e tenta deter o monopólio da verdade por meio do decreto de que fatos são falsos e alucinações são verdades.

Além do que, como já disse... a superioridade das instituições privadas quando comparadas as instituições estatais, é fato comprovado em centenas de países mundo a fora. Nada pode ser mais claro do que isso.
« Última modificação: 03 de Agosto de 2010, 05:17:07 por AnarcoBoy »
O Capitalismo por si só não garante a liberdade, mas não existe liberdade sem capitalismo. (Milton Friedman)

Offline AnarcoBoy

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Re: Anarco-capitalismo: utopismo revolucionário
« Resposta #13 Online: 03 de Agosto de 2010, 05:18:38 »
há sim... aceito a desistência retumbante por parte dos estadistas em demonstrar necessidade e funcionalidade do estado.  :|

Nessa sua idéia, não pagaríamos impostos, apenas pelo serviço recebido?
Exatamente, nada de roubo, apenas troca voluntária que em geral é muito lucrativa.
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