Anarco-boy,
você continua confundindo ceticismo com estatismo, o que torna o debate sobre o tema extremamente chato.
Não sou estatista, não acredito que o Estado vá resolver todos os meus problemas. Como a maioria dos americanos, para mim "big goverment, big trouble".
Por outro lado, sou cético. Não acredito que o mercado vá resolver todos os meus problemas. Para mim, uma corporação muito poderosa pode ser tão opressiva quanto o Estado fascista de Mussolini. Infelizmente, em nome de sua visão ideológica simplista, você deve excluir esta possibilidade do seu horizonte político, certo?
Toda vez que aparece alguém tentando reiventar a roda em política, sinto uma grande sensação de tédio. O cara normalmente adere a uma ideologia, decora os dogmas, e menospreza tudo o que já foi discutido, normalmente décadas antes, sobre as possibilidades ou não de implantar aquele modelo de sociedade.
Você, por exemplo, provavelmente não deve ter lido Karl Popper. Um dos maiores liberais e filósofos da ciência do século 20, um campeão da liberdade, figura insuspeita para iluminar o tema. Diz Sir Karl Popper que toda tentativa de refundar a sociedade humana é complicadíssima, não é apenas uma questão de seguir atentamente uma receita de bolo: a humanidade não é um imenso laboratório à disposição dos planejadores do mercado ou do Estado.
Popper então diferencia a engenharia social utópica da engenharia social gradual. A primeira representa um método que oferecer pouca segurança, já que precisa impôr mudanças radicais, promover rupturas, sem qualquer garantia do que virá a seguir. Do ponto de vista científico, é estupidez porque não oferece a possibilidade de conferir passo por passo se as idéias e abstrações realmente farão sentido quando colocadas em prática.
A engenharia social gradual é muito mais parecida com o método científico: permite a correção de erros, não coloca em risco todo o experimento ao apostar tudo numa única hipótese. Isso é o que possibilita que a democracia corrija erros sem que precisemos recorrer a revoluções a todo instante. É um metódo razoável de mudança, feito por estágios, que nos possibilita vislumbrar a cada estágio o que vem a seguir.
Por isso, anarco-capitalismo e comunismo estão no mesmo saco. São fórmulas de engenharia social utópica que descartam a mudança por estágios e estão baseadas na mesma premissa:a sociedade é uma massa moldável que pode ser manuseada como se bem quiser, de acordo com o projeto do reformador.
Não coloque o Estado nesta equação: estamos falando aqui de método. Como você sabe, ou deveria saber, para erguer ou derrubar uma instituição, mudar o regime político ou defende-lo, é preciso definir se o método utilizado, a reforma ou a revolução, é o correto considerando o custo-benefício (algo que você conhece bem!).
Então, responda o meu post considerando o que eu escrevi aqui, sem apelar para a argumentação padrão anti-estatista. Eu estou refutando o anarco-capitalismo por uma questão de método e não de ideologia.
Sua argumentação falha em diversos pontos.
O anarco-capitalismo não propõe a derrubada de nenhuma instituição, propõe unicamente o fim de uma ditadura e de um monopólio.
O estado e sua completa falta de funcionalidade é a chave da questão.
A sociedade já foi gradualmente caminhando em direção a liberalização, ao custo de muito sangue é claro. O resultado foi chegar a receita de uma minarquia que permitia a democracia de mercado funcionar.
A receita foi a de um mini governo não intervencionista que permitia o funcionamento de um mercado livre.
Foi dado basicamente a essa corporação estatal o papel de guardiã da democracia de mercado, que vigiaria o mercado para que nenhum grupo fosse contra a democracia (inimigo interno e externo), foi também dado ao governo o papel de conciliador de conflitos e de guardião da propriedade publica e das causas publicas por meio de um sistema democrático.
Essa receita falhou.
Ao analisar os motivos se percebe que, a corporação estatal que deveria guardar a democracia foi justamente a instituição que foi contra ela.
Se ao invés de uma instituição guardando a democracia, tivéssemos várias, uma instituição poderia impedir a outra de abolir a democracia.
O problema foi o monopólio, foi a excessão a livre concorrência que não se tem como justificar racionalmente.
O anarco-capitalismo se baseia na constatação de que o monopólio dessa minarquia não só é desnecessário, assim como o seu sustento por meio do roubo (impostos), como também se baseia no fato óbvio de que o modelo falhou justamente por ser um monopólio onde "la garantia democrática soy yo".
Se baseia também no entendimento de que em todos os casos os empreendimentos privados se mostraram superiores aos empreendimentos estatais, então absolutamente NADA leva a crer que isso seria diferente com a proteção da democracia e demais atributos da minarquia, mesmo porque a própria minarquia é em si uma excessão a democracia de mercado.
Então não se trata de uma mudança 'abrupta' de sistema, mas sim a privatização e multiplicação das instituições hoje em poder do estado.
Nos já chegamos a iniciativa privada e sua funcionalidade superior a de qualquer instituição estatal já é testada e comprovada.
O ponto falho na defesa do estado é a crença de que ele soluciona os problemas, quando na verdade ele é parte do problema.
As instituições monopolistas são o problema, a idéia de que precisamos de uma delas para resolver o problema é contraditória, assim como a defesa do governo, justificada no medo de que uma empresa capitalista se torne ela própria um governo.
O que é mais fácil, uma única instituição monopolista (minarquia) se perverter e ir contra a democracia, ou diversas instituições privadas se perverterem? Multiplicando as instituições e abolindo o monopólio da lei, as garantias aumentam. A defesa do estado então não passa pelo teste lógico.
Quanto a metodologia científica, não existe nada mais anti-científico do que um estado que não apresenta funcionalidade alguma e que, por meio do monopólio legal, proíbe toda e qualquer tentativa de organização alternativa a ele.
A ciência só é o que é pela contestação, pela livre concorrência e livre troca (troca = cooperação).
Existe uma ciência que se organiza nos mesmos moldes do estado, se chama religião e tenta deter o monopólio da verdade por meio do decreto de que fatos são falsos e alucinações são verdades.
Além do que, como já disse... a superioridade das instituições privadas quando comparadas as instituições estatais, é fato comprovado em centenas de países mundo a fora. Nada pode ser mais claro do que isso.