Isto é uma igrejaO movimento religioso Meninos de Deus evangelizava misturando cristianismo com amor livreAté onde vai o amor divino? Para o Meninos de Deus, até a cama. O movimento religioso, fundado pelo guru David Berg e com forte presença no Brasil, misturava cristianismo com amor livre e usava o sexo como forma de evangelização. Hoje, conhecido como A Família, encaretou – mas as polêmicas permanecem
Integrantes encarregadas de fisgar novos fiéis. Os rostos ocultos eram praxe no material gráfico do grupoá faz mais de duas décadas, mas Mateus lembra como se fosse hoje. Era madrugada em São Paulo quando sua mãe acordou-o de supetão: “Filho, está na hora. Pega a mala de fuga”. Sempre pronta, deixada no canto do quarto, finalmente a tal mala justificaria o nome. Seu dono, então com 10 anos, já sabia o que fazer. Agarrou-a e escapou a pé de casa, acompanhado das outras 20 pessoas com quem morava. Minutos depois os carros de reportagem da Rede Globo e os da polícia chegavam ao local. Cerco armado, câmeras a postos, mas apenas dois moradores restaram para fazer as honras. O motivo da batida: uma denúncia envolvendo abuso sexual de crianças. Nada foi provado.
Não era a primeira nem seria a última polêmica envolvendo o Meninos de Deus, hoje conhecidos como Família Internacional (FI). Surgido na Califórnia em 1968, o movimento religioso misturava cristianismo radical com ideias nada ortodoxas. Para seu líder e fundador David Berg, falecido em 1994, o amor de Deus era sua maior dádiva e, como tal, deveria ser posto em prática sempre que possível. E de forma literal: Berg - também chamado de Mo, Pai David ou simplesmente Papai - estimulava o amor livre entre seus seguidores, independentemente do estado civil. Mais que isso, as relações sexuais eram uma maneira de “incentivar a união e combater a solidão dos necessitados”, o que era chamado de sexo sacrifical.
Ele também era utilizado como forma de evangelização, sob o nome de flirty-fishing, que encorajava mulheres a prostituírem-se em nome do amor divino. A pesca-coquete (como a prática era chamada no Brasil) acontecia principalmente à noite, em boates, com agências de escort facilitando o processo. Em 1987, depois de mais de 223 mil homens fisgados, e com a Aids já fazendo suas primeiras vítimas, os dirigentes do grupo comunicaram que o mar não estava mais para peixe: “Todo sexo com pessoas de fora está proibido! A não ser que elas sejam já próximas e amigos bem conhecidos!”, dizia a publicação oficial.
Como a maioria dos primeiros integrantes, o norte-americano Paul era hippie. Conheceu os ensinamentos de David no Texas, em 1970, e largou tudo – família, escola e trabalho – para seguir o guru. Loucura? Talvez. Mas compreensível naqueles tempos férteis em utopias. “Em uma mesma praça, você via os hare krishna, rituais de tribos africanas, um evangélico pregando o inferno, os motoqueiros do Hell’s Angels... Estavam todos atrás de algo em que se apoiar”, ele relembra. O então adolescente mudou-se para a The Soul Clinic (A Clínica da Alma), uma das primeiras e maiores comunidades do MD, onde estudava as Cartas de Mo (espécie de manuais da teologia do grupo) por até oito horas diárias. No resto do dia, ia para as ruas “litificar” e “testificar” (respectivamente, distribuir a literatura oficial e dar testemunho, no jargão do grupo). “Parecia que a gente estava o tempo todo chapado, de tão felizes que éramos”.
--------------------------
Veja o resto da matéria aqui.