http://www.controversia.com.br/act=textos&id=6423A ONU acredita que uma em cada sete prostitutas é vítima das redes de tráfico. A maioria procede dos Bálcãs e sofre a violência de pequenos bandos
María R. SahuquilloPresas em um bordel de estrada, em um salão de massagem, em uma residência privada. A ONU calcula que haja cerca de 140 mil mulheres vítimas do tráfico de pessoas com fins de exploração sexual na Europa Ocidental. São na maioria mulheres e garotas que foram enganadas, ou mesmo vendidas, por parentes ou amigos em seus países de origem, para ser prostituídas sob coação na Alemanha, Holanda ou Espanha.
O primeiro relatório da ONU que traça a radiografia desse negócio clandestino na Europa revela que esse mercado - que movimenta pelo menos 2,5 bilhões de euros por ano - em constante mobilidade integra a cada ano 70 mil novas vítimas. Pessoas que passam a substituir aquelas que saldam suas dívidas, saem do negócio ou se transformam elas mesmas em traficantes de pessoas como única alternativa a ser exploradas.
O negócio do sexo é florescente e invariável. Foi o que as organizações criminosas também detectaram. O tráfico de pessoas é o terceiro negócio do crime organizado, e em alguns países se transformou no primeiro. Prostituição, mas também mendicância, serviços domésticos ou trabalho em fábricas, o tráfico tem muitas formas. Os traficantes dedicam à exploração sexual 84% das vítimas, segundo o documento apresentado em Madri na terça-feira pelo diretor executivo do departamento da ONU contra as Drogas e o Crime Organizado, Antonio Maria Costa, junto com a ministra da Igualdade, Bibiana Aído.
Uma em cada sete prostitutas é vítima do tráfico na Europa, salienta o informe, elaborado pelos relatores da ONU com seus dados e outros recolhidos pelos países, as promotorias, a polícia e as ONGs. Um número muito inferior aos 90% que calcula o Ministério da Igualdade, que inclui mulheres vítimas de exploração e não só de tráfico.
As pessoas obrigadas a exercer a prostituição vêm fundamentalmente dos Bálcãs (32%), sobretudo de países como Romênia e Bulgária. Também da antiga União Soviética (19%) - fundamentalmente da Ucrânia -, da América do Sul (13%), Europa Central (7%), África (5%) e Ásia Oriental (3%). "Foram detectadas vítimas em toda a Europa. O problema é comum a todos os países", explica Costa, que na terça-feira, junto com as atrizes Mira Sorvino e Belén Rueda e a jornalista mexicana Lydia Cacho apresentou a campanha Coração Azul para sensibilizar contra o tráfico. Uma das "formas de violência mais antigas do mundo", segundo Aído.
As mulheres chegam ao país de destino enganadas e às vezes coagidas, explica a ONU. Quando vêm dos Bálcãs, analisa a instituição, o mais provável é que tenham sido recrutadas com promessas de emprego, de participar de algum concurso de beleza, de um programa de estudos ou por serviços matrimoniais. Ali, a maioria das vítimas é recrutada por conhecidos, parentes ou amigos. Essas pessoas também têm um papel importante na captação de mulheres na África. Na América Latina, os traficantes utilizam também empresas de espetáculos, agências de modelos e anúncios nos jornais para enganar suas vítimas.
Muitas delas sofrem violência antes e depois de chegar ao destino. Os mais duros são, segundo a ONU, os traficantes dos Bálcãs ou da antiga União Soviética. Organizações muitas vezes pequenas - de duas ou três pessoas - que antes de oferecer as mulheres a seus clientes as violentam para iniciar os maus-tratos. Algumas são drogadas para que não fujam.
Além disso, a ONU destaca a cada vez mais importante presença de vítimas provenientes da China. Tradicionalmente, dizem, só os cidadãos desse país poderiam ter acesso aos bordéis chineses na Europa. Agora mulheres chinesas, cambojanas e vietnamitas são vítimas de tráfico em salões de massagem, de beleza ou saunas. Dependendo de sua procedência, as mulheres são obrigadas a se prostituir em um lugar ou outro. A exploração das vítimas da América Latina ou dos Bálcãs se realiza em lugares clandestinos, residências privadas e bordéis. As mulheres africanas, no entanto, são obrigadas a se prostituir nas ruas.
O informe da ONU também fala dos consumidores de serviços sexuais. Entre eles destaca a Espanha. Neste país, 39% dos homens admitem ter pagado por sexo alguma vez na vida, um número "atípico na Europa", segundo a ONU. Na Suíça são 19% dos homens que afirmam ter feito isso, na Holanda 14% e na Suécia 13%.
Tradução:
Luiz Roberto Mendes Gonçalves