No caso dessa abordagem de que a vítima não é culpada, deveria ser orientada mais a políciais e profissionais de saúde que atendem essas vítimas. Já vi e ouvi diversos casos onde a vítima acabou sendo questionada quando foi reportar o caso sobre o que estava vestindo, ou se havia dado alguma forma de sinal que fosse entendido como convite pelo autor. É tosco.
Eu dei uma lida num "guia de bolso" sobre esse tipo de interrogatório em questão e tem detalhes bem minuciosos que dificilmente vão passar pela cabeça da pessoa mais bem intencionada.
Mas aproveitando que você é da área, qual é sua opinião sobre um dos casos relatados num dos posts acima, da garota que relata a indignação do seu interrogatório, que pareceu invasivo e descabido em várias perguntas, e no fim, termina com, "e ao meu estuprador, o que perguntaram? Nada."
Eu não descarto de maneira alguma a possibilidade de ter sido feito um trabalho porco e injusto e praticamente estarem condenando a vítima, se aproximando da prática de países do oriente médio. Mas ao mesmo tempo, pelo que é passado, eu simplesmente não tenho como saber se poderia ser muito diferente. A minha suspeita é que o acusado (que acho que nem é tecnicamente um "acusado" nesse estágio) simplesmente não poderia ser interrogado ainda mesmo, pela ausência de qualquer prova. Só facilitaria a defesa, e talvez até desse munição para um processo de difamação.
Quanto às perguntas, novamente, só tentando imaginar para que poderiam servir se não fosse uma tremenda incompetência e até mau-caratismo dos policiais (se é que eram policiais a fazer o questionário), talvez tivessem como propósitos 1 - ter alguma noção de onde buscar evidências (isso me parece praticamente inescapáevl), e 2 - hipótese mais "chutão", estão colhendo todos os dados necessários enquanto a memória está fresca e já inclusive tendo em mente argumentos que a defesa poderá explorar em caso de um eventual julgamento -- se conseguirem levar à julgamento.
Eu não sei, me parece razoável, mas pelo jeito é uma crimidéia supor isso como possibilidade. É mais provável, segundo uns, que o cara tivesse sido preso em flagrante ("flagrante tardio", dias depois, seja lá como for) e estivesse só relaxando numa sala, numa boa. Quiçá recebendo uma massagem.
Acho que até poderia acontecer um cenário revoltantemente não muito diferente desse, dependendo de quem for o cara ou seus pais, mas, pelo que é dito apenas na mensagem, não acho que dá para assumir que tenha havido qualquer coisa de mais grave além de não ter sido devidamente esclarecido o porque das perguntas mais estranhas e o porque do "acusado"/"suspeito" (qualquer que seja o termo para essa situação onde ainda não está em julgamento e nem em investigação propriamente dita, como parece ser o caso). E mesmo que tivesse sido feito, não acho exagerado supor que tivesse "entrado por uma orelha e saído pela outra", dependendo do estado de abalo emocional que a garota se encontrar quando foi fazer a denúncia.
Certa vez tive que tirar um colega de dentro da viatura e pagar pau pra ele na frente da vítima de um caso "Maria da Penha" porque ele começou a dar lição de moral pra mulher que apanhou porque não tinha feito o jantar do marido, dizendo "como esposa e mãe, a senhora tem obrigação de cuidar do seu marido" (que tinha chegado bêbado e descido o cacete nela, que trabalhava o dia todo pra sustentar o vagabundo desempregado e 4 filhos). Disse pra ele"Velho, na minha frente, você NUNCA MAIS conversa com vítima nenhuma. A mulher apanhou do cara e você ainda vem pregar pra ela?!?". Felizmente o cara nunca mais trabalhou comigo depois disso, pois pedi que arrumassem outro parceiro pra ele. Falta de preparo puro somado com excesso de opinião pessoal no exercício da função.
Que deprimente isso. Tinha que haver um tipo de sistema de "denúncias" internas para esse tipo de coisa, não necessariamente para alguma espécie de punição, mas sei lá, no mínimo um tipo de cursinho sobre o tema. Se bem que já ouvi falar de uma professora de direção (da parte teórica, que se tem que assistir quando se tem N pontos na carteira), que é comum policiais reincidentes, que dizem que não tem jeito, estão acostumados a dirigir quase como dirigem em perseguição, então sempre voltam para lá. Complicado. Se bem que, são coisas bem distintas... então talvez não seja de se esperar que não dê em nada.
Uma propaganda dessas funcionaria melhor colada nas delegacias, quartéis e hospitais pelo menos para que o policial, médico e enfermeiros parassem pra pensar 5seg antes de falar besteira.
Acho que teria que ser "outra coisa" completamente, porque isso aí continua sendo meio ridículo mesmo nessa situação.