Agora que já defendi ele bastante, vou atacar um pouquinho só, no que se refere a imaginar esse poder todo da convergência. Mesmo casos menos espetaculares, como esses que o uiliníli citou, ainda partem muitas vezes de uma estrutura comum bastante significativa. Todos no caso são vertebrados, que são basicamente um monte de músculos e órgãos organizados meio cilindricamente em torno ou paralelamente a um sistema nervoso "em tira". A coisa ainda vale até para alguns insetos aquáticos mais hidrodinâmicos, principalmente em estado larval, ainda que os órgãos estejam organizados do outro lado dessa tira do sistema nervoso. Quanto mais você retrocede dessa base comum, menos comum se torna a forma de torpedo para seres aquáticos, ainda que mais velocidade seja um atributo que se poderia imaginar ser quase que universalmente uma vantagem. E mesmo sem retroceder muito, essa adaptação diminui várias vezes, algumas vezes quase desaparecendo, como no caso daqueles peixes-dragão, que parecem algas.
Não que deixe completamente de ocorrer, como por exemplo, as lulas (que ainda têm em comum um ancestral de simetria bilateral), têm a cabeça em forma de torpedo. Mas mesmo parentes mais próximos, como os polvos, não são tão hidrodinâmicos, com suas cabeças mais arredondadas, e se viram como podem. Não quero dizer que convergência não vale nada, até porque esse caso acaba sendo também um exemplo de convergência de elevada inteligência individual baseada em um cérebro grande, coincidentemente algo nas linhas do que o Conway Morris prevê. Mas aí ainda há o sistema nervoso centralizado em comum, uma outra coisa que, ao que parece, evoluiu uma vez só.
Não que não pudesse evoluir de novo, de qualquer forma. Águas vivas, apesar de não terem sistema nervoso central, têm uma fantástica convergência com olhos em forma de câmera, o que seria um tiro no próprio pé se eu quisesse dizer que "convergência não vale nada". E que talvez possa funcionar como um "embrião" ou "gatilho" evolutivo para uma centralização do sistema nervoso.
Mas de novo, quanto mais se retrocede, mais a falta de base comum dificulta as chances de convergência ou paralelismo. Eu não sei se um gatilho análogo existiria para a evolução dos animais, por exemplo, mesmo depois da divisão com as plantas, e nem essa divisão é algo exatamente necessário. Há uma porção de animais que mais parecem plantas (como esponjas e pepinos do mar), e até uns raros casos de "fusão" posterior por endossimbiose (com um tipo de lesma, e com uma salamandra).
E, por falar em pepino do mar, para se ter uma idéia da importância da herança comum na convergência, todos os animais que têm olhos (não tenho certeza quanto aos "olhos" das cnidárias, no entanto), mesmo evoluídos independentemente, têm em seu desenvolvimento um gene em comum, o Pax6, presente também em pepinos do mar (que não têm olhos), corais (idem), e até na genitália de borboletas (novamente), se não me engano.
Ou seja, por mais fantásticos que possam parecer os casos de paralelismo e convergência, a herança ancestral, provavelmente na virtual totalidade dos casos, têm alguma contribuição significativa no feito. Nem que seja na herança do mesmo código genético, o que não é pouca coisa.