Autor Tópico: A investida do timbre religioso  (Lida 1906 vezes)

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Offline Adriano

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A investida do timbre religioso
« Online: 06 de Novembro de 2010, 10:41:07 »
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A investida do timbre religioso
Existe física cristã ou álgebra muçulmana? O 'surto de fé' que abala candidatos e contamina campanhas não fica só na política

Sérgio Augusto - O Estado de S.Paulo

Foi duro de aguentar, mas acabou. Aleluia!

Com o fim da propaganda eleitoral acabou também a tartufaria, a inacreditável guerra santa entre Dilma Rousseff e José Serra, o show de contorcionismo ideológico e oportunismo político em que se transformou o segundo turno das eleições presidenciais. Noves fora a escolha dos dois vices, a deslavada guinada religiosa de Dilma e Serra foi o ponto mais baixo de uma campanha com muito Jesus no coração e poucas questões relevantes sobre a mesa.

O aborto é uma questão relevante, mas não sei se mais importante e urgente que a educação, a economia, o meio ambiente e outros tópicos negligenciados ou ignorados pelos dois candidatos, que, de olho no butim eleitoral de Marina Silva, se renderam a uma demagógica disputa para ver quem era mais cristão, mais devoto, mais "a favor da vida". Pareciam concorrer à sucessão de Bento XVI ou do Bispo Macedo, não à Presidência da República.

A pantomima diversionista já definhava, na reta final da campanha, quando o papa entrou em cena, com um conselho aos católicos brasileiros: não ajudem a pôr no Planalto quem defende a descriminalização da prática do aborto. Como o aborto fora insistentemente condenado pela petista e pelo tucano, nas últimas semanas, a tardia e inútil conclamação papal ficou parecendo uma manobra do Vaticano para não deixar o espaço político à mercê da concorrência, uma demonstração de força dirigida aos evangélicos.

Em pleno surto de religiosidade de Dilma e Serra, li, em formato Kindle, o mais novo livro do filósofo e neurocientista Sam Harris, The Moral Landscape (A Paisagem Moral), que acaba de ser lançado nos Estados Unidos pela Free Press. Mais oportuno e inserido no contexto, impossível; principalmente no contexto das eleições americanas da próxima terça-feira, muito mais influenciadas por quizilas religiosas que a nossa.

É uma longa reflexão sobre os limites da religião, qualquer religião, para discutir e regular assuntos de ordem moral e decidir quais valores humanos mais nos dignificam, e uma defesa da autoridade moral da ciência para entender e explicar racionalmente nosso comportamento, nossas maneiras de agir e pensar.

Harris, um dos precursores do Novo Ateísmo, junto com Richard Dawkins e Daniel Dennett, já teve duas obras traduzidas no Brasil: Carta a uma Nação Cristã e A Morte da Fé. Sua intenção desta vez é iniciar uma conversa sobre como a ''verdade moral'' pode ser entendida no contexto da ciência. Por acreditar que a moral é algo indissociável do ''bem-estar das criaturas conscientes'', que o bem-estar depende inteiramente do que acontece no mundo e no cérebro humano, e que as descobertas científicas quase sempre colaboram para ampliar ao máximo o nosso bem-estar, propõe que se reconheçam os cientistas como autoridades também em questões morais. A paisagem do título é um espaço hipotético, com picos (onde o bem-estar é provável) e vales (onde o sofrimento é possível) habitados por distintos modos de pensar e comportar-se, diferentes práticas sociais e códigos de ética, diversas formas de governo etc.

Assim como não existe física cristã ou álgebra muçulmana, não faz sentido que exista uma moral cristã ou muçulmana, provoca Harris. Para ele, as ideias nas quais as religiões trafegam são intrinsecamente divisionistas, repressoras e não raro insensíveis ao sofrimento humano e animal. O homem-bomba nasceu numa mesquita, a mutilação da genitália feminina na Somália tem raízes religiosas, as fogueiras da Inquisição foram bancadas pelo Vaticano.

O Vaticano, insiste Harris, se preocupa mais com a contracepção do que com o estupro. "Isso é uma total inversão de prioridades que desvirtua e amesquinha qualquer discussão moral proposta pela Igreja", cujas práticas, reitera, "não maximizam o bem-estar humano."

Certos valores produzem fatos que podem ser compreendidos e explicados cientificamente. Fatos que transcendem as crenças religiosas e a cultura porque são "fatos de saúde física e mental". Câncer é câncer na Califórnia e no Chade; esquizofrenia é esquizofrenia em qualquer lugar; idem a compaixão e o bem-estar. Com menos vela e mais neurociência e psicologia, acredita o filósofo, saberemos mais sobre nossas emoções, nossos impulsos e os efeitos de leis específicas e instituições sociais nas relações humanas.

Os cientistas não são santos, e Harris tem consciência disso. Já se meteram em inúmeras enrascadas imorais ? justificaram a eugenia da raça, o genocídio, a tortura, o racismo, o colonialismo, a inferioridade da mulher, inventaram armas biológicas, químicas e nucleares, métodos de persuasão para manipular a opinião pública e incentivar o consumo conspícuo, e todo um arsenal tecnológico para controlar as pessoas e a economia ?, mas também nos deram engenhos maravilhosos e instrumentos fundamentais de análise e pesquisa.

Muitos neurobiólogos já estudam a evolução da moral, mas o objetivo de suas pesquisas é apenas descrever como os seres humanos pensam e se comportam, tranquiliza Harris. "Ninguém espera que a ciência nos diga como devemos pensar e comportar. A ciência, oficialmente, não toma partido em controvérsias sobre valores humanos." E que assim continue. Amém.
Muito interessante a proposta de defesa moral por cientistas. A ciência traz o ateísmo e o ceticismo intrínsecos a sua atividade ao exigir evidências e provas. A defesa da vida é uma prova ética a favor da humanidade, seja uma defesa de ateus ou crentes.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #1 Online: 17 de Novembro de 2010, 05:27:14 »
Muito interessante a proposta de defesa moral por cientistas. A ciência traz o ateísmo e o ceticismo intrínsecos a sua atividade ao exigir evidências e provas. A defesa da vida é uma prova ética a favor da humanidade, seja uma defesa de ateus ou crentes.
Legal,
porém acho que o tom de desafio que o Dawkins e esse tal de Sam Haris demonstram serve para os ateus melhor se compreenderem e se afirmarem, mas não procura uma relação e discussão mais construtiva com os religiosos. Do ponto de vista religioso, esse pessoal é meio provocativo, e eu acho que com alguma razão.

Offline uiliníli

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #2 Online: 17 de Novembro de 2010, 11:27:01 »
Legal,
porém acho que o tom de desafio que o Dawkins e esse tal de Sam Haris demonstram serve para os ateus melhor se compreenderem e se afirmarem, mas não procura uma relação e discussão mais construtiva com os religiosos. Do ponto de vista religioso, esse pessoal é meio provocativo, e eu acho que com alguma razão.

Do ponto de vista ateu o Papa é provocativo. E os cristãos não condenam o Papa quando ele diz que vai combater o avanço do ateísmo na Europa.

Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #3 Online: 17 de Novembro de 2010, 16:42:26 »
Citação de: uiliníli
Do ponto de vista ateu o Papa é provocativo. E os cristãos não condenam o Papa quando ele diz que vai combater o avanço do ateísmo na Europa.
ok uili. mas seria uma atitude mais construtiva. se o papa nao age assim, é um defeito dele. podemos fazer melhor

Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #4 Online: 17 de Novembro de 2010, 19:22:23 »
E com certeza fazemos diferente e muito diferente. Vejo a proposta de Dawkins para um "laicismo familiar" como muito pertinente.

Muito interessante a proposta de defesa moral por cientistas. A ciência traz o ateísmo e o ceticismo intrínsecos a sua atividade ao exigir evidências e provas. A defesa da vida é uma prova ética a favor da humanidade, seja uma defesa de ateus ou crentes.
Legal,
porém acho que o tom de desafio que o Dawkins e esse tal de Sam Haris demonstram serve para os ateus melhor se compreenderem e se afirmarem, mas não procura uma relação e discussão mais construtiva com os religiosos. Do ponto de vista religioso, esse pessoal é meio provocativo, e eu acho que com alguma razão.
Não vejo tom de desafio em Dawkins. Ele é um defensor do evolucionismo e seu último livro demonstra bem isto. Também não vejo nada de provocativo em Dawkins. Talvez por eu considerar o próprio ateísmo como uma religião.
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Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #5 Online: 17 de Novembro de 2010, 20:54:46 »
adeiano. no geral a proposta do dawkins é maneira e pacifica. mas pela fama q ele conquistou. algumas ironias e respostas  dele podem parecer desafiantes para os religiosos

Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #6 Online: 17 de Novembro de 2010, 21:09:40 »
O maior "desafio" que os religiosos tem é o de deturpar Dawkins. Nada diferente do que já fazem com a ciência. Considerando que ele é um grande divulgador científico, principalmente da evolução, já estão estendendo a ele críticas que sempre fizeram a Darwin.
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Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #7 Online: 17 de Novembro de 2010, 21:23:34 »
concordo q isso q vcs disseram ele faz muito bem, mas por ele ter se tornado um icone, se ele falasse tudo o q ele fala juntamente com uma mensagem de busca de um melhor dialogo com os religiosos, talvez ele fosse mais aceito pelos proprios religiosos. a muié de cesar tem q parecer honesta

Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #8 Online: 17 de Novembro de 2010, 21:52:04 »
Eu penso que ele está fazendo muito melhor dialogando com a humanidade em geral, considerando o seu tempo presente e as mídias disponiveis. Acredito que ele faz isso muito bem.

Perder tempo com as inutilidades de nossa época não é uma boa estratégia a longo prazo. Ainda mais quando essas inutilidades são uma ameaça a um conhecimento de grande importância.

Darwin, para tomar o exemplo do pai da evolução, teve grandes problemas com a religião de sua época. Teve que vencer muitas dificuldades pessoais para poder publicar o que hoje consideramos uma obra prima na área de biologia.
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Offline Geotecton

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #9 Online: 17 de Novembro de 2010, 22:05:49 »
Citação de: uiliníli
Do ponto de vista ateu o Papa é provocativo. E os cristãos não condenam o Papa quando ele diz que vai combater o avanço do ateísmo na Europa.
ok uili. mas seria uma atitude mais construtiva. se o papa nao age assim, é um defeito dele. podemos fazer melhor

Desculpe. Mas não é somente o papa que age assim. Este é um modus operandi de quase todos os religiosos em cargos de poder ou liderança.
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Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #10 Online: 18 de Novembro de 2010, 02:15:09 »
Desculpe. Mas não é somente o papa que age assim. Este é um modus operandi de quase todos os religiosos em cargos de poder ou liderança.
Ok Geo, mas o meu porém é que atualmente (antes tb?) as conversas entre ateus e religiosos tem em sua maioria conteúdos de contestação e raramente de busca por um diálogo construtivo. Pelo menos é a minha percepção, e eu fiz uma googlada e confirmei. Então se alguns dos ateus mais famosos se dispusessem a propor mais entendimento mútuo, talvez fosse mais construtivo para toda a sociedade, inclusive no campo político.
Esse modus operandi que vc falou ocorre muito, mas tb tem religiosos com uma postura mais conciliadora, o ex-cardeal D. Paulo Evaristo Arns e o Rabino Sobel (o da gravata) são exemplos de religiosos da mais alta respeitabilidade para com a suas comunidades e para com as outras tb. Acho que a própria história da humanidade tem influências negativas, mas tb muitas bastante positivas das religiões, como o conceito de sacralidade e defesa da vida que praticamente erradicou o infanticídio na civilização ocidental, que ajudou na abolição da escravatura (apesar de ter justificado antes), que teve influência nas diversas formas de declarações de direitos humanos desde o humanismo. Ou seja, os religiosos tb fazem contribuições positivas para a humanidade, apesar das negativas ... mas ninguém é perfeito ... nem o ateísmo ...
Por isso acho que para diminuir esse clima de birra entre ateus e religiosos, bem que pessoas como o Dawkins poderiam tomar uma bela atitude, no meu ponto de vista, de ser de alguma forma mais simpático com os religiosos.


Eu penso que ele está fazendo muito melhor dialogando com a humanidade em geral, considerando o seu tempo presente e as mídias disponiveis. Acredito que ele faz isso muito bem.
Concordo com vc, ele vem fazendo um bom trabalho para o esclarecimento mútuo de ateus e religiosos, bem como para a auto afirmação de muitos ateus que se viam de alguma forma socialmente ou conceitualmente reprimidos.



Perder tempo com as inutilidades de nossa época não é uma boa estratégia a longo prazo.
Aí já não concordo muito, pq não vejo como a busca por um melhor diálogo não possa ser uma boa estratégia, principalmente a longo prazo.




Ainda mais quando essas inutilidades são uma ameaça a um conhecimento de grande importância.
Combater as ameaças a ciência e ao avanço humano atual, claro que é importantíssimo, mas não é incompatível com uma postura mais consensual com os religiosos.




Darwin, para tomar o exemplo do pai da evolução, teve grandes problemas com a religião de sua época. Teve que vencer muitas dificuldades pessoais para poder publicar o que hoje consideramos uma obra prima na área de biologia.
Sim, mas isso foram problemas com os fundamentalistas. Eu acho que a maioria dos religiosos não o são, pq senão o iluminismo e o secularismo não teriam prosperado de forma ampla na sociedade e como base do poder político das sociedades ocidetais e politicamente ocidentalizadas.
Então acho que há muito espaço para discussões de melhor nível com os religiosos mais razoáveis, e eles existem, espero que sejam a maioria. Acho que se quisermos avançar na convivência mais respeitosa, temos que investir nisso.

Putz, baixou o meu lado "bonzinho" ... quem falar que é viadagem leva porrada ...

Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #11 Online: 18 de Novembro de 2010, 06:44:14 »
Perder tempo com as inutilidades de nossa época não é uma boa estratégia a longo prazo.
Aí já não concordo muito, pq não vejo como a busca por um melhor diálogo não possa ser uma boa estratégia, principalmente a longo prazo.
Me parece que ele tem o melhor diálogo possível. É a minha opinião de um devoto do ateísmo  :lol:


Ainda mais quando essas inutilidades são uma ameaça a um conhecimento de grande importância.
Combater as ameaças a ciência e ao avanço humano atual, claro que é importantíssimo, mas não é incompatível com uma postura mais consensual com os religiosos.
Não vejo proposta mais consensual para o bem da humanidade do que o "laicismo familiar". Somente com um postura de respeito para com o indivíduo é que podemos conseguir eliminar a hereditariedade do virus da fé ruim.

Darwin, para tomar o exemplo do pai da evolução, teve grandes problemas com a religião de sua época. Teve que vencer muitas dificuldades pessoais para poder publicar o que hoje consideramos uma obra prima na área de biologia.
Sim, mas isso foram problemas com os fundamentalistas. Eu acho que a maioria dos religiosos não o são, pq senão o iluminismo e o secularismo não teriam prosperado de forma ampla na sociedade e como base do poder político das sociedades ocidetais e politicamente ocidentalizadas.
Então acho que há muito espaço para discussões de melhor nível com os religiosos mais razoáveis, e eles existem, espero que sejam a maioria. Acho que se quisermos avançar na convivência mais respeitosa, temos que investir nisso.

Putz, baixou o meu lado "bonzinho" ... quem falar que é viadagem leva porrada ...
Sim e está projetando essa "viadagem boazinha" em Dawkins  :P

Mas por isso eu busco dialogar com teístas, sempre expondo a minha "religiosidade" ateísta. E não vejo exemplo mais grandioso de diálogo do que Dawkins. Ele leva muito a sério o teísmo e procura sempre refuta-lo  :wink:
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Offline Geotecton

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #12 Online: 18 de Novembro de 2010, 09:23:13 »
Desculpe. Mas não é somente o papa que age assim. Este é um modus operandi de quase todos os religiosos em cargos de poder ou liderança.
Ok Geo, mas o meu porém é que atualmente (antes tb?) as conversas entre ateus e religiosos tem em sua maioria conteúdos de contestação e raramente de busca por um diálogo construtivo. Pelo menos é a minha percepção, e eu fiz uma googlada e confirmei.

Eu também acho que o confronto predomina nas relações. Mas a maior responsabilidade por este comportamento é dos religiosos, pois a maioria deles quer que os ateus sejam "não-militantes". Ora, o ato de pedir (exigir?) que uma minoria não se manifeste é o mesmo que pedir a sua virtual capitulação, pois os meios de doutrinação disponíveis pelos religiosos é muito mais amplo que os meios que os ateus tem para contestar esta massiva ideologização.

Quero deixar claro que eu não sou defensor de uma posição de hostilidade gratuita com os religiosos, mas não posso me calar diante das arbitrariedades e manipulações cometidas despudoradamente por eles.


Então se alguns dos ateus mais famosos se dispusessem a propor mais entendimento mútuo, talvez fosse mais construtivo para toda a sociedade, inclusive no campo político.

Talvez. Mas hoje eu não consigo vislumbrar mesmo em um futuro próximo, por exemplo, uma divisão clara entre religiosos e ateus no campo político, muito mais em função da falta de caráter e de tradição ideológica de nossos políticos do que pelas idiossincrasias e implicações de cada programa ideológico-partidário.


Esse modus operandi que vc falou ocorre muito, mas tb tem religiosos com uma postura mais conciliadora, o ex-cardeal D. Paulo Evaristo Arns e o Rabino Sobel (o da gravata) são exemplos de religiosos da mais alta respeitabilidade para com a suas comunidades e para com as outras tb.

Sem dúvida que há muitos religiosos conciliadores. Talvez eles sejam a maioria. Mas o mais fundamental, em meu entender, é que as cosmogêneses são completamente antagônicas e não há como acomodar isto, porque no balanço final, ou os ateus estão certos (e os religiosos estão errados) ou não.

Será preciso uma "enorme dose de civilização" para que os dois lados possam conviver harmonicamente.


Acho que a própria história da humanidade tem influências negativas, mas tb muitas bastante positivas das religiões, como o conceito de sacralidade e defesa da vida que praticamente erradicou o infanticídio na civilização ocidental, que ajudou na abolição da escravatura (apesar de ter justificado antes), que teve influência nas diversas formas de declarações de direitos humanos desde o humanismo. Ou seja, os religiosos tb fazem contribuições positivas para a humanidade, apesar das negativas ... mas ninguém é perfeito ... nem o ateísmo ...

Eu nunca neguei a influência da religião cristã na moldagem da chamada "civilização ocidental", seja no seu lado bom, seja no seu lado mau.


Por isso acho que para diminuir esse clima de birra entre ateus e religiosos, bem que pessoas como o Dawkins poderiam tomar uma bela atitude, no meu ponto de vista, de ser de alguma forma mais simpático com os religiosos.

No seu entender, como é que Dawkins deveria se relacionar com os religiosos?
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Offline Dbohr

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #13 Online: 18 de Novembro de 2010, 10:16:12 »
Olha, eu confesso a vocês que também achava que o Dawkins era agressivo demais. Daí eu li dois livros dele (O Relojoeiro Cego e Deus: um Delírio) e assisti ao documentário da BBC "Root of all evil?" e concluí que ele não é nada agressivo. Apenas aponta as coisas absurdas do raciocínio religioso e diz que se nós ateus quisermos ter nossos direitos reconhecidos para que nunca mais ocorra eventos como o do Datena na Bandeirantes temos que nos organizar.

E eu sou obrigado a concordar.

Offline gilberto

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #14 Online: 18 de Novembro de 2010, 12:56:25 »
Me parece que ele tem o melhor diálogo possível. É a minha opinião de um devoto do ateísmo  :lol:
...
E não vejo exemplo mais grandioso de diálogo do que Dawkins. Ele leva muito a sério o teísmo e procura sempre refuta-lo  :wink:
Eu não acho que o Dawkins faz algo de errado, mas alguns religiosos acham (seria interessante saber se alguém já fez alguma estimativa ou pesquisa sobre a %), logo se além do que ele já faz muito bem, ele conseguisse passar mais explicitamente alguma mensagem de que a posição dos ateus tb pode ser de boa vizinhança com os religiosos, isso poderia ser de uma utilidade extra tanto para um diálogo mais produtivo quanto para a própria melhor aceitação e até da "conversão" dos religiosos para com o ateismo. Claro que é só uma especulação minha.


Não vejo proposta mais consensual para o bem da humanidade do que o "laicismo familiar". Somente com um postura de respeito para com o indivíduo é que podemos conseguir eliminar a hereditariedade do virus da fé ruim.
É o nosso (laico) ponto de vista geral, que eu concordo pois vejo como sendo mais realista e racional. Mas não é necessariamente para os religiosos em alguns aspectos. Digo alguns, pq os religisos ocidentais são, digamos, 90% laicos. Só que eles tem o direito de serem esses 10% não laicos, e acho que cabe a eles e nós, os 99,99% laicos, procurarmos as melhores formas de convívio.




Eu também acho que o confronto predomina nas relações. Mas a maior responsabilidade por este comportamento é dos religiosos, pois a maioria deles quer que os ateus sejam "não-militantes". Ora, o ato de pedir (exigir?) que uma minoria não se manifeste é o mesmo que pedir a sua virtual capitulação, pois os meios de doutrinação disponíveis pelos religiosos é muito mais amplo que os meios que os ateus tem para contestar esta massiva ideologização.
Eu tb acho que a birra ateu-religiosos é mais devido aos religiosos do que nós ateus, por isso sou ateu, pois acho a nossa posição mais razoável. Agora, vamos supor que 90% dessa birra seja por conta dos religiosos e 10% por nossa conta, então se alguns ateus cuja voz ecoa na mídia como o Dawkins dissessem mais explícitamente e talvez mais didaticamente para os religiosos com menos capacidade de compreensão (sabemos que eles existem aos montes, hehe), a mensagem geral dele teria mais chances de ser melhor recebida pelos religiosos, e como disse o Adriano, o bem que essa mensagem pode trazer seria maior, em tese.
O que eu estou falando tb poderia servir para o discurso do dawkins pudesse contrabalançar ainda mais o discurso religiososo-fundamentalista, perante os não fundamentalistas.



Quero deixar claro que eu não sou defensor de uma posição de hostilidade gratuita com os religiosos, mas não posso me calar diante das arbitrariedades e manipulações cometidas despudoradamente por eles.
Claro, concordo. Essa minha posição é para sem deixar de estarmos dispostos a defesa de nossos valores laicos, lembrar aos religiosos, e a nós mesmos que temos a disponibilidade de consenso. Digo isso pq uma característica psicológica humana que é o de um certo exagero qdo em condições de conflito, acirrando o conflito além das causas reais do conflito (já li sobre pesquisas disso). Então para se minimizar essa tendência é necessário estar consciente dela e procurar sempre lembrar a nós mesmo e com quem estamos discutindo que há espaço para se avançar no consenso.



Talvez. Mas hoje eu não consigo vislumbrar mesmo em um futuro próximo, por exemplo, uma divisão clara entre religiosos e ateus no campo político, muito mais em função da falta de caráter e de tradição ideológica de nossos políticos do que pelas idiossincrasias e implicações de cada programa ideológico-partidário.


Sem dúvida que há muitos religiosos conciliadores. Talvez eles sejam a maioria. Mas o mais fundamental, em meu entender, é que as cosmogêneses são completamente antagônicas e não há como acomodar isto, porque no balanço final, ou os ateus estão certos (e os religiosos estão errados) ou não.

Será preciso uma "enorme dose de civilização" para que os dois lados possam conviver harmonicamente.
Vc não está sendo pessimista?



No seu entender, como é que Dawkins deveria se relacionar com os religiosos?
Eu acho que o Dawkins poderia incluir no final de suas exposições uma mensagem do tipo ... "olha, mas há como nós ateus e religosos buscarmos aparar as nossas arestas de convivência, pois o bom senso já nos mostrou que podemos superar as nossas diferenças" ... somente algo assim, pois muitas pessoas religosas e até algumas atéias não conseguem ver que a mensagem do Dawkins é compatível com isso.
É apenas lembrar isso, pois já vi no youtube algumas boas respostas do dawkins a perguntas mais enviesadas ou até bobas, onde o Dawkins foi só brincalhão ou refutador, mas se não lembrar o "povão" que nós ateus não estamos buscando o confronto, o "povão" acha que sim ... o marketing político sabem muito bem disso.





Olha, eu confesso a vocês que também achava que o Dawkins era agressivo demais. Daí eu li dois livros dele (O Relojoeiro Cego e Deus: um Delírio) e assisti ao documentário da BBC "Root of all evil?" e concluí que ele não é nada agressivo. Apenas aponta as coisas absurdas do raciocínio religioso e diz que se nós ateus quisermos ter nossos direitos reconhecidos para que nunca mais ocorra eventos como o do Datena na Bandeirantes temos que nos organizar.

E eu sou obrigado a concordar.
Eu tb não acho que o Dawkins seja agressivo, mas como alguns religosos acham (ou apenas pregam) que ele seja, então para a mensagem dele ser melhor aceita entre esse tipo de pessoas, eu acho que ele teria que sempre incluir uma frase de "paz" nas suas manifestações.
Do Datena eu não falo nada, pq não acho que ele tenha algo a contribuir para a humanidade, já o Dawkins sim. Por isso acharia legal se ele ou alguém do naipe dele procurasse fazer o que eu estou propondo.


Putz, escrevi demais.
« Última modificação: 18 de Novembro de 2010, 12:59:11 por gilberto »

Offline Osler

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #15 Online: 18 de Novembro de 2010, 19:37:30 »
Alguns religiosos ficam eriçados com qualquer tipo de argumentação sobre sua fé pessoal, é um assunto proibido para eles.
Para os fundamentalistas contestar qualquer linha do seu texto sagrado é por definição eresia.
Interessante é a resistência das pessoas ao Ateismo, falo por experiência própria.  COmumente quando comento que sou Ateu ouço "mas não pode não acreditar em Deus" com um misto de horror e espanto.  Confesso que de maneira geral isso me diverte, de tão caricata que é essa reação.  Interessante notar que muitas dessas pessoas que ficam chocadas são "não praticantes", não ficam chocadas enquanto pensam que sou Judeu (ninguém fora um grande amigo descendente de Palestino e meu sócio que me sacaneiam "esses ai mataram Cristo").  O preconceito com Ateismo é realmente muito grande.
O Dawkins apenas exterioriza seu posicionamento Ateista (que eu concordo na forma embora discorde ligeiramente no conteúdo) e anti-religioso (que eu discorod um pouco mais) da mesma forma como discorre sobre outros assuntos, sem usar deferencia especial por estar falando de religião.

“Como as massas são inconstantes, presas de desejos rebeldes, apaixonadas e sem temor pelas conseqüências, é preciso incutir-lhes medo para que se mantenham em ordem. Por isso, os antigos fizeram muito bem ao inventar os deuses e a crença no castigo depois da morte”. – Políbio

Offline Sofista

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #16 Online: 20 de Novembro de 2010, 00:22:48 »
Ativismo ateísta sempre me perguntei se isso era valido ou não! Mas em pensar nisso, sera que necessitamos de um moralismo ateísta?
Quem sou eu?Entre os crente sou ateu, entre ateus sou um crente.

Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #17 Online: 20 de Novembro de 2010, 09:31:01 »
Me parece que ele tem o melhor diálogo possível. É a minha opinião de um devoto do ateísmo  :lol:
...
E não vejo exemplo mais grandioso de diálogo do que Dawkins. Ele leva muito a sério o teísmo e procura sempre refuta-lo  :wink:
Eu não acho que o Dawkins faz algo de errado, mas alguns religiosos acham (seria interessante saber se alguém já fez alguma estimativa ou pesquisa sobre a %), logo se além do que ele já faz muito bem, ele conseguisse passar mais explicitamente alguma mensagem de que a posição dos ateus tb pode ser de boa vizinhança com os religiosos, isso poderia ser de uma utilidade extra tanto para um diálogo mais produtivo quanto para a própria melhor aceitação e até da "conversão" dos religiosos para com o ateismo. Claro que é só uma especulação minha.
Boa especulação mas é baseada numa premissa que não concordo, por isso fica um pouco fantasioso para mim.

Não vejo proposta mais consensual para o bem da humanidade do que o "laicismo familiar". Somente com um postura de respeito para com o indivíduo é que podemos conseguir eliminar a hereditariedade do virus da fé ruim.
É o nosso (laico) ponto de vista geral, que eu concordo pois vejo como sendo mais realista e racional. Mas não é necessariamente para os religiosos em alguns aspectos. Digo alguns, pq os religisos ocidentais são, digamos, 90% laicos. Só que eles tem o direito de serem esses 10% não laicos, e acho que cabe a eles e nós, os 99,99% laicos, procurarmos as melhores formas de convívio.
Me parece que você não conhece bem a proposta de Dawkins sobre a defesa de um "laicismo familiar"* , que é poupar as crianças de uma doutrinação religiosa e deixa-las para decidir isso depois, assim como acontece com a política. 


*Eu que estou fazendo essa analogia com a separação entre estado e religião com a proposta de Dawkins    :ok:
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Offline Adriano

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Re: A investida do timbre religioso
« Resposta #18 Online: 20 de Novembro de 2010, 09:44:16 »
Alguns religiosos ficam eriçados com qualquer tipo de argumentação sobre sua fé pessoal, é um assunto proibido para eles.
Para os fundamentalistas contestar qualquer linha do seu texto sagrado é por definição eresia.
Interessante é a resistência das pessoas ao Ateismo, falo por experiência própria.  COmumente quando comento que sou Ateu ouço "mas não pode não acreditar em Deus" com um misto de horror e espanto.  Confesso que de maneira geral isso me diverte, de tão caricata que é essa reação.  Interessante notar que muitas dessas pessoas que ficam chocadas são "não praticantes", não ficam chocadas enquanto pensam que sou Judeu (ninguém fora um grande amigo descendente de Palestino e meu sócio que me sacaneiam "esses ai mataram Cristo").  O preconceito com Ateismo é realmente muito grande.
O Dawkins apenas exterioriza seu posicionamento Ateista (que eu concordo na forma embora discorde ligeiramente no conteúdo) e anti-religioso (que eu discorod um pouco mais) da mesma forma como discorre sobre outros assuntos, sem usar deferencia especial por estar falando de religião.
Essa é uma outra grande bandeira de Dawkins que ostento. Sempre muito bem contextualizado, é claro. E como a condição de liberdade para falar de ateísmo é muito rara, então me sinto muito bem em poder externalizar esta condição nos ambientes cibernéticos onde é permitido tal expressão.  :danca:

Ativismo ateísta sempre me perguntei se isso era valido ou não! Mas em pensar nisso, sera que necessitamos de um moralismo ateísta?
Eu particularmente preciso. E você?
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