Concordo na maior parte com você - existem mecanismos de controle das corporações (a questão de sua eficácia é discutível, no entanto),
e desprezo as opiniões mais conspiracionistas sobre a ação das empresas, mas no que se refere a
Desconheço tentativas de manipulação economicamente viáveis que foram bem sucedidas para uma corporação. Vontade não falta, mas os riscos e os custos de mídia envolvidos descartam qualquer iniciativa nesse sentido.
Você consideraria a inclusão do IE no Windows uma forma de manipulação? Ou (olhando mais no passado) a proibição da
coleta da sal na Índia? Ou as artimanhas da indústria do tabaco contra as evidências dos males do cigarro?
No que se refere à moralidade dos empresários, não podemos esquecer das experiências de Milgram e do experimento da
prisão de Stanford.
E lembre-se que o Jobs já chegou a ser chutado da Apple pela diretoria.
Se os dirigentes são humanos e elas (as corporações) decidem como humanos, porque os objetivos seriam "nâo humanos"?
Você já viu uma multidão enfurecida? Ela é composta por humanos mas coletivamente tende a agir como um réptil acuado.
Resumindo, a verdade deve estar em algum lugar entre os dois extremos, e acho que o Stross está ciente disso.
Na época, a Microsoft tinha market share próximo a 90% do mercado. Entramos naquela situação em que o cliente tem fidelidade por falta de opção. Mesmo assim a Microsotf foi processada inicialmente na Europa e depois nos EUA e foi obrigada a incluir a opção de desinstalar o IExplorer. Isso mostra que existem mecanismos de controle para inibir tentativas de asfixiar a concorrência e a Microsoft teve que ceder.
A tributação do sal data de 1825 e durou até 1930 e foi uma estratégia do governo britânico. Não acho um bom exemplo no contexto da discussão das corporações apátridas e sem objetivos humanos como nos diz o texto, pelo contrário, exemplifica a tentativa de manter a Índia sob o julgo inglês, com uma dose enorme de patriotismo do ponto de vista deles.
Em relação à indústria do tabaco, quem está vencendo a guerra? As corporações tabagistas já estiveram entre as mais poderosas do mundo e mantinham relações de interesse tributário com a maioria dos governos dos países aonde estavam estabelecidas. O que aconteceu então com a manipulação? Com a administração alienígena? Por que perderam terreno? Por que sucumbiram aos interesses de uma vida saudável (objetivo humano) das pessoas? Porque foram incapazes de sustentar mentiras. O mercado disse não e venceu, apesar do lucro enorme dos governos com impostos.
Não vejo que a experiência de Milgran ou a da prisão de Stanford se apliquem ao mundo corporativo porque existe visibilidade das práticas gerenciais, meios de comunicação eficientes e a possibilidade da pessoa se desvincular da empresa a qualquer momento. Nos dois casos, as condições da experimento são muito diferentes daquelas encontradas nas empresas, apesar de no passado, no ínico da revolução industrial poderem ser aplicadas. Uma criança acorrentada a um tear para ganhar o salário que pagava apenas a sua alimentação poderia ser um exemplo. No mundo atual, o caso do trabalho escravo na China teve repercursão mundial e forçou a Apple a um posicionamento junto aos seus acionistas e consumidores. A vigilância no mundo corporativo é orientada por práticas centradas no controle de qualidade. Essas práticas são conhecidas e as empresas em geral se orgulham delas e chegam a disponbilizar ou vender esse know-how. A GE, por exemplo, manda seus executivos para a Disney University para aprender com eles.
Essa história conheço bem e daria um outro tópico. Jobs foi chutado por John Sculley (que conhecí pessoalmente) por outros motivos que estavam longe de qualquer intenção manipuladora. Jobs era um pentelho egocêntrico, genial, que colocou em batalha campal (literalmente, com socos e pauladas) a equipe do Macintosh com a equipe do Apple II. Faltou ao Sculley talento para entender o mercado e administrar a Apple que estava rachando em duas. Jobs dançou. Assim como Sculley que dançou pouco tempo depois por estar afundando a empresa. Administração alienígena? Pode ser se considerarmos que ele veio da Pepsi (ele era casado com a filha do CEO da Pepsi) e não entendia patavinas de informática, apesar de ter uma patente de um tubo de TV como engenheiro.
Novamente, não acho que o exemplo seja pertinente. Uma corporação está longe de ser uma multidão enfurecida, é composta por uma multidão recrutada, selecionada segundo as necessidades da empresa e treinada para desempenhar funções tendo em vista objetivos bastante claros a todos. Toda estratégia empresarial preconiza um objetivo global baseado na visão que a empresa tem do futuro. Dessa estratégia global, abrangente e portanto genérica, são desenvolvidas as estratégias funcionais para se atingir os desdobramentos desse objetivo global. Daí vem os objetivos de marketing, de produção, de finanças, de recursos humanos, de logistica, de informação, etc e suas respectivas estratégias que são desdobradas em práticas em níveis táticos. Nenhuma corporação esconde seu ojetivo global e geralmente ele aparece colado junto com a missão nos elevadores e corredores das empresas.
Acho que Stross não entende bulhufas de business, de economia e de marketing.