Blatter recomenda que gays "evitem atividades sexuais" no Catar 2022
O presidente da Fifa, Sepp Blatter, criou polêmica ao dizer, nesta terça-feira, que torcedores gays que viajarem ao Catar para a Copa do Mundo de 2022 devem "evitar qualquer atividade sexual".
"Eu diria a eles (torcedores gays) para evitar qualquer atividade sexual", disse Blatter, em aparente tom de brincadeira. "Tenho certeza de que não ocorrerá problemas durante a Copa do Mundo do Catar", afirmou ele, com mais seriedade.
"Acho que não deve existir discriminação contra qualquer ser humano, esteja ele deste ou daquele lado", disse Blatter. "Se eles (gays) quiserem assistir a algum jogo no Catar em 2022, tenho certeza de que vão ser admitidos. Acho que tem muita preocupação para uma competição que vai acontecer apenas daqui a doze anos".
"Mas isto me dá a chance de dizer que, segundo os estatutos da Fifa, seja em relação a política ou religião, não queremos racismo ou descriminação", disse o presidente da Fifa.
Críticas
As declarações de Blatter foram criticadas pelo ex-astro do basquete John Amaechi, que assumiu ser gay em 2007. "As declarações feitas e as posições adotadas por Sepp Blatter e a Fifa para com os torcedores LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), que pagam muito dinheiro para viajar e pelos ingressos para assistir ao Mundial de 2022, seriam completamente inaceitáveis há uma década", escreveu Amaechi em seu site.
"Mas, em vez disso, sem pensar muito, a Fifa endossou a marginalização de pessoas LGBT de todo o mundo. Qualquer coisa exceto uma reversão total de posição é inaceitável".
"Se o esporte não serve para mudar a sociedade, mesmo que temporariamente durante um evento como a Copa do Mundo, então ele não é muito mais que apenas homens correndo atrás de uma bola, e deve ser tratado desta forma", disse Ameachi.
Grupos de defesa dos direitos gays criticaram a escolha do Catar, país onde homossexualidade é crime, para ser sede da Copa. As altas temperaturas do Catar à época da competição, entre 40ºC e 50ºC, e a proibição de venda de bebidas alcoólicas em público já haviam despertado preocupação.
O país foi uma escolha surpreendente para ser sede da competição, superando concorrentes como EUA e Austrália. Blatter negou que a escolha tenha sido motivada por dinheiro. "Isto não tem nada a ver com dinheiro. Este é o desenvolvimento do futebol e não falamos de dinheiro", disse.
Estranho como a FIFA mudou em duas décadas: durante o apartheid a África do Sul sequer podia participar das competições da entidade. Não ligavam para se esta era a cultura sulafricana. E agora dois países cujas leis punem com a morte gays, prostitutas, ateus e religiosos não abraamicos sediam edições de seus dois certames mais importantes. Aaaaahhh, mas temos que "respeitar as diferenças de culturas".
Realmente, se for em nome de deus qualquer barbaridade fica parecendo menos bárbara.
De qualquer modo, torço para que este episódio de terça feira, num efeito colateral desejável, estimule quem sabe um boicote ou uma onda de protestos (por parte de gays, ateus e humanistas em geral) em relação às políticas teocráticas do Islão. Dizem que o esporte teve um papel importante no fim do Apartheid, quem sabe não possa exercer outro papel de igual importância agora, mesmo que meio sem querer.
Mesmo que não consiga derrubar ( e não conseguirá) as teocracias do deserto: se os eventos polêmicos que certamente surgirão em torno da Copa de 22 (que Allah, o porco vira-lata , permita que a sede seja alterada) ampliarem a percepção negativa sobre elas será um ponto positivo.