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Rhyan

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O homem que derrotou a aids
« Online: 17 de Dezembro de 2010, 09:13:29 »
O homem que derrotou a aids

Conheça o hematologista alemão Gero Huetter, responsável pela primeira cura de um paciente com HIV

O médico alemão Gero Huetter, durante entrevista à imprensa no Hospital Charite de Berlim, em 2008, ainda na fase inicial da pesquisa que levou à cura da aids

O médico alemão Gero Huetter, durante entrevista à imprensa no Hospital Charite de Berlim, em 2008, ainda na fase inicial da pesquisa que levou à cura da aids (Michael Kapeller/AFP)

"Ele está curado da aids. Não encontramos nenhum sinal de HIV nele. Normalmente, pacientes infectados por muito tempo possuem HIV integrado ao seu genoma. Nem isso encontramos nele."

Gero Huetter, médico alemão responsável por curar um paciente com aids pela primeira vez na história

Em 1995, o executivo americano Timothy Ray Brown contraiu aids. Foi também nesse ano que Gero Huetter, então graduando da Universidade de Berlim, decidiu entrar para o ramo da pesquisa médica. As duas histórias se cruzariam em maio de 2006, quando Brown, que também sofria de um tipo agressivo de leucemia,  abriu a porta do consultório com a placa: “Dr. Gero Huetter, hematologista”.

Brown estava magro, emaciado e com alguns órgãos já severamente comprometidos. Mas Huetter se lembra de notar no paciente, já nesse primeiro encontro, uma energia e um otimismo acima do comum. Optou, então, por submeter Brown a uma terapia que envolvia quimioterapia e transplante de medula. Mas um transplante especial: o doador da medula deveria possuir uma mutação rara, que eliminava de suas células a proteína CCR5, que permite a entrada do HIV nas células de defesa do organismo. Havia uma possibilidade teórica de que o tratamento destinado à leucemia pudesse ter algum impacto sobre a aids. "Eu não esperava muito da experiência", diz Huetter. "Ela nunca havia sido feita antes, nem mesmo em animais."

Neste mês, após dois transplantes de medula e três anos sem qualquer sinal de HIV no organismo de Brown, o médico anunciou o que parecia estar fora do horizonte médico: a cura de um paciente de aids. Embora esse sucesso em particular não signifique a cura da aids em geral, ela mostra que o HIV pode ser derrotado. Em entrevista ao site de VEJA, Huetter, 42 anos, conta detalhes da pesquisa, comenta o estado do paciente e as expectativas de cura para outras vítimas de HIV.

Como você se sente sendo o primeira médico a curar a aids no mundo? É um sentimento agradável. Foi um trabalho duro colocar todas as peças juntas, mas no final foi um sucesso.

O que permite dizer que o paciente está curado da aids? Não encontramos nenhum sinal de HIV nele. Normalmente, pacientes infectados por muito tempo possuem HIV integrado ao seu genoma. Nem isso encontramos nele. Todas as suas células infectadas foram substituídas pelas células do doador.

Como você conheceu Brown? Ele era um paciente meu desde maio de 2006. Estava muito enfraquecido e com uma leucemia muito severa. Naquele momento, sem tratamento, esperava-se que ele vivesse apenas alguns meses. Com um tratamento convencional, sem transplante, tinha uma chance de 10 a 15% de remissão por um período curto, até a leucemia voltar. A única esperança real de vida para ele era um transplante de medula. Ele era jovem, tinha uns 40 anos na época, então tinha o melhor prognóstico para esse procedimento. Decidimos, então, que o melhor para ele, seria escolher um doador com a mutação do CCR5. A CCR5 é a proteína que permite a entrada do HIV nas células de defesa do nosso organismo. Sem ela, o vírus fica impossibilitado de nos infectar. Cerca de 1% da população mundial possui uma mutação que elimina o CCR5 das células.

Será possível replicar o tratamento em outras pessoas com HIV? Depois de publicar um artigo científico com nossos primeiros resultados, em 2008, recebemos consultas de pacientes de todo o mundo, que sofrem de leucemia e HIV. Para oito deles, fizemos uma busca de doadores compatíveis. Alguns tinham apenas dois doadores, então a probabilidade de encontrar a mutação era muito baixa. Outros morreram antes de o transplante ser feito. E o paciente mais promissor, uma criança, com mais de 100 possíveis doadores, não pode ser curada por esse método porque nenhum deles tinha essa mutação. Algumas vezes as estatísticas falham com você. Agora estamos esperando outros contatos, de outras instituições e hospitais. Qualquer um que se encaixe nessas condições - ser soropositivo e vítima de leucemia - pode falar comigo e eu providenciarei a busca de doadores.

Essa pesquisa pode evoluir para uma cura geral? Sim. Mesmo antes que eu fizesse esse transplante, alguns pesquisadores estudavam a possibilidade de uma terapia genética ou uma medicação para o HIV que bloqueasse essa proteína, imitando a mutação. Agora existe investimento e interesse suficiente nessa linha de pesquisa, e pode ser que ela traga resultado.

Você esperava curar a aids ou foi um feliz acidente? Uma mistura dos dois, na verdade. Eu nunca tinha tentado nenhuma pesquisa com HIV antes disso. Sou um hematologista e trato pacientes com câncer, mas surgiu para mim esse paciente que tinha leucemia e HIV. Foi o momento em que comecei a pensar nessa abordagem. Sabia que havia uma pequena chance de curar a aids, mas não esperava muito da experiência, já que nunca havia sido tentada antes, nem mesmo em animais. Não tínhamos nada a que nos apegar.

Como foi o tratamento? Durante as primeiras sessões de quimioterapia, tivemos muitos problemas, incluindo falha de alguns órgãos. A leucemia é muito agressiva e diversos pacientes morrem nas primeiras três ou quatro semanas de tratamento. Não bastasse isso, Brown era soropositivo, com todos os riscos e problemas que isso acarreta.

Ele sofreu com algum efeito colateral? Sim. No segundo transplante, tivemos uma série de complicações. Ele ainda sofre com elas, especialmente as consequências cerebrais. Ele tem dificuldades de lembrar coisas que acabaram de acontecer. Não acontecimentos de cinco anos ou cinco meses atrás, mas de cinco minutos. Como “onde eu estava indo?” ou “onde deixei minhas chaves?”.

Ele voltará a ter uma vida normal? Sim, uma vida bem normal. Não tem mais restrições. Ele mudou-se para São Francisco, não sabe se em definitivo. Ainda não está trabalhando, mas esperamos que vá se livrar de boa parte dos efeitos colaterais nos próximos anos e voltar à sua rotina. Provavelmente, não fazendo exatamente as mesmas coisas que fazia antes, mas ele encontrará um jeito de trabalhar.


Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/o-homem-que-derrotou-a-aids

Offline Nina

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #1 Online: 17 de Dezembro de 2010, 23:14:01 »
Isso vai dar uma reviravolta nas pesquisas. Não sei se já estavam tentando terapia gênica para cura da Aids, mas se não, ta aí a evidência de que precisam tentar.

Pena que um paciente não é número suficiente para assegurar o método. Tomara que outros sejam testados e tenham regressão da doença também...
"A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer." Carl Sagan.

Offline Gaúcho

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #2 Online: 17 de Dezembro de 2010, 23:21:09 »
Mas isso não quer dizer absolutamente nada, não? Se eu entendi, além de tu achar um doador de medula compatível, o que já é complicado, esse doador tem que ter um condição genética extremamente rara que destrói o vírus da AIDS.

Que tipo de avanço podem tirar desse caso?
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Offline Geotecton

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #3 Online: 17 de Dezembro de 2010, 23:57:36 »
Mas isso não quer dizer absolutamente nada, não? Se eu entendi, além de tu achar um doador de medula compatível, o que já é complicado, esse doador tem que ter um condição genética extremamente rara que destrói o vírus da AIDS.

Que tipo de avanço podem tirar desse caso?

Ampliar a pesquisa para compreender melhor a mutação que é a responsável pela eliminação da proteína CCR5 e, talvez, obter um medicamento que faça este papel.
Foto USGS

Offline ANDREWaim

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #4 Online: 18 de Dezembro de 2010, 00:28:09 »
Existem muitos casos de pessoas que se "curam" da AIDS. A seleção natural acaba provendo os meios para isto. O sistema imunológico de alguma forma difere de pessoa para pessoa (ele inclusive pode se arranjar de forma a prover uma defesa que funcione - no caso da AIDS, isto poderia ocorrer em algum momento e em uma pessoa qualquer). Alguém ia acabar produzindo um anticorpo para o vírus HIV. O problema é a mutabilidade do vírus da AIDS e a demora do processo todo (é também uma loteria). Tal diferença e mecanismos garantem a sobrevivência da espécie (se fossemos assexuados e um vírus como o da AIDS se propagasse pelo ar, provavelmente já estaríamos todos mortos - nos seres que se replicam de forma assexuada não há diferença imunológica para garantir a sobrevivência da espécie. A bagagem imunológica é a mesma para todos os indivíduos replicados de forma assexuada - não sei se é o caso da bananeira, altamente afetada por um antígeno, que pode estar fadada ao desaparecimento se o homem não interferir).

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/anticorpos-neutralizam-cepas-do-virus-da-aids/153734

A própria resistência a varíola seria muito provavelmente desenvolvida em alguns humanos caso a vacina não tivesse sido DESCOBERTA (diferente de dizer "inventada" - só que a descoberta da vacina - que foi para a varíola - está relacionada ao contágio de uma "forma branda" da varíola de vaca).

Citar

O criador da primeira vacina, contra a varíola, foi Edward Jenner. Em 1796 Jenner observou que as vacas tinham nas tetas feridas iguais às provocadas pela varíola no corpo de humanos. Os animais tinham uma versão mais leve da doença, a varíola bovina, ou bexiga vacum.

Ao observar que as moças responsáveis pela ordenha, que comumente acabavam infectadas pela doença bovina tinham uma versão mais suave da doença, ficando imunizadas ao vírus humano , ele recolheu o líquido que saía destas feridas e o passou em cima de arranhões que ele provocou no braço de um garoto, seu filho. O menino teve um pouco de febre e algumas lesões leves, tendo uma recuperação rápida.

A partir daí, o cientista pegou o líquido da ferida de outro paciente com varíola e novamente expôs o garoto ao material. Semanas depois, ao entrar em contato com o vírus da varíola, o pequeno passou incólume à doença. Estava descoberta assim a propriedade de imunização (o termo vacina seria, portanto, derivado de vacca, no latim).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vacina

Acho que um esforço ($) maior do homem acabaria por chegar na cura da AIDS, mas algo parece impedir esta descoberta (quem teria interesse em não haver cura para AIDS?)...   
« Última modificação: 18 de Dezembro de 2010, 01:02:59 por ANDREWaim »
"A biologia é o estudo das coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional." [?] Richard Dawkins - O Relojoeiro Cego.


Offline André Luiz

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #5 Online: 18 de Dezembro de 2010, 09:06:30 »
Igrejas, partidos conservadores...

Offline Derfel

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #6 Online: 18 de Dezembro de 2010, 09:58:16 »
Grandes indústrias farmacêuticas que lucram muito com o coquetel...

Offline Buckaroo Banzai

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #7 Online: 18 de Dezembro de 2010, 19:21:55 »
Eu não acredito que haja grande influência desses interesses não. É um problema complicado, não é como se esse tempo todo a resposta estivesse na esquina e sendo oculta por uma conspiração. O poder da igreja se limita praticamente a ficar falando besteiras de tempos em tempos, e a indústria farmacêutica não tem lá um grande investimento em pesquisa para começar, que eu saiba. E nem precisa ser uma especificamente que lucre muito com o coquetel (até porque houve quebra da patente, não?), simplesmente é mais rentável investir em propaganda e outras coisas que tragam um retorno mais imediato, em vez de algo praticamente filantrópico.

Offline SnowRaptor

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #8 Online: 18 de Dezembro de 2010, 21:03:58 »
Acrescentando:

Citação de: [url=http://www.boingboing.net/2010/12/17/if-aids-has-been-cur.html]BoingBoing[/url]
If AIDS has been cured, why is the victory party so small?

This week, Gizmodo and a handful of other media outlets published a story about a man who was reportedly cured of AIDS. But run a Google search for "AIDS cure" today, and what you get is a mixed bag—some articles about this specific case, some herbal medicine quackery, some older stories about other doctors hoping for their own AIDS breakthroughs, and even a New York Times piece from earlier this year about why we haven't found a cure for AIDS yet. If a miracle happened, why isn't it more obvious?

There's a couple of things going on here. Short answer: The case that's making headlines this week isn't new, and it comes with a whole bunch of caveats.

Mais em: http://www.boingboing.net/2010/12/17/if-aids-has-been-cur.html?
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
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-- François Jacob, 1997

Offline Buckaroo Banzai

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #9 Online: 18 de Dezembro de 2010, 21:15:17 »
A AIDS ainda não tem cura/não foi erradicada por mais uma falha do estado. Não houvesse o estado, não haveria AIDS. Ou, no máximo, seria meio como um resfriado ou uma gripe mais leve.

Offline HeadLikeAHole

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #10 Online: 20 de Dezembro de 2010, 19:39:32 »
A AIDS ainda não tem cura/não foi erradicada por mais uma falha do estado. Não houvesse o estado, não haveria AIDS. Ou, no máximo, seria meio como um resfriado ou uma gripe mais leve.
Anarcapitalista, é você aí?

Offline SnowRaptor

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Re: O homem que derrotou a aids
« Resposta #11 Online: 22 de Dezembro de 2010, 00:30:35 »
Citação de: [url=http://scienceblogs.com.br/rainha/2010/12/a_cura_para_o_hiv_pero_no_much.php]Rainha Vermelha[/url]
A cura para o HIV! Pero no mucho...
Estamos em uma época onde o HIV já não é mais uma sentença de morte. Com o uso de uma série de antivirais ao mesmo tempo -- terapia chamada de HAART, highly active antiretroviral therapy -- e com o tratamento de possíveis doenças oportunistas, hoje é possível para o HIV positivo conviver com níveis indetectáveis do vírus durante anos. Já existem portadores tratados por mais de 20 anos. O que não quer dizer que estejam curados.

Os antivirais são drogas caras e causam vários efeitos colaterais indesejados. Possuem efeitos colaterais sérios a longo prazo, interferindo por exemplo no metabolismo de açúcares e gordura. Mas assim que o tratamento é suspenso, o vírus reaparece. Isto acontece pois ele de integra ao genoma das células infectadas, e pode permanecer latente por um bom tempo. Na forma latente, a célula infectada não produz partículas virais e permanece invisível para o sistema imune. Por isso, o tratamento precisa ser contínuo para manter o vírus sob controle.

Recentemente, foi anunciado o caso de Timothy Ray Brown, curado por conta de um transplante de medula. O que aconteceu por causa de uma decorrência comum da infecção pelo HIV. Em 2007, Timothy desenvolveu leucemia, tipo de câncer onde ocorre a divisão descontrolada de glóbulos brancos. O tratamento comum para leucemia é a destruição da medula óssea doente e substituição dela pela medula de um doador saudável. Como o alvo do HIV são justamente os linfócitos produzidos pela medula, os médicos encontraram uma compatível de um portador com uma mutação muito especial.

O doador era homozigoto para a mutação CCR5-Δ32. Nome complicado para um princípio bastante simples. Para entrar na célula, o HIV precisa de uma proteína à qual se liga, a CD4, que por ele se ligar é chamada de receptor viral. Depois de se ligar a um receptor, ele precisa se ligar a outra proteína celular, chamada de co-receptor. Embora o receptor utilizado seja sempre a CD4, o co-receptor pode variar.

Normalmente, o vírus utiliza uma proteína chamada CCR5. Parece ser a mais frequente nos órgãos sexuais, de maneira que as linhagens transmitidas utilizam o CCR5 como co-receptor. Após alguns anos de infecção, podem surgir vírus capazes de usar outros co-receptores, como a proteína CXCR4, que permitem que ele invada novas populações de células.

Pessoas portadoras do gene CCR5-Δ32 produzem uma versão modificada da CCR5, que possui uma deleção de 32 aminoácidos desta proteína, daí o delta 32. Portadores homozigotos deste gene receberam as duas cópias que possuem, uma do pai e outra da mãe, com a mutação delta 32. Isso quer dizer que todas as proteínas CCR5 que produzem não possuem aqueles aminoácidos. Estes indivíduos não são infectados pelo HIV que utiliza esta proteína como co-receptor. Isto os torna praticamente imunes contra o vírus.

Assim, antes da cirurgia, Timothy foi tratado com antivirais para diminuir ao máximo o número de partículas virais circulando em seu corpo. E ao receber o transplante de um paciente CCR5-Δ32, recebeu linfócitos não infectados que não poderiam ser atacados pelo vírus restante em seu organismo. Após o monitoramento de três anos, para garantir que não haviam reservatórios latentes que permitiriam o ressurgimento viral, ele foi declarado curado do HIV.

Mas ainda estamos longe de uma cura universal, por uma série de motivos.

Antes de tudo, o transplante de medula envolve matar todas as células medulares do receptor, e o uso de um doador compatível, uma vez que as novas células do sistema imune que serão produzidas podem reconhecer o corpo todo como estranho. Um tratamento arriscado e com sério risco de vida.

Encontrar um doador CCR5-Δ32 compatível também não é tarefa fácil. Os portadores deste gene são frequentes na região da Europa, e o alelo não é encontrado em populações africanas, asiáticas e ameríndias. O que sugere um surgimento recente e a seleção por alguma doença, hipótese ainda em debate. Esta distribuição restrita dificulta bastante as chances de encontrar um doador compatível para grande parte dos portadores. Também já foi sugerida a retirada da medula de pacientes infectados para a modificação genética de seus linfócitos com inserção da mutação delta 32, técnica ainda muito distante da tecnologia atual.

Há o problema dos co-receptores, embora o CCR5 seja o co-receptor mais usado, o vírus pode explorar outras proteínas. Existe inclusive linhagens de HIV chamadas de duplo-trópicas, capazes de utilizar tanto CCR5 quanto CXCR4, que podem se propagar em vários tipos de células.

A latência viral é preocupante. O HIV é capaz de infectar inclusive células hematopoiéticas, células tronco produtoras de glóbulos branco localizadas na medula óssea e de longa vida, podendo servir de reservatório viral. Além de locais como o sistema nervoso, que uma vez infectados servem de santuários onde muitos antivirais não chegam, e podem manter populações virais mesmo durante o tratamento. Por isso a espera de anos para declarar Timothy curado.

Por último, há o custo de um tratamento deste tipo. Em locais como o Brasil, onde o tratamento é distribuído gratuitamente, muita portadores convivem com o vírus contido por anos. Enquanto no continente mais atingido pelo HIV, a África, remédios anti-maláricos que custam poucos dólares não podem ser comprados. Quem dirá dispor de uma terapia que depende de instalações médicas avançadas e com um custo de milhares de dólares.
Qualquer cura que envolva algo mais caro do que uma vacina dificilmente será implantado com sucesso em locais mais pobres.

Atualmente, Timothy segue como uma prova de conceito. Seus resultados permitem a construção de novas abordagens, mostrando que é possível curar o vírus, mas ainda é um caso isolado, fruto de condições bastante específicas.

Fontes:

Richman, D., Margolis, D., Delaney, M., Greene, W., Hazuda, D.10.1126/science.1165706, & Pomerantz, R. (2009). The Challenge of Finding a Cure for HIV Infection Science, 323 (5919), 1304-1307 DOI: 10.1126/science.1165706

Samson, M., Libert, F., Doranz, B., Rucker, J., Liesnard, C., Farber, C., Saragosti, S., Lapouméroulie, C., Cognaux, J., Forceille, C., Muyldermans, G., Verhofstede, C., Burtonboy, G., Georges, M., Imai, T., Rana, S., Yi, Y., Smyth, R., Collman, R., Doms, R., Vassart, G., & Parmentier, M. (1996). Resistance to HIV-1 infection in Caucasian individuals bearing mutant alleles of the CCR-5 chemokine receptor gene Nature, 382 (6593), 722-725 DOI: 10.1038/382722a0

Elton Carvalho

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-- François Jacob, 1997

 

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