Autor Tópico: Ajustes econômicos  (Lida 605 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Unknown

  • Conselheiros
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 11.331
  • Sexo: Masculino
  • Sem humor para piada ruim, repetida ou previsível
Ajustes econômicos
« Online: 03 de Março de 2011, 10:47:28 »
Dilma foi estrela da festa que a elegeu, começa a limpar a bagunça e já lhe cobram mais festas
 
Não é só o Brasil. A China vive o mesmo enigma e ambiguidade, já que também joga água fria para esfriar a economia

Sem ameaça de solvência fiscal, quase um Estado-ET entre dezenas de países endividados até a tampa e com déficits de dois dígitos em relação ao PIB, mas empanturrada pelo crescimento econômico dos últimos 18 meses, a economia brasileira, neste início do governo de Dilma Rousseff, desafia a compreensão dos simples.

Não é só o Brasil. A China vive o mesmo enigma e ambiguidade, já que também joga água fria para esfriar a economia, que borbulha à taxa de 10% ao ano desde 1980 - quase o triplo, no mesmo período, do crescimento médio no Brasil. Lá, como cá, a inflação é a febre, combatida com aperto do crédito e juros. Só muda o fuso horário.

Mas a doença é mais complexa. O crescimento acelerado chinês não é sustentável, ainda que bem-sucedido, pois não partilhado com a maioria da sociedade, dependente de exportação e de investimento seriado extraído da compressão dos salários e predador ambiental.

O primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou dia 27 último que a taxa de crescimento da economia chinesa vai abrandar para 7% no plano quinquenal de 2011-2015. O risco de inflação, que passou de 5% em doze meses, é o motivo tático. O de fundo é a reconversão gradual do modelo de crescimento exportador para o mercado interno.

No Brasil do governo de Dilma Rousseff há também a preocupação de uma grande virada, mas na mão oposta à da China. Lá, investimentos demais, especialmente em infraestrutura, já provocam indigestão. A volúpia de produzir mais e a custo menor que a concorrência chegou ao limite do equilíbrio social. A tendência, segundo Jiabao, é que a economia chinesa comece a se voltar mais para dentro.

No Brasil, investimentos de menos, com mercado interno aquecido, também tendem ao desequilíbrio, mas de escassez da oferta relativa à demanda crescente. É o contrário do desequilíbrio chinês. Aqui, a demanda, grosso modo, é fomentada pela estabilidade da inflação desde 1994 e pelas políticas de transferência de renda depois de 2003. Mas há pouca produção interna, o incentivo ao investimento empresarial para ampliá-la é limitado e são muitos os obstáculos.

Bastidores do ajuste

A empresa que não tiver a sorte de chegar ao BNDES nem porte para emitir dívida no exterior cai na vala da taxa de juros muito acima da taxa interna de retorno de boa parte dos setores empresariais – onerados, além disso, por carga tributária e encargos parafiscais acima da média internacional e por infraestrutura cara e sofrível.

É este o bastidor das medidas econômicas acionadas recentemente: juros básicos (Selic) em alta e restrição de crédito ao consumo, pelo Banco Central, e o corte de gasto público, pela Fazenda, tudo para acomodar a demanda interna à produção limitada - e antes que a inflação e o câmbio, função dos déficits externos, restabeleçam o equilíbrio na marra. Ai seriam crise e instabilidade geral.

Declaração enigmática

Um ajuste que pare nestes resultados é o comum. Mas não no nível atual da economia brasileira, que chegou ao limiar de outro salto da riqueza instalada. Que se faça a estabilidade, a inflação volte à meta de 4,5% de variação anual, os déficits sejam bancados pela entrada de dinheiro externo, e a solução para o descompasso entre a oferta e a demanda continuará instável - e mudando lentamente.

É isso o que parece implícito à enigmática afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao explicar os cortes de R$ 50 bilhões de gastos públicos. “É bom deixar claro: o que estamos fazendo não é visando, prioritariamente, a inflação, é o ajuste anticíclico da economia”, disse. “É para desacelerar a economia sem derrubá-la.”

Ortodoxia e mea-culpa

Talvez o ministro quisesse dizer que todos os impulsos ao consumo rodando juntos, como ele mesmo permitiu de 2009 à eleição em 2010, se tornaram temerários. E mais: que depois dos acertos salariais e de carreira para grande parte do funcionalismo federal e a virtual universalização das ações de transferências de renda, é tempo de o investimento puxar a fila de prioridades. Isso virá com o aumento da poupança pública, a antessala da queda estrutural dos juros.

De apressados a desinformados, categorias que incluem de petistas a figurões da equipe econômica, a incerteza sobre o que Dilma quer da economia é ampla, e a comparação com a fartura na reta final do governo Lula, inevitável. Ela foi a estrela da festa para elegê-la e é a encarregada da limpeza depois que os foliões foram embora.

A ortodoxia do BC e a mea-culpa da Fazenda refletem esse momento. Sobre o seguinte, da prioridade do investimento, só há indagações.

Premida pelo momento

Dilma tem desafios gigantescos, que começam pela comparação com o passado recente com Lula. Na quinta-feira, o IBGE divulgará a taxa de crescimento da economia em 2010. Espera-se nada menos que 7,5% - um estirão depois da queda de 0,6% em 2009.

O que ela oferece é menos: 5%, segundo Mantega; menos de 4%, segundo as projeções das consultorias. As críticas na blogosfera petista contra a política econômica são precocemente estridentes. Se ela fraquejar, dançou.

De um lado, há a estabilidade como premissa para o crescimento de longo prazo. De outro, pressões por financiamento acessível para o investimento. No meio, as políticas de renda e o fisiologismo dos políticos. Lá fora, as incertezas globais. Só com muita arte, um pouco de técnica, sorte e visão tais objetivos serão harmonizados.
 
http://www.cidadebiz.com.br/conteudo_detalhes.asp?id=54988

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

Offline Dbohr

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 9.179
  • Sexo: Masculino
  • 無門關 - Mumonkan
    • Meu blog: O Telhado de Vidro - Opinião não-solicitada distribuída livremente!
Re: Ajustes econômicos
« Resposta #1 Online: 03 de Março de 2011, 10:53:44 »
Deve dar tempo de aprender francês e ir pra Quebéc.

Offline Geotecton

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 28.345
  • Sexo: Masculino
Re: Ajustes econômicos
« Resposta #2 Online: 03 de Março de 2011, 11:14:08 »
O que eu desejo da presidente Dilma é o máximo de realismo e o mínimo de populismo às custas do Tesouro Nacional, como foi feito principalmente no segundo mandato do governo anterior.
Foto USGS

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!