Eu vejo a estrutura de funcionamento interna do PCC como sendo superior a democracia ocidental, e por isto mesmo, eles ignoram a nossa pretensão descabida de ser exemplo político.
De que maneira que o funcionamento do PCC é superior a uma democracia ocidental? A única coisa que eu consigo identificar é a agilidade na tomada de decisões, mas que decorre muito mais do fato de o estado chinês é totalitário do que na existência de um consenso nacional, onde a população tenha voz ativa.
Acho essa reportagem bem esclarecedora:
Tese aponta bases da desigualdade social na China
Luis Nassif - E como se dá essas mudanças de ênfase no âmbito do Partido [Comunista da China], porque é ele que define tudo lá, correto?
Isabela Nogueira – Sim. O Partido tem muito mais nuances. Longe de ser monolítico, ele tem várias frações e grupos diferentes de disputa dentro de si.
O modelo chinês político é muito sofisticado, é o que o ocidente e os americanos gostariam de ter. Os chineses o chamam de meritocracia ou desempenho por legitimidade que é o seguinte: se você é um líder de uma província, ou cidade, seu desempenho vai ser medido, anotado e pontuado segundo os indicadores vigentes.
Por exemplo, se você é prefeito de Kunming, capital da província de Yunnan, que tem vários programas sociais. Além da meta de crescimento econômico, que tem que atingir, precisará aumentar índices como taxa de alfabetismo, adesões no sistema de saúde, enfim, uma série de aproximadamente 15 indicadores.
Antigamente, esses indicadores eram, basicamente, só crescimento econômico e combate à corrupção. Hoje é uma lista muito sofisticada que cada líder tem que seguir. Conforme vão pontuando essa listagem, vão subindo de hierarquia dentro do Partido. Os que chegam no topo do Partido têm competência gerencial política extraordinária, são caras que dão resultados.
No Partido as grandes frações de poder político se resumem em duas. Uma, chamamos de fração elitista, alguns autores e sociólogos também chamam de neoliberal. É concentrada de gente que vem de Xangai, com relação próxima com a costa. A outra fração é dos chamados populistas, ou fração vermelha.
Dois grandes presidentes do país caracterizam essas frações. O presidente da década de 1990, Xiang Zen, era da fração elitista, com visão ortodoxa do ponto de vista macroeconômico, considerava o crescimento econômico importante, e era muito preocupado com a inflação. Já os populistas têm uma agenda social muito desenvolvida, com preocupações de reduzir o gap social.
O atual presidente é dessa fração populista. Hu Jintao fez carreira no interior da China, no Tibet e em outros lugares. Se pegar o discurso do seu primeiro ministro, Wen Jiabao, verá que se trata de um texto completamente alinhado a nova esquerda chinesa, acompanhado por um movimento universitário e intelectual muito forte.
Luis Nassif - O arco de diferenças entre eles é muito expressivo? Seria semelhante, digamos, ao modelo alemão ou americano, de ser um pouco mais para a direita, ou um pouco mais para a esquerda?
Isabela Nogueira – Exato, uma coisa entre republicanos e democratas. O fundamental em relação a essas duas frações é que, primeiro, as duas têm uma visão da necessidade do fortalecimento da China. Existe um consenso de que o país precisa emergir frente o cenário mundial, de trazer o país de volta para o centro do poder. As duas frações estão completamente comprometidas nesse sentido. O mesmo se vê quando o assunto é a necessidade de incremento tecnológico dos produtos chineses e sobre os planos quinquenais que darão direcionamento político ao país.
Não há ruptura entre as duas frações nesse sentido. Inclusive, existe especulação por parte das escolas americanas de que esses dois grupos fazem um acordo de alternância de poder. Não sabemos se é verdade, mas de fato essa alternância tem sido observada a cada nova eleição.
As críticas quanto a política e a economia na China, no meu entender, são semelhantes as anteriores e direcionadas aos Estados Unidos, na sua condição de superpotência.
Em certa medida eu concordo, pois qualquer país que se destaca, sempre atrai os olhares de admiração e de inveja sobre ele.
No entanto, uma parte significativa das críticas direcionadas à China é consistente, principalmente as que tratam sobre a degradação ambiental e as condições de trabalho daquele país.
A tese da pesquisadora aponta justamente o medo dos chineses para o processo que estão chamando de
latino americanização chineza. E mesmo os Estados Unidos ainda tem muitas críticas consistentes referentes ao seu domínio econômico que tem origem no acordo Bretton Woods. Além do forte investimento chinês no tesouro americano.
E quanto a questão política e econonômica, como um todo, considero a China como o socialismo que deu certo.
A China não é socialista, pois não apresenta toda a sua economia planificada e estatizada, e sequer estou considerando o fato de que existem dezenas a centenas de milionários chineses, em uma clara afronta à teoria socialista.
É a
economia de mercado centralmente planejada, conforme aponta, com muita propriedade, aquela tese de geografia humana. O estudo apresenta um forte embasamento econômico dentro da teoria marxista. É com este foco que chamo a China de socialismo bem sucedido.
Mas assim como você não aceita chamar a China de socialista, eu não aceito chamá-la de capitalismo. Principalmente por eu ver o capitalismo através da teoria da inovação e empreendedorismo de Schumpeter, o mesmo que teoriza a democracia de forma muito diferente e em oposição a visão clássica que você está defendendo.
Soube abandonar o barco furado que a URSS seguia e tomou o seu próprio rumo num desenvolvimento econômico sem procedentes para o país e conseguentemente para o mundo 
Ela cresceu muito a partir do momento que começou a adotar os métodos capitalistas, aliando-os com uma política de ignorar sistematicamente os padrões ambientais e trabalhistas vigentes nos países mais avançados.
Tem muitos outros fatores positivos que são mais preponderantes para o sucesso chines. E a abertura econômica foi algo planejado e de acordo com a política externa adotada.
Eu ainda vejo o sucesso dos países avançados relacionados com a estrutura econômica internacional, resumidamente, para não me estender em críticas históricas e sempre recorrente, do imperialismo americano.
Mas não vejo como ela manterá este crescimento pois o modelo atual de civilização (crescimento da população e consumismo) não é sustentável sob o ponto de vista de preservação ambiental.
A questão ambiental é uma problemática chineza e mundial. Mas considerar esta degradação como o único fator do crescimento chines não me parece válido. É um problema que o país está se engajando para se solucionar também.