Luis, desculpe minha grosseria,
mas não posso ter um mínimo de respeito intelectual por um sujeito que mistura Marx, Lacan, Freud,
piscanalise, luta de classes, crítica à religião, tudo isso para defender coisas absolutamente reacionárias
como o stalinismo que, se ele não defende, se esforça por relativizar.
Além disso, não suporto esses caras que precisam se valer de um palavreado obscuro e pomposo
para afirmar coisas óbvias e supostamente radicais (defender Stalin não é nada radica, só é estúpido mesmo).
A esquerda de antes, Eric Hobsbawn, Bertrand Russel, Rosa Luxemburgo, ao menos se esforçava para ser acessível àqueles que diziam representar, os trabalhadores, as classes populares.
A esquerda francesa pós-moderna se auto-denominou vanguarda e desde então vive a lançar modas concentuais e coquetéis de idéias de diferentes áreas como se fosse uma coisa genial.
E, é claro, não fazem a menor diferença para as pessoas reais do mundo real fora da academia.
Blues , não há grosseria nenhuma a perdoar.
O Zizek é polêmico e , claro , também faz uso da mídia para passar sua mensagem.
Mas a questão é que gosto do Zizek pela mesma razão pela qual gostava do falecido Paulo Francis , porque ambos se dão ao trabalho de polemizar contra as noçõesb do senso comum , seja à direita quanto da esquerda ( o Paulo fazia isto muito bem , daí que a esquerda o tachava de reacionário e foi o único que eu vi ser denominado não como jornalista ou escritor mas polemista).
Quanto à mistura que ele faz é questão de avaliar se a análise é pertinente ou não. Hobsbawn faz isto muito bem , em outro nível , mostrando relações entre coisas que até então não atentamos - como quando mostra porque a invenção da bicicleta teve um impacto enorme na mobilidade das classes populares ou relaciona o surgimento do turismo de lazer com o surgimento de uma classe média ou quando especifica que o traço distintivo do proletariado inglês a partir do final do séc.XIX é o boné de pala e a paixão pelo futebol ( Andy Cap / Zé do Boné!).
Mas se o Zizek não está escrevendo para as massas , mas o Hobsbawn também não , por outro lado sua escrita não é difícil como a de outros pensadores. E não precisa chegar nos franceses , basta lembrar de Luckacs e Meszaros...
Não li ainda nada em que ele relativize o estalinismo ( mas li pouco) porém ele acerta no alvo quando diz que a esquerda até agora se esquivou de fazer uma análise
real do estalinismo (idiotices como creditar à traição de burocratas ou a desvios de personalidade não contam). E esta resistência , para mim vem do fato que teriam que questionar aquele que é o norte organizacional da imensa maioria dos partidos de esquerda marxista: a concepção leninista do partido.
De qualquer forma acho o Zizek interessante porque gosto dos heterodoxos. Ainda que ele possa dizer bobagens ( e não achei até agora nenhuma bobagem grande) tem o grande papel de nos dizer que há visões alternativas às noções do "senso comum". As vozes discordantes , independente do valor de seus argumentos , são necessárias para não deixar nossos pensamentos se cristalizarem numa calmaria idiotizada e repetitiva.
"O Espírito Santo é o partido comunista primordial" (19:42 do terceiro vídeo).
Não poderia ser de outro esta frase: Slavoj Zizek.
Estou na minha estante , na fila para ler ,
Atheism in Christianity - the religion of the Exodus and the Kingdon , do filósofo marxista Ernst Bloch.
Epígrafe do livro: Only an atheist can be a good Christian ; only a Christian can be a good atheist.
Zizek não é tão original

P.S.: Vou ficar um pouco afastado , por motivos de trabalho , para poder postar a contiuidade da discussão e entrar no outro sobre marxismo. Assim que puder continuo.