Artista português expõe 'traços do fim do mundo' em São PauloPedro de Kastro usa nanquim e bico de pena para retratar sonhos pós-apocalípticos e um futuro sombrio das grandes cidadesImagine São Paulo, Paris, Rio, Lisboa após uma hecatombe, uma guerra ou mesmo o fim do mundo. O que poderia ser um tema para os inúmeros filmes-catástrofe que pipocam nas telonas ganha formas sofisticadas no trabalho do gravurista português Pedro de Kastro. Até 29 de abril, 30 obras do artista estarão na exposição "Visões – Paisagens Surreais a Bico de Pena e Gravuras em Metal", no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo.
Cartões-postais como a Catedral da Sé, o prédio do Banespa, Arco do Triunfo e Empire State aparecem "sufocados" por enormes raízes, sem cores ou sinais de vida. "No meio dessa piração, passo uma esperança ecológica, uma arte voltada para o planeta que hoje enfrenta uma crise energética e ambiental", diz.
A escolha por grandes monumentos, segundo o artista, enfatiza a proximidade das pessoas com esse futuro sombrio. Em boa parte dos trabalhos, há pequenas figuras de pessoas e carros em movimento (algumas tão pequenas que só são percebidas muito de perto ou com o auxílio de lupas distribuídas na exposição) que mostram a presença humana. "Como vivemos nesse mundo daqui, em 2011, essas figuras somos eu e os expectadores presenciando o que acontece nesse sonho de futuro. Mostrar que essa visão não é só de ruínas e destroços", diz Pedro.
De Blade Runner a DantePedro começou no desenho ainda criança. "Minhas ideias surgiam de percepções e sonhos a partir de Lisboa. Depois me inspirei em ideias do pós-apocalipse e gravuras dos séculos 18 e 19", afirma.
Apesar de inúmeras referências mais antigas, como o arquiteto italiano Piranese, o gravurista francês Gustave Doré e o romantismo alemão, nas artes plásticas, e livros como "Dom Quixote", "A Divina Comédia" e textos de La Fontaine, De Kastro cita um universo moderno como grandes inspirações. "Meus filmes favoritos são 'Blade Runner' e a primeira versão de 'Planeta dos Macacos', principalmente as cenas finais com Charlton Heston chorando e aquela Estátua da Liberdade em ruínas", diz.
Fã de quadrinhos europeus dos anos 1970 e 1980 e de desenhistas como o sérvio Enki Bilal e o suíço H.R. Giger, Pedro diz que não vê força nas artes abstratas feitas hoje: "Nada me toca".
Série CidadesO artista português tem planos para retratar mais monumentos de outras capitais mundiais, como o Big Ben de Londres, a Torre Eiffel em Paris, as Pirâmides do Egito e mais cartões-postais de Nova York e de cidades brasileiras como Belo Horizonte, Salvador e Brasília.
Nascido em Lisboa e radicado na capital paulista há quase dez anos, Pedro diz que "o português, quando chega a São Paulo, fica impressionado com sua monumentalidade, enquanto o brasileiro que visita a Europa fica absorto na sua antiguidade". As dimensões gigantescas de São Paulo, o pouco verde e os contrastes sociais atraíram o português. “Era o contraste com a ideia que se tem de Brasil, de Carnaval, futebol, samba, praias e bundas.”
"Visões – Paisagens Surreais a Bico de Pena e Gravuras em Metal" MuBe – Museu Brasileiro da Escultura – Sala Burle Marx;
Av. Europa, 218, Jardim Europa, São Paulo
Até 29 de abril de 2011; de terça a domingo, das 9h às 19h
Informações: (11) 2594-2601
Entrada gratuita
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/artista+portugues+expoe+tracos+do+fim+do+mundo+em+sao+paulo/n1300075114349.html
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