Tópico: Como a inteligência cultural pode melhorar o desempenho

[Adriano]

Como a inteligência cultural pode melhorar o desempenho

Há duas décadas, quando o mundo era um lugar mais simples, as pessoas que trabalhavam internacionalmente simplesmente deslocavam-se de uma cultura para outra.

Hoje, tudo isso mudou. Apesar de trabalhar com pessoas de diversos países e culturas profissionais, muitas pessoas que trabalham na arena internacional quase nem precisam sair de casa. A capacidade de fazer isso de forma bem sucedida, de qualquer ponto de partida, depende do nível de inteligência cultural das pessoas.

A cultura em si é um conjunto de premissas, valores e normas compartilhadas por um grupo de pessoas que as ajuda a priorizar as coisas que vão fazer e como vão fazê-las. Fazer as coisas dentro da própria cultura da pessoa torna-se mais fácil do que trabalhar em meio a culturas distintas. A cultura também ajuda a definir o grupo.

Por outro lado, a inteligência cultural é a chave do sucesso do trabalhador de hoje, que é multicultural, trabalha além de suas fronteiras, e em organizações internacionais. Inteligência cultural – ou capacidade de criar um impacto em meio a diferentes culturas – é muito mais complexa do que apenas trabalhar através de fronteiras. Em termos reais, é a capacidade de entendimento das relações entre questões culturais de um lado e problemas empresariais de outro. O mais complicado é entender os dois e juntá-los novamente sem se perder do que você é dentro do processo.

Inteligência cultural – aprende-se ou vem naturalmente?

A resposta é um pouco dos dois.

A inteligência cultural consiste de conhecimento especifico sobre diferentes culturas, assim como de conhecimento sobre como funcionam as culturas. É melhor criar um mapa das culturas com as quais você está trabalhando – como elas são diferentes ou similares umas às outras? É claro que você precisa entender a sua própria cultura também. Você precisa ter uma posição de “Eu estou aqui” para que saiba como fazer uma ponte com outras.

A inteligência cultural também requer habilidades – interpessoal, multicultural, de negociação e de escutar. Entretanto a característica mais importante é a diligência cultural – ou abertura a novas experiências e idéias e a capacidade de continuar aprendendo.

Diligência realmente significa prestar atenção. É o que ajuda uma pessoa a reconhecer e entender as diferenças entre culturas. Pesquisas recentes têm demonstrado que se equipes ou indivíduos que trabalham em situações multiculturais podem ser persuadidos a prestar mais atenção, o desempenho melhora. É realmente tão simples quanto parece ser; só que não costumamos despender tempo e esforços para prestar atenção.

A razão pela qual muitas fusões e aquisições têm dificuldades na integração é que, geralmente, elas têm normas, valores e formas diferentes de fazer as coisas. Este é um exemplo clássico onde conhecimento cultural, habilidades, inteligência e diligência são muito importantes. Surpreendentemente, diligência em termos virtuais tende a ser maior do que realmente é nos confrontos cara a cara, apesar do contato cara a cara ser, inegavelmente, um ativo no desenvolvimento de relacionamentos. O contexto virtual ajuda as pessoas a se concentrar e prestar atenção nas questões certas.

Quando em Roma, faça como os romanos…ou não?

Apesar da tentativa de “adaptar-se em Roma e fazer como os romanos proverbiais” ser uma resposta automática, não é necessariamente a melhor. Fingir ser romano pode não só atrapalhar o desempenho de uma pessoa, como pode também ser visto por outras pessoas como fingido, ou pior, manipulativo. É necessário ter uma mudança de comportamento suficiente para demonstrar respeito, sem perder o caráter e o senso de eficácia.

Apesar de ninguém esperar que todos em uma equipe multicultural de 20 pessoas falem os idiomas de todos os outros, o segredo aqui é o respeito, em termos de manter uma linguagem simples, sem ser excessivamente ofensivo.

Inteligência cultural e emocional – inseparáveis ou não relacionadas?

Inseparáveis!

A inteligência cultural é a inteligência emocional através de contextos, o que faz da inteligência emocional um pré-requisito para a inteligência cultural. E apesar de algumas pessoas poderem ser emocionalmente muito inteligentes em sua própria cultura, uma mudança para além de suas fronteiras, para algum lugar onde as normas e premissas são diferentes, pode provar-se um passo maior do que as pernas. Justamente por isso, pessoas mais emocionalmente inteligentes são aquelas que mais provavelmente irão perceber as diferenças culturais e também desenvolver uma inteligência cultural.

Diz-se que “a cultura é para as pessoas o mesmo que a água é para os peixes” – e tudo vai bem até que o peixe esteja fora d’água! A melhor forma de conseguir ajuda para entender uma cultura é perguntar a alguém daquela cultura que também já esteve fora de seu país. “Se eles nunca estiveram fora, eles não saberão a diferença que faz para um estrangeiro.”

De quem é a responsabilidade de adaptação?

Esse é o dilema clássico – até que ponto eu devo adaptar-me, quanto devo esperar que outros se adaptem? A resposta é simples: a adaptação é responsabilidade de qualquer um que se importe com desempenho. Se uma pessoa se adapta, o desempenho melhora um pouco. Se todos se adaptam, o desempenho melhora muito e rapidamente.

Martha Maznevski é professora de Comportamento Organizacional e Gerenciamento Internacional no IMD, ensinando nos programas “Strategic Leadership for Women” e “Orchestrating Winning Performance”.

Via Canal RH

[uiliníli]

Eu não gosto dessa mania de chamar tudo de inteligência agora. Daqui a pouco vão dizer que gourmet tem inteligência gastronômica e prostituta tem inteligência sexual... Existem nomes melhores, por que não chamar inteligência emocional simplesmente de sensibilidade? Não é exatamente a mesma coisa? Até essa tal de "inteligência cultural" faria mais sentido se fosse chamada de sensibilidade cultural, um termo auto-explicativo até.

[Adriano]

Obrigado a sua sensível contribuição ao tópico (ou seria inteligente?  ).

O desenvolvimento do texto possibilita entender melhor a questão desta sensibilidade cultural. O uso do termo inteligência foi devido ao contexto organizacional, que procura quantificar e valorizar melhor as competências dos colaboradores. E por acaso foi num e-mail corporativo que tive acesso a este conceito, que para mim foi muito interessante. Eu também preferiria discutir em outro termo semântico, que para mim é mais profundo e focado na área educacional e psicológica, que é a psicologia histórico-cultural 

Mas gosto do conceito de inteligência, pois atualmente não está ligado apenas a área lógico-matemática e sim a vários matizes cognitivos, muito diferente de fazer uma discriminação apenas emocional de um aspecto de alto valor em determinados ambientes, como demonstra a teoria das inteligências múltiplas.

[mode louco on]
Poderiamos até conceituar, como já fizemos em algum tópico, uma inteligência ateísta, diferente de um ateísmo vulgar, por rebeldia apenas. No nosso contexto seria perfeitamente válido 
[mode louco off]