http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/maior-estudo-sobre-religiao-reforca-a-tendencia-de-a-ciencia-querer-explicar-deus/?ga=dtfPesquisa busca descobrir elementos comuns a todas as religiões, bem como os mecanismos cognitivos que dão suporte ao pensamento religioso. Por Fernanda DiasA ciência surgiu da necessidade do homem de explicar fenômenos naturais por uma perspectiva que buscava ser exata e não mítica. Séculos depois da evolução científica, a humanidade não deixou de lado seus ritos religiosos. Os fatores intrínsecos a essa fé, que é presente em todos os lugares do mundo embora se manifeste de maneiras distintas, têm sido alvo de um projeto chamado “Explaining Religion” (Explicando a Religião), ou EXREL. Psicólogos, biólogos, antropólogos e estudiosos de religião de várias universidades europeias e norte-americanas passaram três anos coletando dados sobre diversos aspectos que envolvem a prática religiosa, e os resultados estão começando a ser publicados. O projeto é considerado o maior estudo científico sobre o assunto e reforça uma tendência crescente de a ciência querer explicar as crenças.
Em seu site oficial, o EXREL diz que busca descobrir os principais elementos comuns a todas as tradições religiosas, bem como os mecanismos cognitivos que dão suporte ao pensamento religioso e ao comportamento humano. O assunto é tão complexo e indefinido que os participantes do estudo consideram o trabalho feito até agora essencialmente uma coletânea de dados sobre os quais foram construídos esquemas interpretativos para serem postos à prova.
Dentro do projeto, por exemplo, a antiga premissa de que o mal é punido e o bem é recompensado, que teria ajudado na evolução de muitas religiões, foi objeto de estudo do pesquisador Nicolas Baumard. Após submeter entrevistados a um experimento, ele percebeu que, no inconsciente, os voluntários acreditam que há algum tipo de destino que vincula eventos e o comportamento dos seres humanos. Em si, a experiência não é suficiente para tirar conclusões seguras, mas, juntamente com outros elementos, pode contribuir para um diagnóstico estabelecido.
Para a professora de sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutora em Sociologia da Cultura e Religião, Cecília Mariz, o estudo como um todo parece inovador porque procura adotar novos conhecimentos e novas tecnologias (como, por exemplo, aparelhos que permitem mapear atividades cerebrais) no estudo da religião:
“Um dos dados que me parece bem especial seria a relação que observaram entre presença de dopamina e crença em Deus. No entanto, os dados apenas não dizem muita coisa. Haverá sempre a questão se aqueles que possuem mais dopamina acreditam mais ou se é a religião que aumenta a dopamina”.
Cecília Mariz ressalta que é nítida a tendência de se estudar a religião através de um viés psicológico e biologicista, como é o caso da pesquisa desses estudiosos das universidades inglesas e norte-americanas. Mas, ela lembra que, para cientistas das áreas de Sociologia, Antropologia e História, a religião sempre foi uma questão importante.
O padre Pedro Magalhães, da Fundação Padre Leonel Franca da PUC-RJ, autor do livro “A fé em Deus de grandes cientistas”, ressalta, no entanto, que a teologia é um pouco pária na academia e que são poucas as universidades que têm uma faculdade dessa área:
“Na Inglaterra, Oxford (onde a EXREL é centrada) tem uma tradição de debate nesse sentido, ao contrário de Cambridge, por exemplo. Mas, em geral, tem havido um movimento muito forte de fóruns de discussão sobre o assunto, o que é muito positivo”.
Engenheiro e doutor em matemática aplicada, padre Pedro Magalhães explica que o cientista sempre buscou entender o que há por trás do sentimento religioso. Cecília Mariz lembra ainda que, diferentemente do que se imagina, algumas religiões surgiram do desejo de unir crença e ciência:
“O espiritismo teve esse projeto em seu surgimento. E a Igreja Católica sempre pede apoio aos cientistas para analisar fenômenos que se pretende reconhecer como milagres”.