Lars von Trier é um pândego, além claro de ser um grande nome do Cinema, um dos diretores que me atraem para seus filmes apenas pelo nome impresso no cartaz. Trier declarou que o seu novo filme, Melancholia, é muito ruim e que talvez nem mereça ser assistido, óbvio que era o lado pândego de Trier se manifestando: ele estava fazendo uma piada, eu não entendi muito bem a graça, até porque não sou fluente em Inglês e ninguém fez o favor de traduzir a bodega da íntegra da entrevista coletiva no Youtube até agora.
Em uma noite em que estava, digamos: inspirado, disse também que ia usar as atrizes escolhidas para trabalhar em Melancholia em um novo projeto: desta vez um filme pornô (espero ansiosamente pelo trabalho: gata como é, Kirsten Dunst já seria ótima candidata a um caneco da XRCO, e a Charlotte, se não é tão gata, compensa com uma cara deliciosa de... melhor deixar quieto) . Também era seu lado pândego, e até aí ninguém se manifestou.
Mas o tópico da noite foi a resposta irônica de Trier sobre o nazismo. von Trier não é nazista, ou antisemita, ou racista... sua obra pregressa diz isso muito claramente: mas achou de fazer piada com o único tabu realmente intocável do Ocidente Contemporâneo, o único tabu perfeito. Sim porque você consegue mexer em todos os outros vespeiros ideológicos da contemporâneidade: sexualidade, religiosidade, racismo, sexismo... e se manter vivo e salvo. Mas se você quer realmente mexer num vespeiro perigoso mexa com o judaísmo e suas crenças e valores e história. Eu, aliás, devo ter acordado com raiva inconsciente de mim mesmo, ou pensaria mais antes de escrever este post.
Não é que eu entenda a piada que o Trier fez, não entendi até porque (como já disse) minha coleção de informações sobre o caso é limitada: em diversos links eu vi a resposta de Trier publicada (dublada, legendada, transcrita), mas onde está a pergunta a qual ele estava respondendo? Como eu contextualizo a resposta de Lars sem saber o que lhe foi perguntado?
O que eu entendo em Trier é que ele apenas manifestou o direito que achava que possuia de desenvolver sua resposta a seja lá que pergunta tenha sido feita: de trabalhar (mesmo que não muito bem, se foi mesmo o caso) ironias que ele achava que por tudo que já fez e disse publicamente não seriam interpretadas pelo grande público, pela mídia e pelos órgãos públicos como uma declaração de fato nazista.
Se esqueceu por um instante de com quem estava se metendo.
Os judeus são um grupo de seres humanos cujo laço real é uma crença religiosa mas que gosta de ser identificado como se fosse um grupo étnico. Judaísmo é o nome que se dá aos seguidores dos escritos do profeta Moisés e do comandante Josué: duas personagens cujas brutalidades cometidas (de acordo com os livros que tal povo considera sagrado) em nome de uma suposta superioridade étnica (deste mesmo povo) seriam capazes de enojar, talvez, ate mesmo Hitler.
Eu acho que é necessário que se compreenda isto, antes de tudo: que o Holocausto Nazista foi uma grande brutalidade, mas não foi a única nem maior brutalidade da História da Humanidade. Que o Holocausto Nazista não vitimizou apenas judeus, foram vítimas da limpeza branquela de Hitler também os negros, os os gays, as testemunhas de jeová, e se estes foram em menor número para os campos de concentração era apenas por na época estarem em menor número na Europa. Que o próprio povo judeu já cometeu ao longo de sua história genocídios tão ou mais brutais que o holocausto nazista, como Midiã ou Jericó (e para piorar: ao contrário dos alemães, não se envergonham destes holocaustos, pelo contrário ensinam aos seus filhos como se tivessem sido grandes feitos de seus antepassados: talvez fossem necessárias fotografias das milhares de crianças midianitas degoladas para que muita gente se apercebesse de que os grandes feitos de Josué e Moisés não eram diferentes dos malignos feitos de Hitler).
Só depois estaremos prontos, todos nós, para primeiro ouvir o que Lars von Trier disse, na íntegra e não apenas em excertos: e aí decidirmos definitivamente se o entendemos, ou não.