Autor Tópico: A ciência depende dos gays?  (Lida 564 vezes)

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Offline Rocky Joe

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A ciência depende dos gays?
« Online: 20 de Maio de 2011, 23:36:06 »
A ciência depende dos gays?

Não uso esse título para perguntar se há menos ou mais heterossexuais nas universidades e centros de pesquisa. O título tem a ver é com a guerra aberta, já detonada, entre o movimento contra a homofobia e as igrejas. Por quê?

Bem simples: filósofos como Daniel Dennett e biólogos como Richard Dawkins têm militado insistentemente nas fileiras do ateísmo, renovando parte do radicalismo iluminista (vindo do século XVIII) com a tese de que não basta vivermos sob a regra da tolerância religiosa, como nos ensinou Locke, se nossos jovens são crescentemente conquistados pela mentalidade religiosa de uma maneira inculta e, então, são impedidos de aprender matérias básicas nas escolas, que implicam em uma visão moderna comum. É desagradável admitir isso. Mas há verdade nessa denúncia. E olha que eles não falam do Brasil! No entanto, esses militantes ateístas não têm tido sorte nessa guerra. Eis então que, agora, uma força inesperada pode tornar-se um grande aríete contra a mentalidade religiosa. A força gay. Ora, não seria tal força uma aliada natural de movimentos brasileiros equivalentes ao que Dennett e Dawkins fazem nos Estados Unidos e Europa?

O poder da religião e, no caso atual, do misticismo, principalmente com a onda conservadora iniciada a partir de meados dos anos oitenta no Ocidente, criou mecanismos novos nas batalhas pela conquista almas. Os grupos evangélicos fizeram nascer uma religião mais permissiva em termos do que é e do que não é pecado, obtendo assim muito mais fiéis do que se esperava que as religiões pudessem conseguir nos tempos atuais. Mas, quando se diminui o número de itens na classificação dos pecados, é natural que aquilo que ainda permanece como pecado ganhe maior ênfase. E foi o que ocorreu.  Entre outras cláusulas que apontam o que é errado, uma parte não diminuta das igrejas resolveu manter o item “homossexualismo” como cativo do demônio. Tendo o homossexualismo sobrado como um dos poucos pecados reais, eis que ele sobressaiu-se quase que naturalmente nos sermões.  Agora, no Brasil, a guerra aberta está posta: de um lado, o movimento contra a homofobia, de outro, grande parte das igrejas evangélicas e da Igreja Católica (Veja o JB de 20/05/2011). Assim, a mentalidade iluminista pode, contra a mentalidade religiosa menos afeita ao desenvolvimento do pensamento aberto, ter um aliado importante: os gays.  Mas, no caso, não só. Como o movimento contra a homofobia pode até ser mais amplo que o movimento GTBLS, o movimento em prol da mentalidade científica pode estar conseguindo, para o seu lado, um aliado conjuntural nada desprezível. Talvez, um aliado decisivo, capaz de se por à frente do movimento antirreligioso em geral.

É claro que algumas igrejas logo perceberão que é mais fácil lutar contra a escola pública, o ensino laico e contra figuras não populares como os filósofos e os cientistas, que contra os gays. Talvez as igrejas, ao final, mantenham como pecado somente o palavrão e, é claro, o não pagamento de algo que já não é mais dízimo, mas, como dizem os pastores atuais, não menos que 30% do salário ou do valor do aluguel (isso quando não pedem o valor de um aluguel todo!). As igrejas podem perceber, logo que o movimento antihomofóbico der mais passos, que há mais gays no mundo do que se imagina atualmente, e então irão fazer o que o mercado já fez: não desprezar as almas gays, pois elas foram um público consumidor – e forte. Então, as igrejas irão tentar mostrar que se Maria Madalena foi acolhida, outras pessoas de um meio tido como semelhante ao dela poderiam ser vistas antes como transgressores menores que como pecadores demoníacos. E como na cabeça de pastor pode caber qualquer coisa que venha a significar mais almas e, portanto, mais dinheiro, no limite chegaria o dia em que todos receberiam a “boa nova”: Jesus não deixava passar ileso um apóstolo peladinho. E olha que não vejo esse dia como ruim não! Todavia, antes dos pastores conseguirem isso, a guerra contra os gays teria durado bastante, o suficiente para ela poder ajudar na guerra da mentalidade científica contra a mentalidade religiosa.

O que estou contando é que pensadores como Daniel Dennett e Richard Dawkins, que dizem para pessoas como Richard Rorty e eu mesmo que nosso liberalismo tolerante em relação às religiões é um tolo tiro no pé, poderá expandir seu prestígio aliando-se a movimentos com forte apelo popular, uma vez que apela pela preservação da vida, do direito de viver em paz, como é o caso do movimento antihomofóbico. Este movimento traria para o interior de uma frente anti-igrejas um peso que nós, darwinistas e iluministas, não conseguiríamos ter por nós mesmos jamais. Digo isso pensando no presente e no futuro, não no passado. Pois, ao menos não agora, nessa nova etapa, não se trata mais de sair da Idade Média e, sim, dar um passo além e simplesmente não deixar os jovens, na escola média, perderem seus cérebros de vez. Poderíamos dizer que, olhando para o passado, nossa luta hoje é mais fácil. Mas, em termos de movimento de ideias, o fácil e o difícil nem sempre pode ser comparativo entre passado e presente.

Em troca, o que o nós, iluministas, daríamos ao movimento antihomofóbico?

O movimento antihomofóbico não precisa endossar as teses iluministas como nós filósofos fazemos. Mas podem unir forças com tal movimento quando este vê na religião, e principalmente nas igrejas, um entrave para a liberdade e, portanto, para a felicidade. O movimento antihomofóbico não precisa ser ateísta, mas pode adotar a ideia de boa parte dos iluministas que, enfim, acreditaram que religião e visão escolar de mundo se separam, uma vez que a visão escolar precisa, no mundo atual, ser científica. Não há razão para pedir aos gays que sejam ateus, mas a razões para chamá-los para as fileiras anti-igrejas à medida que a filosofia pode lhes dar munição para dizerem coisa com “podemos ampliar nossos círculos de amizade usando palavras agregadoras antes que palavras de culpa a qualquer preço”.

© Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

Offline uiliníli

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Re: A ciência depende dos gays?
« Resposta #1 Online: 21 de Maio de 2011, 09:08:34 »
Quando vi o título exclamei um WTF bem grande, mas lendo o texto, vi que o autor faz uma análise bem lúcida da relação entre os iluministas (por que a gente não se chama assim com mais frequência?) e o movimento gay.

Offline Adriano

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Re: A ciência depende dos gays?
« Resposta #2 Online: 21 de Maio de 2011, 10:46:39 »
Muito bom ver o Ghiralderi abordando o ateísmo através dos grandes destaques da atualidade   :)
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Blues Brother

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Re: A ciência depende dos gays?
« Resposta #3 Online: 21 de Maio de 2011, 21:53:36 »
OK, REFUTAÇÃO NO MODO JACK ESTRIPADOR =

“Eis então que, agora, uma força inesperada pode tornar-se um grande aríete contra a mentalidade religiosa. A força gay. Ora, não seria tal força uma aliada natural de movimentos brasileiros equivalentes ao que Dennett e Dawkins fazem nos Estados Unidos e Europa?”

Força gay versus mentalidade religiosa é uma construção fantasiosa (e falaciosa).

Muitos gays lutam para casar na igreja. Adivinhe por quê?

Gays são aliados naturais dos ateus? E os gays que usam batinas? E os que rezam?

“Agora, no Brasil, a guerra aberta está posta: de um lado, o movimento contra a homofobia, de outro, grande parte das igrejas evangélicas e da Igreja Católica (Veja o JB de 20/05/2011).”

Esse trecho é de um reducionismo gritante. Frei Betto é contra a homofobia.
Muitos evangélicos são contra a homofobia; embora também contra o movimento gay.

Por outro lado, eu, por exemplo, não sou evangélico, nem cristão, mas avalio que muitas das reivindicações do dito movimento são totalitárias. Por exemplo, a idéia de que o comportamento deles é isento de críticas, debates, paródias, piadas, conforme proposto na PL 122. Eu espero que TUDO esteja aberto à crítica numa democracia. E isso, incluí, sim, o comportamento sexual alheio.

Essa idéia de bem contra o mal sempre é infantil (vide os filmes da Disney).

“As igrejas podem perceber, logo que o movimento antihomofóbico der mais passos, que há mais gays no mundo do que se imagina atualmente, e então irão fazer o que o mercado já fez: não desprezar as almas gays, pois elas foram um público consumidor – e forte.”

Aqui é o ponto onde sinto vergonha alheia. Não sei o que é pior: o desprezo do autor pelo fato de que tradições milenares não são negociadas como mercadorias ou a proposta infantil de que mais gays nas igrejas podem gerar mais receita aos pastores.

Se o autor souber contar basta conferir quantos heterossexuais existem no Brasil e quantos se declaram gays. Depois confira quantos heterossexuais estão fora das igrejas e quantos gays estão fora das igrejas.

Qual será o publico alvo da igreja (de qualquer igreja) os heterossexuais “incrédulos” ou gays “incrédulos”?


“O que estou contando é que pensadores como Daniel Dennett e Richard Dawkins, que dizem para pessoas como Richard Rorty e eu mesmo que nosso liberalismo tolerante em relação às religiões é um tolo tiro no pé, poderá expandir seu prestígio aliando-se a movimentos com forte apelo popular, uma vez que apela pela preservação da vida, do direito de viver em paz, como é o caso do movimento antihomofóbico.”


Pergunta:

O autor sugere que Dawkins e Dennett “expandam” seu prestígio pra quê?

Eles precisam de marketing pessoal pra convencer alguém sobre alguma coisa?

Isso me parece tão demagógico quanto aquelas empresas que fazem propaganda para divulgar ao mundo o quanto seus investidores se preocupam com a Amazônia (ou com os golfinhos; ou com as criancinhas que têm câncer; ou com aquecimento global).

“Este movimento traria para o interior de uma frente anti-igrejas um peso que nós, darwinistas e iluministas, não conseguiríamos ter por nós mesmos jamais. Digo isso pensando no presente e no futuro, não no passado. Pois, ao menos não agora, nessa nova etapa, não se trata mais de sair da Idade Média e, sim, dar um passo além e simplesmente não deixar os jovens, na escola média, perderem seus cérebros de vez.”

Primeiro, um reparo. Transportar o termo “darwinista” para arena política é um terrível tiro no pé. Darwinismo em política está associado ao movimento eugenista. O autor parece não levar a sério o peso e o significado das palavras em seus contextos.

Também é forçoso juntar no mesmo saco homofobia, frente anti-igrejas (sic), iluminismo e darwinismo, tudo isso para – aparentemente – “simplesmente não deixar os jovens perderem seus cérebros de vez”.

Ora, se o objetivo final é proteger os cérebros dos jovens a solução mais eficiente é educação de qualidade. Não precisa desse balaio de gatos, dessa pirotécnica toda.

“O movimento antihomofóbico não precisa endossar as teses iluministas como nós filósofos fazemos. Mas podem unir forças com tal movimento quando este vê na religião, e principalmente nas igrejas, um entrave para a liberdade e, portanto, para a felicidade.”

Se outro objetivo é fortalecer o movimento “antihomofóbico”, cuja existência até então desconhecia, novamente não precisa de uma “fusão” ou joint venture com “iluministas” (iluminismo FOI um movimento que pertenceu a determinado período da história) do século 21, que nada poderiam acrescentar a não ser sua imagem de estrelas acadêmicas.

“O movimento antihomofóbico não precisa ser ateísta, mas pode adotar a ideia de boa parte dos iluministas que, enfim, acreditaram que religião e visão escolar de mundo se separam, uma vez que a visão escolar precisa, no mundo atual, ser científica.”

Visão escolar? O autor, mais uma vez, utiliza termos que geram mais confusão do que compreensão. Que eu saiba, o conteúdo de todas as disciplinas deve ser amparado na ciência e na razão (nove foras o criacionismo) e não é necessário um revival iluminista para que isso seja mantido. Muito menos um revival iluminista antihomofóbico.

"Não há razão para pedir aos gays que sejam ateus, mas a razões para chamá-los para as fileiras anti-igrejas à medida que a filosofia pode lhes dar munição para dizerem coisa com “podemos ampliar nossos círculos de amizade usando palavras agregadoras antes que palavras de culpa a qualquer preço”.

Fileiras anti-igrejas é outro termo obscuro que não explica nada. Se a idéia é convocar todos os “movimentos” ou atores político que se colocaram contra as igrejas, então, reservem os lugares para os stalinistas (se é que eles ainda existem).

Eu diria que o autor escreveu esta obra-prima anti-clerical depois de uma boa dose de filosofia francesa, misturada com os novos conceitos da moda inverno/verão 2011 do ateísmo chique, com uma pitada de retórica obscurantista pra dar um "tchan" e talvez sob efeito de maconha.

 
 


Offline Rocky Joe

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Re: A ciência depende dos gays?
« Resposta #4 Online: 21 de Maio de 2011, 23:48:42 »
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Força gay versus mentalidade religiosa é uma construção fantasiosa (e falaciosa).

Muitos gays lutam para casar na igreja. Adivinhe por quê?

Gays são aliados naturais dos ateus? E os gays que usam batinas? E os que rezam?

Caro fã de blues, (curte o quê? eu sou puta fã do Son House e do Skip James)

Força gay versus mentalidade religiosa uma falácia? Quem você acha que lutou recentemente contra a legalização do casamento gay e da adoção por um casal homossexual? Na eleição recente, diversos senadores (alguns pastores) alegaram entrar lá para "defender os valores da família", "contra o homossexualismo". Cara, vá na rua, entreviste as pessoas, pergunte se elas acham que há alguma coisa de errado em ser gay, a maioria dirá "sim, porque não é natural, Deus não nos fez para isso".

O texto diz que os gays são aliados naturais do radicalismo iluminista, para ser mais preciso. E porquê? Porque eles vão contra a religiosidade que é justamente a que o iluminista radical se opõe, a esta "religiosidade inculta". Como diria Diderot:

"Nossa divisa é: sem quartel aos supersticiosos, aos fanáticos, aos ignorantes, aos loucos, aos perversos e aos tiranos...será que nos chamamos de filósofos para nada?" - (Carta de Diderot a Voltaire)

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O autor sugere que Dawkins e Dennett “expandam” seu prestígio pra quê?

Eles precisam de marketing pessoal pra convencer alguém sobre alguma coisa?

Tanto o Dawkins quanto o Dennett estão inseridos num debate político e estão bastante preocupados se os seus livros, palestras, etc, convencerão sim. Porque estão preocupados com o futuro da sociedade. É óbvio, ora. É claro que eles querem convencer as pessoas.

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Darwinismo em política está associado ao movimento eugenista.

Não por alguém inteligente.

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Ora, se o objetivo final é proteger os cérebros dos jovens a solução mais eficiente é educação de qualidade. Não precisa desse balaio de gatos, dessa pirotécnica toda.

Não adianta educação de qualidade se o pastor na vida do sujeito é uma figura de autoridade e o o instiga ao misticismo e pseudociência.

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iluminismo FOI um movimento que pertenceu a determinado período da história~

Ainda vivemos na modernidade. Somos uma sociedade "a esclarecer", não "esclarecida". O iluminismo hoje em dia é visto de forma diferente, claro (Escola de Frankfurt, por ex).

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Se a idéia é convocar todos os “movimentos” ou atores político que se colocaram contra as igrejas, então, reservem os lugares para os stalinistas (se é que eles ainda existem)..

Porque? Não era tudo numa sociedade democrática discutível?
« Última modificação: 21 de Maio de 2011, 23:51:54 por The Dark Adonis »

 

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