A Nova Evolução do Criacionismo
O design inteligente trata de política e religião, não de ciência
Por Barbara Forrest
A infame decisão de agosto de 1999 pela Junta de Educação do Estado de Kansas de eliminar as referências à evolução do currículo de ciência foi fortemente influenciada por proponentes da teoria do design inteligente. Apesar de que William A. Dembski, uma das figuras mais proeminentes do movimento, afirma que a "detectabilidade empírica das causas inteligentes provê ao design inteligente o posto de teoria científica completa," seus proponentes investem a maior parte de seus esforços em convencer os políticos e o público, não a comunidade científica.
O movimento do design inteligente, lançado pelo livro Darwin on Trial (1991) de Phillip E. Johnson, tomou corpo em 1996 no Center for the Renewal of Science and Culture (CRSC), patrocinado pelo Discovery Institute, um grupo de investigação teórica de Seattle. Johnson, um professor de direito cuja conversão religiosa catalisou seus esforços antievolucionistas, reuniu um grupo de apoio o qual promove a teoria do design com seus escritos, financiados por bolsas de estudo do CRSC. De acordo com uma de suas declarações de missões anteriores, o CRSC busca "nada menos que derrotar o materialismo e os seus condenatórios legados culturais."
Johnson se refere aos membros do CRSC e a sua estratégia como a Cunha (the Wedge), análogo a cunha que parte o tronco de lenha. Eles querem dizer que o design inteligente libertará a ciência das garras do "naturalismo ateísta." Os dez anos de história da Cunha revelam suas características mais sobressalentes: os cientistas da Cunha não possuem um programa de investigação empírica e, conseqüentemente, não tem publicado nenhum dado em revistas científicas “peer-reviewed” (ou em qualquer outra parte) que apóie suas afirmações sobre design inteligente. O que se tem é um programa agressivo de relações públicas, o qual inclui conferências que eles e seus seguidores organizam, livros ou artigos em nível popular, recrutamento de estudantes universitários através de palestras patrocinadas pelos grupos religiosos das universidades, e o cultivo de alianças com cristãos conservadores e com figuras políticas de influência.
A Cunha busca "renovar" a cultura americana por meio do enraizamento das instituições sociais mais importantes na religião evangélica, especialmente a educação. Em 1996 Johnson declarou: "Isto na realidade não é, nem nunca foi, um debate sobre ciência. Isto se trata de religião e filosofia.” De acordo com Dembski, o design inteligente "é simplesmente o os Logos do Evangelho de Lucas traduzidos para linguagem da teoria da informação." As estratégias da Cunha buscam os cristãos através da crença compartilhada na “simples” criação, buscando assim, nas próprias palavras de Dembski, "triunfar sobre o naturalismo e suas conseqüências." Isto permite aos proponentes do design inteligente coexistirem embaixo de uma grande tenda com outros irmãos criacionistas, que explicitamente baseiam suas crenças em uma interpretação literal do Gênesis.
"Como cristãos," escreve Dembski, "sabemos que o naturalismo é falso. A natureza não é auto-suficiente. ... Entretanto, nem a teologia nem a filosofia podem responder a pergunta evidencial de se a interação de Deus com o mundo é empiricamente detectável. Para responder a esta pergunta devemos buscar na ciência." Jonathan Wells, um biólogo, e Michael J. Behe, um bioquímico, parecem ser precisamente o tipo de indivíduos do CRSC que podem dar ao design inteligente sua passagem a credibilidade. Entretanto, nenhum dos dois têm levado a cabo pesquisas para analizar a teoria e muito menos produzido dados que desafiem as massas de evidência acumulada por biólogos, geólogos e outros cientistas evolucionistas. Wells, parcialmente influenciado por Sun Myung Moon, o líder da Igreja da Unificação, ganhou seu Ph.D. em estudos de religião e em biologia especificamente "para dedicar minha vida a destruir o Darwinismo." Behe vê como relevante a pergunta se "a ciência pode prover espaço para a religião." No fundo, os proponentes do design inteligente não estão motivados em melhorar a ciência senão em transformá-la em uma atividade teísta que apóie a sua fé religiosa.
Os seguidores da Cunha estão atualmente tratando de inserir o design inteligente no currículo de ciência das escolas do Estado de Ohio através da legislação estatal. Anteriormente, o CRSC deu publicidade a seu sítio web de ciências assegurando aos educadores que seu "curriculum Web pode ser apropriado sem ter que se meter em guerras de adoção de livros texto," em efeito promovendo os educadores a saltarem os procedimentos normais. Antecipando um caso prova, a Cunha publicou na revista Utah Law Review, uma estratégia legal para ganhar sanção judicial. Recentemente, o grupo quase teve êxito em inserir em nível federal na Acta "No Child Left Behind " do ano 2001 um "sentido do Senado" que apoiava o ensino do design inteligente. Então, o movimento segue avançando, mas suas táticas não são substitutas para a ciência verdadeira.