O cara aparentemente passou 30 anos atacando um espantalho. Não sei de nenhum autor recente que reduzisse a totalidade da experiência humana
aos simples disparos mecânicos de neurônios*. Ele parece também ignorar a diferença entre
hardware e
software. Por exemplo: é Claro que
a atividade de um computador pode ser reduzida num nível fundamental ao movimento de cargas em transístores. Porém, para compreender realmente
essa atividade em outro nível, tenho que levar em conta a existência de programas, que são o que permite a manipulação da informação.
Ele parece inverter a ordem desse raciocínio: para entender um computador
em um certo nível, é necessário fazer menção a softwares.
Porém, não podemos concluir a partir disso que a atividade de um computador não possa de forma alguma ser reduzida ao comportamento
microscópico do seu hardware. Isso é algo tão simples que fico me perguntando se realmente o autor não estaria sendo sarcástico. Até porque
muitas das afirmações categóricas que faz são simples opiniões do autor. Enfatizo isso nos comentários incluídos em negrito no texto:
*claro, posso estar enganado.
Na verdade, não há ainda uma explicação neural concebível de muitos aspectos da consciência humana. Pessoalmente, acredito que Um registro de impulsos neurais não pode explicar a simultaneidade e multiplicidade de um momento. Acredito que Estou consciente, por exemplo, da tela do computador à minha frente, das letras que se espalham por ela, da luz do sol lá fora e de pássaros cantando. Essas coisas são experimentadas separadamente, e tenho a convicção que no entanto como pertencentes a um único momento presente. Este muitos-em-um é ,imagino , uma noz muito mais dura de quebrar do que o mistério da Trindade.
Mais importante ainda, a atividade neural ainda não oferece explicação sobre a fonte da "referencialidade": o que acredito ser a qualidade essencial da consciência, que significa que minhas percepções, crenças e esperanças se referem a algo diferente de impulsos neurais. A referencialidade dos conteúdos da consciência - que os filósofos tradicionalmente chamam de "intencionalidade" - é plenamente desenvolvida nos seres humanos, que são conscientes de si mesmos como separados de seus mundos de objetos, signos e conceitos ao contrário dos demais animais, que afirmo serem como autômatos. E a intencionalidade é a origem última da esfera humana: a comunidade de mentes, tecida por um trilhão de apertos de mão cognitivos ou atenção compartilhada, dentro da qual nossa liberdade opera e nossas vidas narradas são conduzidas.
Muitas pessoas acreditam que o biologismo decorre inevitavelmente da teoria evolucionista. As pessoas muitas vezes pensam que sou um criacionista ou um prosélito de alguma religião. Para constar, sou um ateu humanista, um médico e neurocientista para quem a ciência é nosso maior monumento intelectual. Sou um agnóstico ontológico, não um dualista cartesiano ,embora use argumentos semelhantes. Só porque eu nego a identidade da mente com a atividade cerebral, não significa que eu considere a mente como um fantasma no maquinário do cérebro , porém, dá no mesmo, pois não apresentei um mecanismo alternativo aqui.
Espantalho & declive escorregadio:
O biologismo também importa porque defende uma concepção degradada da humanidade. Não é histeria sugerir que relatos de pessoas como organismos vorazes, dominados por imperativos biológicos dos quais não têm consciência, poderiam se autorrealizar.