Segundo Platão, quem "ganha" o debate é quem descobre que estava errado. Essa pessoa ganha novo conhecimento, a pessoa que já estava certa não lucra nada com a discussão, pois nenhum conhecimento novo lhe foi acrescentado. Sendo assim, se você sabe que o interlocutor está errado, você não tem nada a ganhar falando com ele. Você pode ser é generoso e ensiná-la. Infelizmente, esse debate idealizado por Platão só existe no seu mundo das ideias e não tem nada a ver com essa versão imperfeita e defeituosa que vemos no mundo real, onde as pessoas debatem por vaidade e se recusam a "ganhar" o debate aceitando o novo conhecimento que ela ganhou durante a discussão.
Um diálogo só pode ser frutífero se ambas as partes entram com humildade e reconhecem que podem estar erradas, aliás, mais que isso, cada pessoa deve estar ansiosa para ser provada errada. Imagine que maravilhoso seria descobrir que afinal, existem deuses, espíritos, reencarnação... se tudo isso existir de fato, você não quer ser o trouxa que foi o último a descobrir; sua disposição deve ser a de quem anseia para ser convencido e não o ser, em vez de ser encarado como triunfo, deveria ser uma decepção. O mesmo vale para o espírita que mandou o e-mail, ele está apostando altíssimo na possibilidade de haver vida após a morte, reencarnação, etc. Se nada disso existir, ele é um otário, portanto ele deveria agradecer ao cético que fosse capaz de abrir os seus olhos.
Imagino que essa boa disposição não exista em nenhum de vocês dois. Em mim, na maior parte das vezes, ela não existe. Nesses momentos eu não sou um cético, eu sou um cínico. E não digo filosoficamente, digo no mal sentido mesmo. A diferença entre o cético e o cínico é que o cético não tem má vontade, não tem certezas, o cético é humilde e pratica a dúvida, o cético está sempre disposto a aprender que está errado. Mas a soberba costuma passar na frente. Se não formos capazes de superar essa falha e assumir uma postura de "ceticismo aberto", "ceticismo interessado", conciliar o ceticismo com a "admiração", como dizia Carl Sagan, o melhor a fazer é mesmo não discutir. É por isso que dizem que religião, política e futebol não se discute, são temas passionais demais para uma pessoa lidar com humildade e genuíno interesse em aprender alguma coisa.