Pensando um pouco sobre o assunto, estou mais propenso a aceitar que a moral possua, em parte, um "núcleo duro" de objetivismo fruto da natureza da mente humana e, ao mesmo tempo, elementos subjetivos adquiridos pela experiência.
Acho que a aversão moral que temos acerca da prática de certos atos encontra respaldo, também, no modo como o nosso cérebro evoluiu. Penso que essa aversão tem origem basicamente na capacidade que a mente humana adquiriu ao londo de seu processo evolutivo de comparar objetos e determinar similitudes e diferenças. Se pensarmos bem, atos considerados moralmente reprováveis apresentam uma espécie de escala de reprovabilidade que cresce a medida que os aplicamos a seres cada vez mais semelhantes a nós. Tomando como exemplo o ato que podemos considerar como mais moralmente reprovável que é a aniquilação/morte de um ente e aplicando esse ato a um certo número de entes em uma escala crescente de similaridade humana, percebemos que o grau de reprovabilidade moral aumenta gradualmente. Por exemplo, ao aniquilar-se uma pedra, um inseto, um peixe, uma cobra, uma ave, um coelho, um chimpanzé, um ser humano, observamos um grau crescente de reprovação moral. Ninguém acha moralmente reprovável triturar-se rochas para usá-las na construção civil, mas já a morte de mamíferos recebe um certo grau de reprovação. Maior ainda será a reprovação se esses mamíferos forem primatas. O grau máximo de reprovação aqui é atribuído ao homicídio.
Me parece plausível imaginar que o ser humano acaba estendendo o seu instinto de autopreservação a tudo que lhe seja semelhante e esse instinto é mais forte tanto quanto maior forem as semelhanças. Assim, consideramos moralmente reprovável tudo aquilo que não desejamos que os outros façam a nós mesmos.
Tomando por base esse raciocínio, podemos explicar a psicopatia como uma alteração neurológica capaz de inibir essa capacidade do cérebro humano de distinguir similaridades e diferenças físicas/psicológicas* entre os entes naturais, o que acaba, por consequência, incapacitando o indivíduo de fazer julgamentos morais. O psicopata é basicamente um ser amoral. Para um psicopata não há diferença entre fumar um cigarro e esquartejar uma pessoa. Se, como diz o Craig, deus é a base dos valores morais, não deveríamos ter psicopatas, por que a base/origem da moralidade (Deus) não foi retirada. Contudo, como percebido no caso da psicopatia, a moral tem bases meramente físicas/neurológicas.
Apesar de achar essa ideia possível, não descarto a existência de certos valores morais como convenções sociais, fruto de nossa experiência civilizatória. Exemplo clássico disso é a escravidão e a discriminação feminina que hoje são largamente aceitas como moralmente reprováveis e outrora eram socialmente aceitas, embora não de forma unânime. Sociedades diferentes escolhem valores diferentes como dignos de proteção jurídica. Os valores morais/sociais da idade do bronze contidos na bíblia - nesse caso especificamente do povo judeu - não são os mesmo valores que a sociedade medieval ou moderna elegeram como dignos de proteção. A moralidade muda, embora, acredito eu, tenha ela suas bases na em um "núcleo duro" fruto do processo evolutivo humano.
Essa minha opinião (certa ou errada) é apenas uma dentre tantas outras que podem ser dadas para a origem da moralidade humana. Harris expôs a dele no debate, e eu pessoalmente não simpatizo com ela mesmo não descartando a possibilidade de que esteja correta. Mas o que o Craig faz na sua segunda premissa é apelar pra ignorância - atribui a Deus a origem da moral na falta de explicação melhor. Na primeira ele faz uma petição de princípio, já que não demonstra como a moral pode ter suas bases em Deus. A prova que ele tenta dar na verdade é dizer que Deus é o padrão de perfeição moral por isso devemos acreditar que seja também sua fonte. Mas Deus pode muito bem ser apenas fruto da imaginação humano, seus atributos meros atributos humanos exagerados ou infinitamente ampliados (vida eterna, inteligência de tudo, detentor da moral absoluta, etc, etc,...), ou seja, o argumento dele não vale como prova, por que pra que seja verdadeiro primeiro ele teria que provar que Deus (cristão) existe, e esse foi um ponto que ele próprio se encarregou de deixar fora do debate.
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* Não estou dizendo que um psicopata não saiba a diferença entre uma pedra e um ser humano. O que acontece na psicopatia seria uma incapacidade de vincular as similaridades físicas às psicológicas. Assim, para um psicopata uma pedra seria psicologicamente semelhante a um ser humano. As semelhanças físicas estariam na origem evolutiva da moral (como processo de evolução da mente), tendo por fim cedido espaço para os atributos psicológicos. A mente acaba atribuindo a seres fisicamente semelhantes arcabouço psicológicos semelhantes, sendo que o que prevalece no final é a projeção psicológica que fazemos de nós mesmo - nos enxergamos nos outros seres (semelhantes).