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Offline Fabi

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Fome na Somália é "política"
« Online: 06 de Agosto de 2011, 00:14:56 »
Fome na Somália é "política", diz especialista

Há seca severa, mas este não é o principal motivo por trás da crise de fome que assola a Somália. A análise é de Abdi Ismail Samatar, professor da Universidade de Minessota, nos Estados Unidos.

Nascido na Somália, naturalizou-se americano e pesquisa a África há cerca de 30 anos. Falou à Folha, por telefone, de Pretória, na África do Sul, onde é professor visitante.

Na quarta-feira, a ONU declarou crise de fome em mais três regiões somalis, elevando o total a cinco áreas que enfrentam a emergência humanitária. Segundo estimativas do órgão 3,2 milhões somalis --cerca de um terço da população do país-- necessitam de assistência imediata para sobreviver.

Os EUA estima em 29 mil o número de crianças abaixo de cinco anos mortas por conta da fome nos últimos 90 dias no sul da Somália.

FOLHA - Por que a Somália enfrenta uma crise de fome?

ABDI ISMAIL SAMATAR - A cada dois anos ou três há uma seca, em um ano ou outro pode ser uma seca severa. Nos últimos 50 anos da história da Somália, houve várias secas, mas elas nunca chegaram a se tornar uma crise de fome, em que as pessoas morrem aos milhares. Isso porque haviam governos no país que tinham a capacidade de intervir e assistir as pessoas.

O que mudou nos últimos 20 anos, mas mais nos últimos 7 anos é uma série de intervenções internacionais: a ocupação da Etiópia [2006-2008], a intervenção americana em termos de apoio aos "warlordes", que criaram uma instabilidade que tornou quase impossível o estabelecimento de um governo local.

Agora, porque não há um governo efetivo quando as pessoas enfrentam a crise da seca, não tem a quem recorrer. Então é a falta de assistência que criou a fome e não a seca em si.

Mas a crítica da comunidade internacional agora é de que a milícia Al Shabab (em controle de parte da Somália) está impedindo a entrega de alimentos e ajuda humanitária. Isso é correto?

O que acontece é que o Al Shabab era um grupo muito, muito pequeno. A intervenção dos americanos e dos etíopes produziram o tipo de Al Shabab que temos hoje. O grupo é um dos culpados pela fome na Somália hoje, os outro são, a guerra americana ao terror, a UE (União Europeia) pela manipulação da produção de alimentos no país, o Governo Federal Transitório (TFG, na sigla em inglês) e a ONU. Essas são as organizações que produziram a fome na Somália.

Se a comunidade internacional quer ajudar a Somália, agora é preciso enviar alimentos para os lugares onde as pessoas vivem para que elas não precisem deixar suas cidades e se tornem refugiados, porque uma vez que você se torna um refugiado da fome em campos na fronteira com o Quênia ou a Etiópia é muito difícil retornar à Somália.

Mas o mais importante, é que você pode distribuir alimentos e permitir que as pessoas sobrevivam, mas reconstruir suas vidas requer o tipo de governo que pode agir em prol de seus cidadãos.

Tenho argumentado nos últimos dez anos que a comunidade internacional tem sido um dos maiores obstáculos para que os somalis possam se organizar para reconstruir seus governos. Então, o que a comunidade internacional pode fazer também é ajudar os somalis a reconstruir seus governos, que seja competente e legítimo, que se importe com seu próprio povo.

E você vê isso acontecendo nos próximos anos?

Não espero que os Estados Unidos se mova nesta direção, porque apesar de Obama ser um democrata e um afrodescendente, sua política é continuação da "Guerra ao Terror" de Bush. Se você comparar a política externa de Bush na África, com a de Obama, não verá nenhuma mudança positiva.

Hoje a Hillary Clinton fez um pronunciamento em que ficou o tempo todo falando 'Al Shabab deve fazer isso, deve fazer aquilo', ela nunca olhou para o espelho e admitiu o que os governos americanos têm feito para minar a Somália, apoiando a Etiópia, os warlordes.

Qual a situação política interna na Somália?

Al Shabab e os que hoje se autoproclamam TFG eram as mesmas pessoas, parte de um só grupo. Depois de uma reunião em Dijibuti, em 2008, mediada pela ONU e pelos EUA, promoveu esta separação. Eu me lembro de ter falado aos representantes do TFG, então, que eles só deveriam aceitar formar um governo, se a milícia estivesse junto.

Hoje o TFG é um dos regimes mais corruptos do mundo, mas pior são assustadoramente incompetentes. O povo somali aceita o Al Shabab e não respeita o TFG, estão buscando uma alternativa. Há algumas pequenas organizações políticas surgindo, como por exemplo, o partido Hiilqaran, mas ainda há muito a ser feito.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/955472-fome-na-somalia-e-politica-diz-especialista.shtml
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“Deus me dê a serenidadecapacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para saber a diferença” (Desconhecido)

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Re: Fome na Somália é "política"
« Resposta #1 Online: 06 de Agosto de 2011, 00:25:41 »
E o verdadeiro problema da África não é dinheiro e falta de comida (isso são consequências)... O verdadeiro problema é esses conflitos internos, e esses grupinhos fundamentalistas e o islamismo (sempre aparece no meio dessas coisas  <_< )....

Citar
Conselho Supremo das Cortes Islâmicas

O Conselho Supremo das Cortes Islâmicas (ou Conselho Conservador das Cortes Islâmicas), como a milícia fundamentalista islâmica chama a si mesma a partir de julho de 2006, chamava-se União das Cortes Islâmicas/União dos Tribunais Islâmicos até 24 de junho de 2006. O conselho é um grupo de líderes islâmicos reunidos em um sistema de tribunais auto-proclamado tendo por líder-geral o Xeque Sharif Sheikh Ahmed.

Depois que a milícia trocou de nome, Hassan Dahir Aweys tornou-se o novo líder.
Até final de dezembro de 2006, eles controlam Mogadíscio, a capital de fato da Somália, Jowhar uma cidade 90 quilômetros ao norte e maior parte da Somália.

História

Após o a queda do regime de Barre e seguido o colapso do governo central da Somália em 1991, as cortes islâmicas baseadas na Charia ("Sharia") tornaram-se o principal sistema judicial, sustentado pelos tributos pagos pelos litigantes. Em pouco tempo, as cortes passaram a oferecer outros serviços, como educação e assistência médica. A corte também atua como força policial local, paga por comerciantes locais para reduzir o crime. O Conselho é responsável por combater o comércio ilegal de drogas, bem como por impedir a exibição dos chamados filmes pornográficos nos cinemas locais. A Somália é predominantemente muçulmana, e essas instituições recebem forte apoio popular. Os primeiros anos dos tribunais incluem líderes como Sheikh Ali Dheere, estabelecido no norte da cidade de Mogadíscio em 1994 e a corte Beled Weyene iniciada em 1996. Outros vieram os sentidos do trabalho conjunto através de uma comissão mista para promover a segurança. Este movimento foi iniciado por quatro das cortes, Ifka Halan, Circolo, Warshadda e Hararyaale, que formaram um comitê para coordenar seus assuntos e para acabarem diversos crimes de clãs e logo integrar às forças de segurança. Em 1999 o grupo começou a firmar sua autoridade. Os partidários e integrantes das cortes islâmicas e outras instituições uniram-se para formar a União dos Tribunais Islâmicos, uma milícia armada. Em abril daquele ano eles tomaram o controle do mercado principal em Mogadíscio e em julho, tomaram a estrada que vai de Mogadíscio até Afgoi.

Batalha de Mogadíscio em 2006 e Ascensão da União dos Tribunais Islâmicos

No ano de 2000, as cortes formaram uma união das cortes islâmicas, em parte para consolidar recursos e poder, em parte para ajudar a terminar com as através decisões, mas dentro das linhas do clã.[2] Sem embargo, muitos que os tribunais começaram a afirmarem-se como dispensadores da justiça, no entanto, entrou em conflito com os senhores da guerra seculares que controlaram a maior parte de Mogadíscio. Contudo o UTI remanesceu estabelecido firmemente no clã Hawiye.[3]

Em reação ao poder crescente do UTI, um grupo de senhores da guerra de Mogadíscio formou a Aliança Para Restauração da Paz e a Luta Contra o Terrorismo (APRPLCT). Esta era uma mudança principal, porque estes senhores da guerra lutaram entre si por muitos anos. No começo de 2006, estes dois grupos entraram em choque repetidamente e em maio de 2006 escalou em fortes combates na capital, onde morreram mais de 300 pessoas. Em 5 de junho de 2006, o UTI informou que estava controlando o Mogadíscio.[4]

Quando nos Estados Unidos (EUA), o governo Bush nem confirmou nem negou a sustentação, mas os oficiais americanos confirmaram anonimamente que o governo dos EUA financiava a APRPLCT, devido aos interesses de que o UTI está ligado à rede terrorista Al-Qaeda e está protegendo internamente três líderes do Al-Qaeda envolvidos após ataques terroristas, incluindo os ataques contra as embaixadas americanas na Quênia e na Tanzânia em 9 de agosto de 1998.[5] Há o receio para os EUA de que a vitória do UTI possa complicar “Guerra ao Terrorismo”.

Em 6 de junho de 2006, a milícia islâmica UTI informou que estava em poder, todo o território até 100 km (quilômetros) (62 milhas) a partir de Mogadíscio. Foram informados que os senhores da guerra foram capturados ou fugiram da cidade, abandonando a maioria de suas armas, a maioria deles fugiram para Jowhar, que foi conquistada pela milícia islâmica em 14 de junho.[6]
A UTI tem agora o controle e se fortalece muito pelos armamentos no país, o que torna difícil o ressurgimento dos senhores da guerra difíceis sem ajuda da parte externa, a menos que forças exteriores intervenham.

(... e continua)
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