Jornalistas chineses estão perdendo o medo Muitos repórteres e editores chineses estão altamente animados, na medida em que sua desobediência coletiva aos censores do Partido Comunista e o trabalho contundente de reportagem que fizeram após o choque entre dois trens de alta velocidade no mês passado os infundiu de um novo senso de poder. "A capacidade do partido de nos controlar está enfraquecendo", diz o editor de um caderno de um jornal estatal.
Numa tentativa de reconquistar a iniciativa após duas semanas de reportagens críticas publicadas pela imprensa sobre a tragédia de 23 de julho na província oriental de Zhejiang, na qual morreram 40 pessoas, autoridades do partido vêm criticando órgãos de mídia pela cobertura que vêm fazendo do desastre.
Houve também consequências sérias para alguns dos jornalistas que, para as autoridades, se excederam. Wang Qinglei, produtor na emissora estatal CCTV, foi suspenso depois de seu programa ter questionado o modelo de desenvolvimento da China e elogiado jornalistas que desafiam a censura, descrevendo-os como a alma do país.
Mas o acidente ferroviário chamou atenção para uma transição que já estava em curso. A mídia chinesa está se tornando uma força em favor de transformações.
Zhang Jiang, professor de jornalismo na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, diz que no passado a reportagem investigativa era praticada por alguns poucos órgãos seletos de mídia, mas que "desta vez pudemos verificar que muitos outros veículos têm ambições semelhantes, incluindo os produtos culturais da mídia do partido e governamental".
Zhang Zh'ian, professor de jornalismo na Universidade Sun Yat-Sen, em Guangzhou, estima que a China conte hoje com um pool de até 500 repórteres investigativos, e muitos estudantes de jornalismo querem seguir o mesmo caminho.
A ascensão das mídias sociais nos últimos anos também vem abrindo novos canais de comunicação. O microblog Sina Weibo, semelhante ao Twitter, já conta com 140 milhões de usuários. A notícia que o governo teria preferido ocultar foi revelada no Weibo e se disseminou rapidamente. Hoje, repórteres cujas matérias são censuradas ou modificadas frequentemente as publicam por conta própria.
"No passado, os jornalistas se ressentiam da censura em silêncio, mas quando você vai para o Weibo constata que todo o mundo sente a mesma coisa", diz Zuo Zhijian, diretor de notícias do jornal de negócios "21st Century Business Herald". "A existência do Weibo está ajudando a mídia a pouco a pouco ir rejeitando a autocensura e autointimidação e a retornar ao teor concreto das notícias."
Além disso, há uma mudança de gerações em jogo. Muitos jornalistas na casa dos 20 ou 30 anos hoje ocupam cargos relativamente seniores na mídia tanto on-line quanto tradicional, e suas preocupações diferentes se manifestam no modo como definem a pauta noticiosa.
"Os profissionais de mídia estão perdendo a capacidade de comprar imóveis com base em seus salários", observa Zhu Yuchen, da revista "Caijing". "Seu sentimento de insegurança está crescendo, e esse fato está estreitamente vinculado ao senso de insegurança nesta sociedade."
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