Desde julho deste ano, há um projeto de lei - PL 19.203/2011 - tramitando na Assembléia Legislativa da Bahia, proposto pela deputada Luiza Maia, que visa coibir o financiamento público de shows de artistas ou conjuntos musicais que ofendam ou depreciam a imagem da mulher. O projeto de lei causou uma enorme polêmica porque toma como pretexto letras de pagode de Salvador. A deputada lançou, também, uma petição pública, pela internete, para que cidadãos votem e apoiem o referido projeto de lei. Abaixo, alguns noticiários sobre o assunto que circularam pela internete.
Projeto de Luiza Maia deu o que falarFonte:
Thiago Cajacity.com.br"Não se pode naturalizar a violência e o desrespeito", defende deputada. "É só uma brincadeira", argumenta vocalista de banda de pagode.
"Olha, mulher é igual a lata, um chuta e outro cata, um chuta e outro cata...eu chutei, você catou". Músicas como esta, que fazem o sucesso de várias bandas de pagode na Bahia, estão na mira da Assembleia Legislativa.
A deputada estadual Luiza Maia (PT-BA) impetrou um projeto na Casa que prevê a proibição de financiamento público para bandas e artistas que incentivem a violência e o preconceito contra as mulheres.
Se o projeto for aprovado, o Governo do Estado e as prefeituras baianas ficarão proibidos de contratar artistas com repertório que desvalorize ou exponha as mulheres a constrangimentos. Ela já ganhou o apoio de dez deputadas da Casa e mantém um abaixo-assinado na internet para pedir apoio ao projeto. “Você não pode estar deixando normalizar, como se fosse natural a violência, o desrespeito e a desvalorização da mulher”, defende a deputada.
Os músicos não concordam com o projeto lei e argumentam. De acordo com Robson Costa, vocalista da banda Black Style, tudo não passa de uma brincadeira. "As mulheres interpretam de uma forma assim, como uma brincadeira, sabe? Zoar uma da outra. É sempre uma brincadeira de dançar e de coreografar”, acredita.
As letras são consideradas maliciosas e, algumas, carregam duplo sentido. Um exemplo é a letra “Foge, foge, mulher-maravilha. Foge, foge com o superman”, da banda Leva Noiz, eleita a melhor música do Carnaval de Salvador deste ano.
Para André Ramon, vocalista da LevaNóiz, as músicas transmitem alegria para o público. “A maldade está na cabeça das pessoas, porque o intuito da gente não é levar maldade e sim alegria", defende-se.
A professora Bárbara Souza acredita que tais letras causam um prejuízo à imagem da mulher na sociedade. “São ofensivas e colocam a mulher em uma condição de objeto”, reflete. Para o empresário Mário Pereira, o estilo já está arraigado no comportamento dos baianos. “O pagode, queira ou não queira, é a cultura da Bahia”.
O antropólogo Roberto Albergaria afirma que ‘músicas apimentadas’ são tradições antigas do país. "Desde o tempo do Brasil Colônia que a música, os ritmos populares, sempre foram muito erotizados. O pagode reproduz isso em Salvador da mesma forma que o funk reproduz esse tipo de sensibilidade no Rio de Janeiro", compara.
Em entrevista ao G1, o cantor Márcio Victor, da banda Psirico, um dos compositores da música Chupeta (Gugu dá dá), exibida na matéria, disse que não é a favor desse tipo de música e que acha necesário um debate com a sociedade sobre o assunto. "Acho que não tem nada a ver. Isso só vai acabar com a alegria de quem gosta dessas músicas. Acho que tem que ter uma conversa com a sociedade para saber até que ponto a sociedade acha agressivo ou não", opina.
Também compositor, Márcio Victor explica que não faz músicas que agridem a imagem da mulher, mas toca algumas nos shows porque o público pede. "Sou totalmente contra músicas que desvalorizam a mulher. As bandas gravam porque os empresários gostam, isso vicia. A gente toca porque o público pede, principalmente as mulheres. Fiz 'Mulher Maravilha', mas não para denegrir a mulher. É uma história de desenho, não tem nada a ver. O Psirico tem músicas como 'Mulher Brasileira' que enaltecem a mulher. Acho que temos que ter muito cuidado ao lidar com isso", finaliza o cantor.
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Projeto de Luiza Maia ganha destaque no FantásticoFonte:
Nossa MetrópoleO projeto de autoria da deputada estadual Luiza Maia (PT), que pretende proibir a contratação, com dinheiro público, de bandas cujas letras das músicas depreciem as mulheres, se tornou uma polêmica de proporção nacional. Depois da proposta ser tema de matéria veiculada na semana passada no Jornal Hoje, da TV Globo, neste domingo, 31, foi a vez do Fantástico abordar o assunto.
As matérias transmitidas pelos telejornais acabam por construir um conflito entre o projeto e as bandas de pagode, tão populares na Bahia. Luiza Maia afirma que esse não é o objetivo do projeto, que, segundo explica, combate a desmoralização e o incentivo à violência contra a mulher, não um estilo ou ritmo musical. “Nada contra o pagode! Nossa luta é por uma sociedade que respeite e valorize a mulher”, disse.
Na Assembleia Legislativa da Bahia, Luiza conta com o apoio de toda a bancada feminina, composta por dez deputadas. Nas ruas, porém, o assunto divide opiniões inclusive entre a mulherada. A reportagem do site foi às ruas para saber o que a população camaçariense pensa do Projeto de Lei. Imoralidade ou cultura baiana?
Fala Povo
A marisqueira de 24 anos, Jurema de Jesus, diz que um projeto como esse já deveria ter sido aprovado há muito tempo. “Só o fato de sermos mulheres já basta para qualquer pessoa nos valorizar. Somos nós que cuidamos da casa, criamos os nossos filhos. Uma mulher que gosta de ser chamada de cachorra e outros nomes piores, definitivamente não tem amor próprio”, afirma.
Para Amaro Viera, fotografo aposentado, as letras de alguns grupos de pagode ficam piores a cada ano e não só a contratação deveria ser proibida, mas também a gravação de letras do tipo. “Eu já estou na terceira geração, sempre gostei de farra, porém nunca gostei de falta de respeito. Antes era mais disfarçado, agora só tem esculhambação, imoralidades. A censura deveria voltar”, arremata.
Nem todos enxergam desrespeito nas letras das músicas. Muitos acham que os trocadilhos e frases com duplo sentido são apenas “brincadeiras divertidas”. É o caso do montador de andaimes Daniel Mesquita, de 28 anos. “Se tirar essas bandas a festa vai ficar sem graça. Não acho que ofendem as mulheres, elas até gostam”.
Jaqueline Oliveira de 16 anos, também é contra o projeto. “Sou contra a proibição, porque se as mulheres não gostassem desse tipo de música, as festas não ficavam lotadas, as bandas não faziam sucesso. As mulheres são as primeiras a cantar e dançar essas músicas, o povo gosta é disso mesmo”.
Votação
Como retorno das atividades na Assembleia Legislativa nesta segunda-feira, 1º, após recesso, a deputada Luiza Maia vai prosseguir com a busca pelo apoio dos pares. Ele espera conseguir as 32 assinaturas necessárias para que o Projeto de Lei seja encaminhado para votação ainda este semestre. Luiza também mantém um abaixo assinado online para a população participar
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O projeto de Luiza Maia e o ministério do “Vai dar Merda”Fonte:
O RecôncavoEste homem deprecia as mulheres?
“Fecha essa matraca que isso não nos convém
Vamos acabar com o zumzumzum
Teu falso desdém engana mais a ninguém
És qual um vintém, não tem valor algum
Baixa esse despacho e quebra o teu alguidar
Que o padre cansou de em vão te exorcizar
Te enxágua com sal grosso mal não fez nunca a ninguém
E a ti é que não vai fazer também
Antes que eu te dê com um pé na bunda
Bruaca, chifruda
Nem vem aprontar outro fuzuê
Furdúncio tem hora de terminar
Baranga, penosa te arranca
Teu tempo, juiz apitou
O jogo faz tempo já terminou
Tem muita miçanga nesse seu patuá
Sobra é farinha nesse angu
Tem língua de sogra nesse teu bláblá blá
Não dá pra encarar o teu i love you
Tens um olho gordo que me faz desandar
E até me brochar, mas vais te arrepender
Pois quem engole pedra reza um dito popular
Já sabe depois o que vai sofrer
Antes de armar outra barafunda
Mocreia, escuta
Não és capaz de condescender
Tampouco sou de contemporizar
O galo cantou faz um tempo,
Há tempo ele cocorocou
Levanta que o sol já se levantou
Que a hora de já se mandar passou
Que a hora de pirulitar chegou”
Mulher faladeira, letra de Chico Buarque de Holanda
O Projeto de Lei 19.203/11, de autoria da deputada estadual Luiza Maia (PT/BA), que pretende proibir o Estado da Bahia de financiar artistas que depreciem as mulheres, aprovado ou não, não vai para lugar nenhum.
O fato de ter, particularmente, repulsa por este tipo de música, não me impede de ver que a iniciativa da deputada está, inevitavelmente, fadada ao fracasso. Mais do que isso: ela é perigosa.
Se for aprovado, o projeto cairá no STF, uma vez se tratar de matéria flagrantemente inconstitucional. A livre manifestação do pensamento não será revogada por conta de nossa indignação com a música A ou B.
Alguém pode me dizer que existem graduações de direitos e que uns direitos prevalecem sobre outros. É verdade, mas sempre com critérios objetivos.
Com a melhor das intenções, a iniciativa nada mais é do que a velha censura.
A deputada Luiza Maia é uma boa parlamentar, mas embarcou numa barca furada. Furadíssima.
Tomemos então um exemplo. A música “Mulher faladeira”, de Chico Buarque, deprecia ou não as mulheres?
Alguém aí acha que não? Eu também acho.
O problema todo é que alguém pode dizer que deprecia. Quem terá esta régua mágica, iluminada e infalível?
A proposição da deputada requer uma régua subjetiva que, simplesmente, não pode existir numa democracia. E não existirá.
Como diria o Chico Buarque, é melhor criar o Ministério do “Vai Dar Merda”