Autor Tópico: Química não vende livro  (Lida 410 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline 4 Ton Mantis

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.330
  • Sexo: Masculino
Química não vende livro
« Online: 01 de Setembro de 2011, 08:21:20 »
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/quimica-nao-vende-livro





Quando a jornalista norte-americana Deborah Blum escreveu o livro The Poisoner’s Handbook [‘O Manual do Envenenador’, sem tradução no Brasil], sobre a evolução da ciência forense nos anos 1920, ela propôs o seguinte subtítulo à Penguin: “Uma história real sobre química, assassinato e a Nova York da era do jazz”. Mas a editora não bancou a sugestão. O subtítulo que foi para o prelo foi “Assassinato e o nascimento da medicina forense na Nova York da era do jazz”. Segundo a autora, o departamento comercial da editora disse que a palavra ‘química’ na capa comprometeria as vendas.

 Essa história tão curiosa quanto lamentável abre um artigo sobre a divulgação da química publicado na edição deste mês da revista Nature Chemistry por Matthew Hartings e Declan Fahy, da Universidade Americana, em Washington. Para eles, a aversão dos editores a essa palavra é sintomática do fenômeno que Pierre Laszlo chamou de quimiofobia – a tendência da população de associar essa disciplina a venenos, feitiços e cientistas loucos e mal intencionados.

 Mudar essa imagem popular é o desafio de quem trabalha com química e com divulgação científica. Os autores listam alguns obstáculos enfrentados nessa empreitada, a começar pela complexidade e hermetismo da química (“Se as estruturas moleculares são a forma de comunicação primária de um químico, como ele pode esperar ser entendido por um não químico?”, questiona o artigo). A presença discreta dessa disciplina na ficção científica e a falta de uma ideia central que unifique o campo (como a evolução na biologia) também são listadas entre os fatores que a separam do grande público.

 Os autores tentam entender por que os químicos não têm grande inclinação para escrever artigos para o público leigo e se engajar em outras ações de divulgação: “Não há razões urgentes para se comunicar amplamente a maior parte das pesquisas. É difícil que se chegue a verdades absolutas [nessa área]. E a natureza do trabalho cotidiano do químico é distante do discurso das mudanças de paradigma bombásticas que reconfiguram o campo.”

 O artigo elenca ainda também alguns conselhos para os químicos que queiram se envolver em ações de divulgação. As dicas soam um pouco óbvias para quem tem familiaridade com o campo – como conhecer o público a quem se fala, tentar encontrar associações com o dia-a-dia do cidadão comum ou se envolver com redes sociais e a nova paisagem midiática. Ainda assim, podem ser um ponto de partida para que se derrubem as barreiras que separam os químicos da sociedade.

 A cruzada para a mudança da imagem pública dessa disciplina é um dos objetivos do Ano Internacional da Química, celebrado em 2011, quando se comemora o centenário do segundo Nobel recebido por Marie Curie. O ano tem sido marcado por atividades de promoção da química em todo o mundo. Uma das ações promovidas no Brasil é o experimento global sobre a qualidade da água, na qual estudantes de todo o mundo vão medir o pH de amostras locais de água e lançar os resultados num banco de dados planetário. O experimento será realizado em outubro e aceita a adesão das escolas que quiserem participar.

 Se for por falta de bons exemplos de divulgação nessa área, vale a recomendação do livro A Tabela Periódica, de Primo Levi, com seus relatos de fundo autobiográfico batizados em homenagem a elementos químicos. Ele já foi considerado o melhor livro de ciência para o grande público de todos os tempos, embora em muito pouco lembre as narrativas convencionais de divulgação científica. O capítulo final, que descreve a trajetória de um átomo de carbono da atmosfera até o cérebro do narrador, é uma verdadeira declaração de amor à química. Será que teria vendido mais se tivesse outro título?
\"Deus está morto\"-Nietzsche

\"Nietzsche está morto\"-Deus

Offline uiliníli

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 18.107
  • Sexo: Masculino
Re: Química não vende livro
« Resposta #1 Online: 01 de Setembro de 2011, 12:32:59 »
Realmente, se vê bem menos livros de divulgação científica sobre química do que sobre física e biologia, mas ainda há alguns muito bons por aí. Estou lendo "A Colher que Desaparece - e outras histórias reais de loucura, amor e morte a partir dos elementos químicos", de Sam Kean; e ainda estão na minha lista "Os Botões de Napoleão - as 17 moléculas que mudaram a história", de Penny Le Couteur e Jay Burreson; e "O que Einstein disse a seu cozinheiro", de Robert Wolke.

Pensando bem, acho que o que falta não são livros sobre o assunto, mas um autor tão "pop" quanto um Richard Dawkins ou um Stephen Hawking para vender bestsellers, mas talvez essa visão errada que as pessoas têm da química, citada no texto, contribua para não aparecerem bestsellers nessa área.

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!