Autor Tópico: Legalidade - 50 anos  (Lida 809 vezes)

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Offline Aronax

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Legalidade - 50 anos
« Online: 04 de Setembro de 2011, 08:06:59 »
O movimento da Legalidade ocorreu a 50 anos....Pessoalmente lembro do hino da legalidade sendo tocado nas radios, a toda hora....dos adultos com semblante sério, preocupados.
Só depois de adulto fui entender o alcance do que era tudo aquilo. Ficou marcado a sensação do que captei e vivi, na ótica de uma criança com 9 anos....
A respeito...um dos muitos artigos sobre o assunto.
Seria possivel acontecer algo assim nos dias de hoje?

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As trincheiras que garantiram a posse de Jango
Por Ines Garçoni, especial para o iG

Leonel Brizola mandou cancelar o Grenal, a clássica partida entre Grêmio e Internacional, em Porto Alegre. Foi só aí que os gaúchos se deram conta de que a resistência no Palácio Piratini, sede do governo, ia durar. Brizola, governador do Rio Grande do Sul, interrompeu o campeonato estadual no domingo, dia 27 de agosto de 1961, três dias depois da renúncia do presidente Jânio Quadros. Estava preparada a tropa de civis e militares que garantiria a posse do vice João Goulart.

A Campanha da Legalidade durou 13 dias. Quando Jânio renunciou, sem dar maiores explicações, Jango, o vice do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e alinhado às idéias sindicalistas, fazia uma visita diplomática à China. O pavor da possível formação de um governo de esquerda fez com que os ministros Odílio Denys, da Guerra, Grün Moss, da Aeronáutica, e Sílvio Heck, da Marinha, anunciassem o veto ao vice-presidente. Se voltasse ao Brasil, Jango seria deposto e preso.

Em Porto Alegre, as informações chegavam truncadas de Brasília, sem confirmações. Telefonemas eram difíceis. Na sexta-feira, 25 de agosto, Brizola ainda acreditava que a renúncia havia sido forçada pelos militares e chegou a oferecer ao presidente o Palácio Piratini como refúgio. Mas a recusa de Jânio, que abandonou o cargo também acreditando no golpe de Estado, fez o governador entender o que se passava. No sábado, ele optou pela resistência armada, entendendo que só assim evitaria a violação da Constituição, segundo a qual Jango tinha plenos direitos de governar o País. Por isso, o nome "Campanha da Legalidade".

Mais de 400 pessoas se entrincheiraram na sede do governo gaúcho desde a noite de sábado. E o número aumentava com o passar dos dias. Sacos de areia e rolos de arame farpado na Praça da Matriz criaram o cenário de um campo de batalha. Brizola mandou fechar as escolas e manter as crianças em casa. Para convocar a população, distribuiu dezenas de manifestos às rádios gaúchas. Mas a medida em que divulgavam os textos, as emissoras eram fechadas pelos militares governistas. Avisado de que sobrara apenas a Rádio Guaíba, Brizola não pestanejou: "Confisquem os aparelhos". O maquinário foi montado no porão do Palácio, onde improvisou-se uma rede que emitiu, em ondas curtas - de longo alcance -, as idéias legalistas da resistência.

Foi por meio da Rede da Legalidade que Brizola fez o discurso que ainda considera o mais emocionado de sua vida: "Venham para a frente deste Palácio, numa demonstração de protesto contra essa loucura e desatino. (...) Não pretendemos nos submeter. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos chacinem". A população atendeu ao chamado e, em pouco tempo, uma multidão estava na porta do Piratini. Até hoje, ele garante que eram mais de cem mil. "Não sei se eram tantos, mas certamente chegavam a ser mais de 40 mil", diz o jornalista Carlos Bastos, repórter do jornal Última Hora, no Rio Grande do Sul, que dormiu no palácio durante os 13 dias.

O estúdio de rádio improvisado funcionava com potência máxima. A eficiência do técnico eletrônico voluntário Homero Símon fez com que a voz do governador fosse captada em alto mar, num barco na costa do Alasca, como conta o jornalista Flávio Tavares: "Soubemos que o mundo inteiro ouvia, até na Rússia. Nas madrugadas, tinha gente que lia os manifestos em russo, japonês, árabe, francês e inglês". Tavares era editor de política do jornal Última Hora e aderiu à causa, como a maioria dos jornalistas que chegavam para acompanhar o episódio. Foi ele quem soube, em primeira mão, que a cúpula militar em Brasília ordenaria a prisão de Brizola.

O responsável pela ação seria o general Machado Lopes, comandante do 3º Exército. Tavares deu o aviso ao governador e tratou de cooptar o oficial, de maneira nada ortodoxa. "Passei um trote. Liguei fingindo ser o arcebispo dom Vicente Scherer e disse que precisava conversar com ele sobre a campanha. Depois fiz a mesma coisa com o arcebispo, liguei fingindo ser o general. Os dois se encontraram e decidiram nos apoiar", conta.

Nas trincheiras do Palácio, Tavares foi sub-comandante da "barricada do lado direito do prédio". Anos depois, seria preso durante a ditadura e um dos 15 militantes trocados, em 1969, pelo embaixador americano seqüestrado Charles Elbrick. Mais tarde, contaria a verdade ao arcebispo Scherer: "Disse que tinha sido um trote e ele falou: 'ah, por isso que um não sabia o que dizer para o outro'. Mas o encontro foi decisivo".

O apoio do general Lopes trouxe para o lado dos legalistas quase todo o Exército da região Sul. Milhares de pistolas e fuzis foram distribuídos à população, entre homens e mulheres. As intenções da resistência eram nada menos que marchar até Brasília por terra, fechar o Congresso e convocar uma Assembléia Constituinte. Mas se os oficiais governistas decidissem contra-atacar, a guerra civil seria instaurada. "Nós queríamos ir até o fim", diz Carlos Bastos. "Foi a única vez em que eu infringi o Código de Ética. Escrevia as matérias com claro partidarismo". A redação do jornal se transferiu para o porão do Palácio. Os jornalistas tornaram-se também membros da brigada legalista.

O general Ernesto Geisel, então chefe da Casa Militar, desmentiria anos depois que as Forças Armadas prepararam o bombardeio do Piratini, mas a resistência acreditava que isso pudesse acontecer a qualquer momento. O marechal Henrique Teixeira Lott, adversário de Jânio nas eleições de 1960, foi preso por declarar seu apoio a Jango, o que dividiu as opiniões no Exército e fez com que mais militares aderissem à causa.

A despeito da mobilização articulada por Brizola, Jango manteve-se isolado pelas dificuldades de comunicação, no Oriente, durante os primeiros dias. Da China, seguiu para Cingapura, Paris e Nova York. A esta altura, o Congresso articulava uma saída para evitar o confronto. O general Golbery do Couto e Silva sugeriu a adoção do sistema parlamentarista, para diminuir os poderes de Jango. Quando o vice-presidente desembarcou em Montevidéu, no Uruguai, tinha duas opções: aceitar a proposta e tomar posse ou lutar ao lado dos legalistas pela garantia de seu direito constitucional e governar no sistema presidencialista. Jango optou pela solução pacífica.

De Montevidéu voou para Porto Alegre, em 5 de setembro. Não discursou para a multidão que o recebeu. Até então, os gaúchos não sabiam sobre a decisão de Jango. As vaias cresceram enquanto a edição do Última Hora, com a manchete "Legalidade foi traída", era distribuída entre os resistentes. A Campanha não queria o parlamentarismo e preferia marchar para Brasília. "A decepção era geral, mas hoje sabemos que foi uma solução política para evitar o imponderável", diz o jornalista Flávio Tavares.

Jango tomou posse em 7 de setembro e governou por pouco tempo. Menos de três anos depois veio o golpe militar, definitivo. O regime de exceção que duraria quase três décadas foi adiado, por alguns anos, pela Campanha da Legalidade.
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline Aronax

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #1 Online: 04 de Setembro de 2011, 08:11:19 »
Hino da Legalidade

Composição: Paulo César Pereio / Lara De Lemos

Avante brasileiros de pé
Unidos pela liberdade
Marchemos todos juntos
Com a bandeira que prega a lealdade


Protesta contra o tirano
E recusa a traição
Que um povo só é bem grande
Se for livre sua Nação
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Skorpios

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #2 Online: 04 de Setembro de 2011, 08:43:31 »
Também me lembro. Para uma criança era uma festa...Mas hoje em dia dificilmente ocorreria algo assim. Estamos tão acostumados a ser enganados e explorados pelos políticos que aceitamos qualquer coisa...

Offline Blues Brother

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #3 Online: 07 de Setembro de 2011, 22:22:28 »
Tempos depois, o golpe militar.

Brizola nunca perdoou Goulart por não ter "resistido".

A verdade é que o gaúcho queria uma guerra civil à la Cuba, bem sangrenta, mas o presidente foi mais prudente.

Há, inclusive, documentos de um grupo ao qual Brizola pertenceu que dizia explicitamente que os "reacionários" deveriam ser executados: a idéia era que em cada cidade haveria certa quantidade de "guerrilheiros" armados com o que tivessem em mãos, estes tomariam civis desarmados como reféns.

Se o movimento falhasse, diz o documento do grupo de Brizola, os reféns deveriam ser sumariamente executados.

Offline Geotecton

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #4 Online: 07 de Setembro de 2011, 22:36:50 »
[...]
Brizola nunca perdoou Goulart por não ter "resistido".

A verdade é que o gaúcho queria uma guerra civil à la Cuba, bem sangrenta, mas o presidente foi mais prudente.
[...]

Precisamente. Ele (Brizola) queria um banho-de-sangue... dos outros, pois como um "bravo" (sic) ele se mandou para o exterior.
Foto USGS

Offline Pregador

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #5 Online: 08 de Setembro de 2011, 09:17:58 »
No Brasil não existe essa de banho de sangue, revolução armada etc. Tudo o que ocorreu foram casos isolados sem amplitude. Aqui tudo se adapta a tudo e ninguém quer perder sua boquinha, por isso, sempre somos governados pelos velhos ratos.

A maioria dos políticos nossos se adaptaria perfeitamente dentro de uma ditadura, de um Estado Liberal, Social ou de uma Comuna Radical. O que interessa é estar no poder e vocês sabem o motivo...
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Skorpios

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #6 Online: 08 de Setembro de 2011, 09:28:40 »
Tempos depois, o golpe militar.

Brizola nunca perdoou Goulart por não ter "resistido".

A verdade é que o gaúcho queria uma guerra civil à la Cuba, bem sangrenta, mas o presidente foi mais prudente.

Há, inclusive, documentos de um grupo ao qual Brizola pertenceu que dizia explicitamente que os "reacionários" deveriam ser executados: a idéia era que em cada cidade haveria certa quantidade de "guerrilheiros" armados com o que tivessem em mãos, estes tomariam civis desarmados como reféns.

Se o movimento falhasse, diz o documento do grupo de Brizola, os reféns deveriam ser sumariamente executados.

Os "grupos dos onze".

Offline DDV

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #7 Online: 08 de Setembro de 2011, 12:28:01 »
Essa era uma época de instituições frágeis e descrença generalizada na democracia.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Aronax

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #8 Online: 09 de Setembro de 2011, 20:58:13 »
Tempos depois, o golpe militar.

Brizola nunca perdoou Goulart por não ter "resistido".

A verdade é que o gaúcho queria uma guerra civil à la Cuba, bem sangrenta, mas o presidente foi mais prudente.

Há, inclusive, documentos de um grupo ao qual Brizola pertenceu que dizia explicitamente que os "reacionários" deveriam ser executados: a idéia era que em cada cidade haveria certa quantidade de "guerrilheiros" armados com o que tivessem em mãos, estes tomariam civis desarmados como reféns.

Se o movimento falhasse, diz o documento do grupo de Brizola, os reféns deveriam ser sumariamente executados.

Os "grupos dos onze".
Isto foi depois......na legalidade, se impediu o que veio a ocorrer tres anos depois.....
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline Tonto

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Re: Legalidade - 50 anos
« Resposta #9 Online: 13 de Setembro de 2011, 15:48:22 »
Essa era uma época de instituições frágeis e descrença generalizada na democracia.



Não muito diferente dos dias de hoje
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Offline Fernando Silva

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Re:Legalidade - 50 anos
« Resposta #10 Online: 15 de Dezembro de 2011, 07:44:27 »
Notícia publicada em "O Globo" de 14/12/61 diz que a greve geral programada para S.Paulo nesse dia fracassou porque a polícia prendeu vários organizadores e impediu que eles bloqueassem os transportes e cortassem a energia elétrica das cidades da Grande S.Paulo.

Eu lembro que, na manhã de 31/03/64, tive que sair para comprar querosene e carvão para fazer o almoço porque a companhia de gás estava em greve havia vários dias.

Prestes declarou em novembro de 1961 que seu objetivo era transformar o Brasil em uma nova Cuba.

E alguns ainda não entendem por que a sociedade da época estava assustada e aplaudiu a revolução...

 

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