Autor Tópico: O que dois robôs conversando entre si produziriam ?  (Lida 3395 vezes)

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Offline lusitano

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Re: O que dois robôs conversando entre si produziriam ?
« Resposta #25 Online: 22 de Setembro de 2011, 07:26:34 »
Di Gaúcho - escreveu:

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Eu me referia apenas ao animal mitológico.
Que é o único significado existente para a palavra "unicórnio".

Aí é que está a questão... A palavra unicórnio, pode ser aplicada em contextos diferentes a significar coisas diferentes. :idea:

artur

Pode exemplificar?

Eu apresentei a analogia com "Sony" do filme "Eu robote" e Leonardo de Vinci, um homem dotado de talentos excepcionais, tanto físicos, como mentais; em suma - um génio - com os dois lados do cérebro unificados: portanto um unicórnio, ou um ciclope :!: :arrow: :idea:

E também a metáfora da virgindade, nomeadamente a sexual. Nota-se essa particularidade, na alegoria da donzela e o unicórnio: uma jovem e linda fêmea humana, protegida ou requestada por um belo espécime cavalar, munido dum tremendo chifre no meio da testa.

Posso encontrar aqui facilmente o mito do príncipe encantado... E dos célebres heróis éticos; respectivamente "Jesus Cristo" e Gautama o "Buda", entre outros.

Menciono também a marca de Caim, o homem que matou o irmão por ciúme e que foi marcado no meio da testa, com um sinal de protecção, contra os vingativos.

Caim, seria ironicamente o primeiro chifrudo da história, que de agricultor manso, virou corno bravo, com um ou mais chifres, consoante foi muito ou pouco enganado por quem amava devotadamente.

Também temos o extraordinário mito de Rómulo e Remo, os gémeos criados por uma loba e que fundaram Roma.

Rómulo terá supostamente assassinado o irmão, para evitar disputas e dispersões desnecessárias, à unificação dum império.

Portanto - na minha opinião - os animais mitológicos, como a esfinge por exemplo, podem ser compreendidos como simbolos, com uma ou mais interpretações.

Entretanto apresento à sua apreciação, o  resumo d'uma história que eu considero interessantíssima.

Um pequeno comentário ao livro escrito por Thomaz Mann, "O eleito". A odisseia dum homem, que conseguia concentrar toda a sua atenção sem distracções; e reunir as suas energias, num único ponto focal.

Por - BERNARDO CARVALHO Colunista da Folha:

O rei e a rainha de Flandres tentam há anos produzir um herdeiro,
inutilmente. Fazem suas preces. Finalmente a rainha dá à luz um casal
de gêmeos, mas não sobrevive ao parto. "Nós nascemos da morte", dirá o
irmão à irmã, anos mais tarde, ao seduzi-la.

Os gêmeos crescem e, com a morte do pai (que por sua vez já nutria
sentimentos incestuosos em relação à filha), não resistem mais ao
desejo que sentem um pelo outro. A irmã fica grávida do irmão e dá à
luz um menino.

O irmão, ao mesmo tempo pai e tio da criança (Mann insiste no poder do
incesto de engendrar a desordem da linguagem, uma perda primordial dos
sentidos que a religião vai tentar administrar com uma economia de
culpa e perdão), sai pelo mundo em busca de penitência e morre. A
criança é jogada ao mar num barril, acaba sendo salva por pescadores e
é criada por um abade numa ilha remota.

Aos dezessete anos, ao descobrir sua verdadeira origem, o rapaz, agora
chamado Gregório, sai à procura dos pais, com a idéia fixa de poder
perdoá-los para também encontrar a salvação. Em sua peregrinação,
liberta o reino sitiado de uma rainha e se casa com ela, como Édipo,
sem saber que é a própria mãe.

A única diferença do mito grego é que, ao descobrir que vive e
reproduz o mesmo pecado que está na sua origem, Gregório vai sair em
errância pelo mundo, tentando expiar o pecado pela própria humilhação,
até ser reduzido a verme, quando a misericórdia de Deus, em
reconhecimento à sua penitência, fará com que se torne Papa.

No epílogo, numa tirada irônica, Mann adverte pela boca de seu
narrador: "Que ninguém que se deixou entreter por esta história tire
dela falsa moral e pense que, afinal, o pecado é coisa fácil".

Logo em seguida, vai lembrar o que está em jogo na moral cristã: "...É
sábio adivinhar no pecador um eleito, e isso também é sábio para o
próprio pecador. Pois a noção da possibilidade de ser eleito pode
dignificá-lo e tornar fecundos os seus pecados, proporcionando-lhe
vôos mais altos".

A idéia da penitência como missão é, assim, o que permite sobreviver a
despeito das piores intempéries, sem expectativas em relação ao que
não pode ser alcançado mas sempre na esperança da graça divina.

A grande invenção do cristianismo foi criar uma contradição que
encobrisse o abismo e a falta de sentido da existência humana para, no
lugar da catarse que a tragédia grega propunha pela arte, oferecer a
solução simplista da misericórdia.

O Deus cristão precisa do pecado. Sendo Cristo o Deus dos pecadores,
não haveria necessidade de sua existência, assim como não poderia
haver vida nem virtude, se não houvesse pecado.

É o pecado que põe o mundo cristão em movimento, num processo cíclico
de culpa e expiação. O Deus cristão é aquele que ao mesmo tempo
condena os pecado e se comove com eles, para curiosamente perdoá-los
num movimento ininterrupto.

O pecado é, no fundo, o grande bem do cristianismo. Se existir já é
pecado, tudo passa a ser relativo. É pecado copular e não copular. É
pecado nascer mas também não deixar nascer. Tudo depende da situação e
do momento.

Não importa o que você faça, porque sempre estará em pecado para que,
pela culpa, possa alcançar a virtude. "Por que eu nasci? Deus
amaldiçoou a hora em que nasci!", diz Gregório ao descobrir que está
casado com a mãe.

Virtude e pecado passam a ser os dois lados da mesma moeda. Não há
virtude sem pecado no cristianismo. A não ser no dogma, no que não tem
lógica, na virgem que também é mãe. É esse o grande paradoxo do
cristianismo, cuja alegoria a releitura de Thomas Mann, agora
reeditada no Brasil, transforma numa preciosidade da literatura.

Quem lê "O Eleito" (1951), de Thomas Mann (1875-1955), logo entende o
que fascinou o escritor alemão, autor do "Doutor Fausto", no poema
épico medieval de Hartmann von Aue (1165-1215), em que se baseou para
reescrever a lenda do santo que, nascido do pecado do incesto, chega a
Papa depois de anos de penitência.

Hartmann von Aue fez uma das alegorias mais bem-sucedidas do princípio
cristão da redenção pela penitência, com objetivos didáticos. Mann,
por sua vez, usa o mito de "Gregorius" para expor, por meio de uma
fábula humorada e comovente, tendo por cenário uma Idade Média
imaginária, como o cristianismo se tornou uma das idéias mais geniais
e poderosas da história ao operar uma perversão da lógica.

O princípio do cristianismo é a contradição. Para o cristianismo, o
ser humano, feito à imagem de Deus, é contradição. Como pode nascer em
pecado se procriar é uma virtude? Como sua vida pode ser compreendida
como uma chance de expiação se a própria existência já é pecado? A
lenda de Gregório faz a alegoria dessa contradição ao narrar uma
epopéia inteiramente fundada no incesto.

Avaliação: Ótimo
Livro: O Eleito
Autor: Thomas Mann
Tradutora: Lya Luft
Editora: Mandarim
Quanto: R$ 29,50 (272 págs.)

artur
« Última modificação: 22 de Setembro de 2011, 07:38:08 por lusitano »
Vamos a ver se é desta vez que eu acerto, na compreensão do sistema.

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Especulando realismo fantástico, em termos de
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paralogismo comparado - artur.

 

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