Passei 15 minutos achando que esse cara acreditava mesmo nessa história de tribos de gente branca espalhadas pelo mundo e em como seria fácil demonstrar essa tese como pouco crível, pra ele concluir no final que as pessoas apenas estavam achando que viam algo que gostariam de ver.
Na verdade eu acho mais provável que esses tipos de histórias e teorias estapafúrdias fizessem parte da construção da ideologia pró-colonialista do século 19, assim como o próprio racismo.
Pra mim esse cara é um trouxa comparável aos idiotas que sobem o monte Ararat a procura da arca de Noé. Ele também se deu ao trabalho de subir a montanha para "ver o que Stanley viu" mas... conseguiu encontrar algum africano lá que pudesse ser confundido com um norueguês?
Meu avô tinha em sua biblioteca algumas enciclopédias muito, muito antigas. Não saberia dizer quando teriam sido publicadas, mas me lembro que havia muitos artigos fascinantes sobre Geografia e lugares distantes e exóticos. Eram produto de um interesse palpitante que existiu, principalmente na Europa mas também nos Estados Unidos, por Geografia e explorações durante o século 19 e que se estendeu até o início do século 20.
Houve dezenas, talvez centenas, de "clubes de geografia" e clubes de "exploradores" criados em muitos países. Mas estimulando essa paixão pelo descobrimento havia muitas vezes um patrocínio estatal que financiava veladamente expedições caríssimas. O objetivo era esconder das potências concorrentes a prospecção de recursos econômicos, disfarçando essa atividade como um interesse amador de entusiastas da Geografia.
No século 19 a corrida colonial estava a todo vapor:
A abertura da África à exploração ocidental havia começado no final do séc. XVIII. Até 1835, os europeus já haviam traçado mapas da parte do noroeste africano. Entre os exploradores europeus mais famosos estavam David Livingstone, quem traçou os planos do vasto interior, e Alexandre Serpa Pinto, quem a cruzou numa complicada expedição e traçou mapas de seu interior. Árduas expedições nas décadas de 1850 e 1860 por Richard Burton, John Speke e James Augustus Grant descobriram os grandes lagos centrais e a nascente do Rio Nilo. No final do século, os europeus haviam cartografado o Nilo desde seu nascimento, o percurso do Rio Niger, e o traçado dos rios Congo e Zambeze.
De qualquer maneira, logo no início dos conflitos pela posse da África, as nações ocidentais controlavam apenas 10% do continente. Em 1875 os territórios mais importantes tanto pela sua extensão quanto pela sua riqueza eram Argélia, sob domínio francês; Colônia do Cabo, controlado pelo Reino Unido e Angola, que estava sob o domínio português.
A conquista de colónias africanas e asiáticas teve a intervenção da Inglaterra, França, Holanda, assim como da Alemanha e Itália. (…) a conquista destes territórios tinha como fim assegurar a produção de matérias-primas ou a sua reserva, assim como isolar mercados para colocar os produtos fabricados na metrópole e garantir a estabilidade do emprego. (…) muitos bancos e empresas se formaram para organizar a exploração dos novos territórios. (…)
A corrida às colónias africanas e asiáticas não serviu apenas para assegurar matérias-primas e mercados para os seus produtos. Para os Estados europeus aquela conquista envolvia várias outras funções: por um lado, os êxitos coloniais entusiasmavam a opinião pública e facilitavam decerto a garantia de emprego e da solução das dificuldades económicas. Por outro lado, por esse mesmo facto tornavam aceitáveis as despesas militares, o que, no conjunto, era também favorável ao emprego, o grande problema social do século XIX.
O antigo pretexto de "salvar almas" que desconheciam o cristianismo começa a ser substituído por um discurso mais afeito ao século 19. Muitas teorias pseudo-científicas atestam a "raça branca" como a mais evoluída, e claro, tendo como direito tutelar outros povos e como missão levar o desenvolvimento a não brancos biologicamente incapazes de alcança-lo por conta própria.
Porém os europeus estavam encontrando maravilhas supreendentes, e o mais desconcertante para o discurso ideológico conveniente ao neo-colonialismo, é que algumas destas conquistas da arte, do engenho e da ciência "não branca", já haviam sido desenvolvidas quando caucasianos ainda viviam no barbarismo.
Civilização egípcia. Reino de Axum. Contando com uma poderosa frota naval dominou o mar vermelho até o século 7. Império de Benin. Prósperos devido a atividade comercial, avançados em metalurgia e engenharia naval foram dizimados pelos britânicos.Império de Gana.Império de Mali.
Reino de Cuxe. Se situava onde hoje é o atual Sudão e se estabeleceu por volta de 1.700 A.C. Dá pra notar que sua engenharia se equiparava à egípcia. Desenvolveram a escrita meroítica.
Império Songai.Considerando o fato do Homo Sapiens ter surgido há mais de 160 mil anos e a prevalência da cultura europeia ter seu início apenas nos últimos 500, o que é 1/6 do tempo que durou a civilização egípcia e menos ainda da chinesa, fica mesmo difícil explicar como durante a maior parte da História humana raças inferiores pareceram estar bastante à frente dos brancos.
Não é a toa que, com exceção da egípcia, nada se conheceu na Europa destas e de outras civilizações e suas maravilhas com que certamente estes exploradores se deparavam vez por outra. Nas enciclopédias do meu avô nada aprendi sobre elas, porém li muito sobre negrinhos nus que ainda viviam na idade da pedra. Se os exploradores europeus do século 19 eram motivados por uma curiosidade de conhecer este nosso mundo desvinculada de outros interesses, por que não descreviam descobertas tão relevantes como o Império de Benin e várias outras na Àsia e África?
Em vez disso Mr. Stanley escrevia:
"Há 40 milhões de pessoas nuas do outro lado das cataratas e as indústrias têxteis em Manchester estão à espera de os vestir... as fábricas de Birmingham estão a fulgurar com o metal vermelho que será transformado em objectos metálicos de todos os tipos e aspectos que os irão decorar... e os ministros de Cristo estão zelosos de trazer estas pobres almas para a fé cristã."
E este foi o homem contratado pelo Rei Leopoldo para organizar uma empresa de exploração do Congo que resultaria em um dos grandes genocídios da História.
Ah, mas o Stanley encontrou homens brancos lá no lago Vitória, um americano viu esquimós loiros e de olhos azuis... sei... De todas as partes do mundo vinham relatos de exploradores europeus descobrindo tribos de pessoas que se pareciam com eles mesmos, os "brancos" europeus. Então surge a "hipótese Hamítica", que o próprio palestrante nos ensina que foi
MUITO POPULAR durante todo o século 19 (por que será?), como que querendo sugerir que levas de homens brancos teriam se espalhado pelo mundo em um passado longínquo.
E claro, isso poderia explicar porque se encontrava sinais de avanços impressionantes fora da Europa: talvez essas tribos brancas tivessem ensinado tudo aos primitivos. Só não explicaria como os europeus poderiam ter passado conhecimentos que muitas vezes eles ainda nem possuíam.
Mas vejam que interessante...
Já havia fotografia na época das expedições do Stanley e a imagem abaixo prova que ele levou um equipamento fotográfico à África.
A foto é de 1872, mesma época em que ele teria encontrado um povo grego perdido bem no coração da África subsaariana. Mas engraçado... apesar do homem ter ficado compreensivelmente impactado por essa surpreendente descoberta, ninguém na expedição se lembrou de fazer um registro fotográfico destes africanos brancos!
Além disso Henry Morton Stanley ( que dizia em suas palestras ser "necessário despejar a civilização europeia no barbarismo africano" ) era jornalista e levava ilustradores em suas expedições. Mas há alguma gravura desses homens brancos?
Assim como ninguém fotografou os esquimós loiros, e como não deve haver uma só fotografia destes tais "povos hamíticos" que os exploradores subsidiados por interesses coloniais diziam estar encontrando por todo o mundo! Porque creio que se tais imagens houvesse, o palestrante em suas pesquisas teria encontrado alguma.
Ironicamente o cara aí do vídeo é o verdadeiro Mister Magoo e não enxerga o óbvio a um palmo do nariz. Pensa que o inglês ficou com tanta saudade de casa que olhou pro Idi Amin Dada e viu alguém como a Gisele Bundchen na frente dele. É patético!
E o sem noção ainda escala uma montanha pra ver se acha algum negão que possa ser confundido com um Davi de Michelangelo.
Bom, eu prefiro usar a navalha de Occam e presumir que essa gente estava apenas mentindo e por motivos bastante óbvios.