Há um tempo, não muito distante, a palavra “consciência” não era bem vinda aos artigos científicos. Essa atitude, ladeada em um espírito cauteloso sobre o qual paira a ciência, soava meio que como um tabu ou preconceito no emprego da palavra. Mas, afinal, o que é a consciência? Do ponto de vista biológico, a palavra consciência nos remete a capacidade de perceber e reagir a estímulos ou eventos externos.
No que tange a indivíduos acometidos por graves lesões, como poderíamos mensurar o seu nível de consciência? Em 1974 foi criada a primeira versão de um instrumento usado para definir o “Índice de Coma”, que posteriormente transformou-se na escala de coma de Glasgow, à medida que os estatísticos refinaram o sistema de pontuação, escolhendo o número 1 como a pontuação mínima e, depois, uma escala ordinal foi aplicada para observar tendências. Inicialmente, a escala de coma de Glasgow foi desenvolvida para ser utilizada como um instrumento de pesquisa para estudar o nível de consciência de pacientes com trauma craniano grave e, objetivamente, mensurar a função em pacientes comatosos [1].
Como ela funciona? A escala compreende três testes: respostas de abertura ocular, fala e capacidade motora. Os três valores separadamente, assim como sua soma, são considerados, conforme pode ser visto na Tabela 1 [2].

Tabela 1: Escala Glasgow, seus valores e semânticas respectivas.
E a interpretação do resultado obtido em um exame, com uma pontuação total que varia de 3 a 15:
- 3 – Coma profundo (85% de probabilidade de morte; estado vegetativo);
- 4 – Coma profundo;
- 7 – Coma intermediário;
- 11 – Coma superficial;
- 15 – Normalidade.
A legislação brasileira nos indica que uma pessoa que esteja em estado comatoso com índice 3 na escala de Glasgow o qual foi determinado por exames decorridos durante as últimas 24 horas está morto, pois o mesmo apresenta interrupção e irreversibilidade das funções encefálicas (comprometimento irreversível do SNC) seguida de incapacidade de manter espontaneamente a homeostase [3].
Então um indivíduo que não apresenta resposta motora, que esteja emudecido e incapaz de realizar espontaneamente uma ação motora tem morte encefálica, certo? Errado. Estudos recentes realizados por diferentes centros de pesquisa verificaram que pacientes que parecem estar em estado vegetativo estão, na verdade, conscientes.
Martin Monti, em seu artigo publicado no New England Journal of Medicine, descreve como pacientes em estado vegetativos conseguem estabelecer comunicação e são capazes de responder “sim” ou “não” às perguntas dos estudiosos. Os médicos da universidade de Cambridge, na Inglaterra, e de Liège, na Bélgica, pediram ao paciente que imaginasse atividades motoras, como jogar tênis, para responder “sim” e, imagens espaciais, como ruas, para indicar “não” [4,5].
Os especialistas sabiam que cada tipo de pensamento ativaria uma área diferente de seu cérebro. Portanto, por meio de uma técnica de Imagem por Ressonância Magnética Funcional (IMRI), que monitora a atividade cerebral do paciente em tempo real, eles puderam identificar suas respostas (Imagem 1).

O paciente respondeu corretamente a cinco de seis perguntas sobre sua vida pessoal (Imagem 2). Ele confirmou, por exemplo, que seu pai se chamava Alexander. No total, o grupo trabalhou com 54 pacientes que sofrem de desordem de consciência, dos quais 23 estão em estado vegetativo. Eles também usaram a técnica com voluntários saudáveis, para efeito de comparação.

A pesquisa concluiu que dos 54 pacientes envolvidos, cinco foram capazes de voluntariamente alterar sua atividade cerebral. Tal estudo abre caminho para que pacientes possam tomar decisões quanto ao seu tratamento, seria possível perguntar se os pacientes sentem dor e então prescrever algum analgésico, e você poderia ir além, perguntando a eles sobre o seu estado emocional.
Então fica a pergunta aos leitores, é correto desativar os aparelhos para deixar um paciente em estado vegetativo morrer, já que ele pode ter algum grau de consciência e até capacidade de manifestar vontade própria?
Fonte:
http://braincomputerinterface.wordpress.com/ 